Tiago Baumfeld
Tiago Baumfeld
Ortopedista Especialista em Pé e Tornozelo. Doutor em Ortopedia pela UFMG.
PÉ & TORNOZELO

Mochilas pesadas, dores reais

Veja o que o retorno às aulas pode causar na coluna das crianças

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Com a chegada do segundo semestre e a volta às aulas, pais, professores e profissionais da saúde voltam a se deparar com um problema silencioso, mas cada vez mais comum: as dores nas costas e nos ombros em crianças e adolescentes causadas pelo peso excessivo das mochilas escolares. Um tema que parece simples — e até trivial — esconde um impacto significativo na saúde musculoesquelética em plena fase de crescimento.

Dores nas costas não são exclusividade de adultos. Diversos estudos demonstram que crianças em idade escolar estão cada vez mais expostas a fatores de risco para desenvolver dores musculoesqueléticas — e, em muitos casos, essas dores não são passageiras. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) aponta que cerca de 40% das crianças entre 10 e 15 anos já relataram algum episódio de dor nas costas associado ao uso da mochila.

O que poderia parecer uma queixa passageira ou um exagero típico da infância, na verdade, pode se tornar um fator de risco para alterações posturais duradouras, desenvolvimento de escolioses, contraturas musculares e até comprometimento da rotina esportiva.

Quanto peso é demais?

A Organização Mundial da Saúde e entidades ortopédicas recomendam que o peso da mochila escolar não ultrapasse 10% do peso corporal da criança. Em outras palavras, um aluno de 30kg não deveria carregar mais do que 3kg em sua mochila. Parece pouco? Pois essa meta é constantemente ultrapassada — às vezes, dobrada ou até triplicada — sem que pais ou escolas se deem conta.

Livros didáticos pesados, cadernos volumosos, estojo completo, lancheira, garrafinha de água e até materiais de uso pessoal compõem o arsenal que os pequenos carregam diariamente. E, na maioria das vezes, em mochilas inadequadas, sem ajuste lombar, sem apoio de cintura e com alças mal posicionadas.

O que a ciência já mostrou

Pesquisas internacionais confirmam que o uso prolongado de mochilas pesadas leva ao aumento da pressão nos discos intervertebrais, sobrecarga muscular e alteração do padrão de marcha. Além disso, há estudos que correlacionam o uso excessivo de mochilas com dores de cabeça tensionais, queda no rendimento escolar e aumento do absenteísmo por dor.

Postura inadequada é outro agravante

Mais do que o peso, a forma como a mochila é usada também interfere na biomecânica da criança. É comum ver mochilas penduradas em apenas um ombro, ou muito abaixo da linha da cintura. Essa distribuição desigual do peso força a inclinação do tronco para o lado oposto, podendo causar desequilíbrios musculares e até desvios posturais.

Outro fator é o tempo em que a criança permanece carregando esse peso. Alunos que pegam transporte público ou caminham longas distâncias entre casa e escola passam 20, 30, às vezes 40 minutos com a mochila nas costas — diariamente, duas vezes ao dia. O resultado acumulado é uma carga crônica sobre uma estrutura ainda em formação.

As mochilas de rodinhas são a solução?

Não necessariamente. Apesar de parecerem mais seguras por evitarem o peso nas costas, mochilas de rodinhas exigem que a criança puxe o objeto, o que também pode gerar desequilíbrio postural, especialmente quando usadas com uma das mãos apenas. Em pisos irregulares, escadas ou calçadas, o esforço exigido pode ser até maior.

O ideal, segundo especialistas, é que mochilas de rodinhas tenham alça ajustável à altura da criança, rodas estáveis e que sejam usadas alternando os lados com frequência. Ainda assim, elas não substituem a necessidade de reduzir o peso transportado.

O papel das escolas e dos pais

A responsabilidade por evitar essas sobrecargas é compartilhada entre pais, escolas e profissionais de saúde. Algumas ações simples podem ter grande impacto na prevenção de dores e desvios posturais:

• Planejamento do material diário

• Uso de armários escolares

• Mochilas anatômicas e ajustadas

• Monitoramento do peso

• Revisão postural periódica

Atividade física como aliada da prevenção

Outro ponto fundamental é o estímulo à prática regular de atividade física. Crianças com maior tônus muscular, estabilidade lombar e boa consciência corporal estão mais protegidas contra os efeitos do excesso de peso. Exercícios como natação, pilates infantil, dança e artes marciais favorecem o fortalecimento da musculatura postural e podem até corrigir padrões inadequados.

A falta de movimento, tão comum em tempos de telas e sedentarismo, agrava o problema. Uma criança que passa horas no celular, tablet ou videogame tende a ter menor preparo físico para sustentar cargas, mesmo pequenas.

Sinais de alerta: quando buscar ajuda

Nem toda dor nas costas é grave, mas quando ela se torna persistente, limita a atividade física, aparece acompanhada de dormência ou irradiação, ou vem associada a mudanças posturais visíveis, deve ser investigada por um especialista.

Outros sinais que exigem atenção:

• Queixas recorrentes ao final do dia letivo.

• Evitação de carregar a mochila ou pedir ajuda frequentemente.

• Perda de interesse em atividades esportivas por desconforto.

• Ombros assimétricos, escápula saliente ou desnível no quadril.

Quanto antes o problema for detectado, mais fácil e rápido será o tratamento — muitas vezes com fisioterapia, ajustes posturais e, em casos mais avançados, uso de órteses ou acompanhamento ortopédico regular.

Quer mais dicas sobre esse assunto? Acesse: www.tiagobaumfeld.com.br ou siga @tiagobaumfeld

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As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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