
Impacto do frio nas lesões ortopédicas
O uso de roupas térmicas ou com várias camadas ajuda a manter o calor corporal durante a atividade física e nas tarefas diárias
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Julho é o ápice do inverno em muitas regiões do Brasil. Apesar de o país não registrar temperaturas negativas com frequência em sua maior parte, o frio é suficiente para alterar a rotina, o comportamento físico e, sobretudo, a forma como nosso corpo responde aos movimentos e às cargas do dia a dia. Não por acaso, consultórios ortopédicos e clínicas de fisioterapia frequentemente observam aumento da demanda nessa época do ano — seja por recrudescimento de dores crônicas, seja por traumas agudos, especialmente em idosos.
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Mas o que de fato acontece com nosso sistema musculoesquelético no frio? Por que sentimos mais dor? E o que pode ser feito para prevenir lesões ortopédicas durante o inverno? A resposta envolve uma complexa interação entre fisiologia, biomecânica, comportamento e até mesmo aspectos emocionais. Entender essa relação é o primeiro passo para manter a saúde articular e muscular ao longo da estação mais fria do ano.
O frio e o sistema musculoesquelético
O frio provoca uma série de alterações fisiológicas no nosso corpo. Uma das primeiras é a vasoconstrição periférica, um mecanismo natural de proteção do organismo. Para manter a temperatura interna do corpo (especialmente de órgãos nobres como cérebro, coração e fígado), o sistema nervoso autônomo reduz o fluxo de sangue para a periferia. Com isso, há diminuição da temperatura nos músculos, tendões e articulações.
Essa queda na temperatura leva à rigidez articular e muscular, diminuindo a elasticidade dos tecidos moles e comprometendo a eficiência da contração muscular. Tendões e ligamentos ficam menos flexíveis, e a musculatura demora mais a se aquecer e atingir seu desempenho ideal. Esse cenário favorece o aparecimento de dores e aumenta o risco de lesões, especialmente em movimentos bruscos ou mal executados.
Além disso, há uma redução na produção de líquido sinovial — o “lubrificante” natural das articulações — o que pode levar à sensação de rigidez e desconforto, principalmente em pessoas com doenças articulares pré-existentes, como artrose.
Como prevenir lesões ortopédicas no inverno
Felizmente, grande parte desses problemas pode ser evitada com medidas simples de prevenção. A seguir, algumas recomendações práticas:
1. Mantenha-se ativo
Mesmo nos dias frios, evite o sedentarismo. Alongamentos matinais, caminhadas leves dentro de casa ou em locais cobertos, treinos supervisionados e sessões de fisioterapia preventiva ajudam a manter a mobilidade, preservar massa muscular e evitar rigidez articular.
2. Aqueça-se antes de se exercitar
No inverno, o aquecimento deve ser mais longo e progressivo. Movimentos articulares leves, caminhada em ritmo crescente e alongamentos dinâmicos preparam os músculos e tendões para a atividade física e reduzem o risco de lesão.
3. Use roupas adequadas
O uso de roupas térmicas ou com várias camadas ajuda a manter o calor corporal durante a atividade física e nas tarefas diárias. O mesmo vale para os pés: meias e calçados fechados e firmes evitam quedas e protegem articulações sensíveis ao frio.
4. Cuide da hidratação
No frio, a sensação de sede diminui, mas a necessidade de hidratação continua. Músculos e articulações bem hidratados funcionam melhor e se recuperam mais rápido após o esforço físico.
5. Adapte o ambiente doméstico
Colocar fitas antiderrapantes em degraus, retirar tapetes soltos, garantir boa iluminação e instalar barras de apoio nos banheiros são medidas fundamentais para prevenir quedas, especialmente entre idosos.
6. Mantenha o acompanhamento médico e fisioterapêutico
Pacientes com dor crônica ou histórico de lesões devem manter o acompanhamento mesmo no inverno. Ajustes no plano terapêutico, sessões de fisioterapia, reavaliações posturais e reforço muscular preventivo fazem grande diferença.
7. Controle o peso
O frio pode levar a aumento no consumo calórico e diminuição da atividade física, favorecendo o ganho de peso. O sobrepeso agrava dores articulares, especialmente nos joelhos e quadris. Manter o peso sob controle reduz a carga sobre as articulações.
O frio não deve ser encarado como um inimigo, mas como uma condição que exige atenção e adaptação. Com planejamento, atividade física regular, cuidados posturais e acompanhamento profissional, é possível atravessar o inverno com menos dor, mais segurança e melhor qualidade de vida.
Se você tem dores articulares que pioram no frio, não espere que elas “passem com o calor”. Procure orientação de um ortopedista e de um fisioterapeuta. Às vezes, pequenas mudanças na rotina — como um alongamento matinal ou uma caminhada leve — podem fazer toda a diferença. Afinal, mesmo no inverno, o movimento continua sendo o melhor remédio.
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As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.