
Crescimento e atividade física: como orientar crianças e adolescentes
Qual é o papel da ortopedia, da fisioterapia e da educação física nessa fase da vida?
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As férias escolares de julho chegaram ao fim, e, com isso, muitos pais, professores e treinadores voltam a se preocupar com a rotina de atividade física de crianças e adolescentes. Para os mais ativos, esse retorno costuma vir acompanhado de treinos, campeonatos escolares, testes físicos e recomeço de academias ou aulas esportivas. Mas junto com o retorno ao esporte, outro fenômeno muito comum ganha destaque nessa faixa etária: as dores relacionadas ao crescimento.
É bastante comum ouvir queixas de dores nas pernas, nos joelhos ou nos calcanhares em crianças que estão voltando à atividade física. Mas o quanto dessas dores é esperado? Existe algo como “dor do crescimento”? Até que ponto devemos incentivar o retorno à atividade ou parar tudo para investigar? E qual é o papel da ortopedia, da fisioterapia e da educação física nessa fase da vida?
A resposta envolve conhecimento técnico, escuta atenta e orientação adequada. Afinal, entre os 8 e os 16 anos, o corpo passa por uma verdadeira revolução biomecânica. Saber identificar o que é adaptação natural e o que é sinal de alerta faz toda a diferença na saúde musculoesquelética de jovens esportistas.
A fase de crescimento e suas implicações ortopédicas
Durante a infância e, principalmente, na puberdade, o corpo passa por períodos de crescimento acelerado, em que a estatura, a massa corporal e o desenvolvimento muscular se transformam rapidamente. Esse crescimento nem sempre é harmônico: em muitos casos, os ossos crescem antes dos músculos e tendões conseguirem se adaptar, gerando tensões e sobrecargas em regiões específicas do corpo.
Esse descompasso pode gerar:
• Dor muscular difusa, especialmente nas pernas
• Tensão em tendões e inserções musculares, levando a quadros como apofisites
• Diminuição da flexibilidade e da coordenação motora temporária
• Aumento do risco de lesões esportivas, como entorses e distensões
Além disso, o sistema musculoesquelético ainda está em desenvolvimento, com placas de crescimento ativas que são mais sensíveis a impactos e tração excessiva.
“Dores de crescimento” existem?
O termo popular “dor de crescimento” é muito usado pelos pais — e às vezes até banalizado. Mas ele tem sim respaldo clínico. Trata-se de uma queixa frequente, principalmente entre os 4 e 12 anos,
caracterizada por dor muscular ou óssea, especialmente nas pernas, que aparece no fim do dia ou à noite, sem sinais inflamatórios locais e que costuma passar sozinha.
Essas dores são autolimitadas, sem relação com trauma, e geralmente não impedem a criança de brincar, correr ou praticar esportes no dia seguinte. A origem exata ainda é pouco compreendida, mas se acredita que esteja relacionada a sobrecargas transitórias em tecidos em desenvolvimento.
Lesões por sobrecarga mais comuns na infância e adolescência
Com a entrada precoce de crianças e adolescentes em rotinas esportivas intensas, aumentaram significativamente os casos de lesões por uso excessivo em estruturas imaturas. Algumas das mais frequentes incluem:
• Doença de Osgood-Schlatter
Inflamação da tuberosidade anterior da tíbia, comum em adolescentes que praticam esportes com saltos e corrida. Causa dor na parte frontal do joelho, principalmente durante a atividade física.
• Apofisite do calcâneo (Doença de Sever)
Inflamação no ponto de inserção do tendão de Aquiles no osso do calcanhar. Muito comum em meninos entre 8 e 12 anos que praticam corrida, futebol ou basquete. A dor aumenta com o esforço e melhora com repouso.
• Tendinites de joelho e quadril
Decorrentes de desequilíbrios musculares durante o estirão do crescimento. São frequentemente confundidas com “dores normais”.
• Fraturas por estresse
Embora mais raras, podem ocorrer em adolescentes submetidos a treinamentos extenuantes, especialmente sem orientação técnica ou sem intervalo de recuperação.
Essas condições, se bem diagnosticadas e tratadas precocemente, têm excelente prognóstico. Mas, se ignoradas, podem evoluir com dor crônica, afastamento prolongado do esporte e até deformidades.
Como orientar o retorno à atividade física no fim das férias?
As férias escolares geralmente significam redução da atividade física organizada, mudanças no sono, na alimentação e no uso de telas. Com o retorno às aulas e aos treinos, é fundamental fazer essa reintrodução com cautela. Aqui estão algumas diretrizes práticas:
1. Respeite o tempo de adaptação
2. Atenção aos sinais de dor persistente
3. Estimule o fortalecimento muscular
4. Trabalhe mobilidade e alongamento
5. Garanta bom sono e alimentação adequada
6. Evite a especialização esportiva precoce
Quando procurar ajuda especializada?
A dor em crianças e adolescentes nunca deve ser banalizada. Procure um ortopedista pediátrico ou fisioterapeuta se houver:
• Dor localizada que dura mais de uma semana
• Inchaço, vermelhidão ou calor em articulações
• Dificuldade para caminhar, correr ou subir escadas
• Claudicação (mancar)
• Dor noturna intensa
• Queda de rendimento sem motivo aparente
O diagnóstico precoce e o manejo adequado evitam complicações e permitem que o jovem volte com segurança às suas atividades preferidas.
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