Sérgio Abranches
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OPINIÃO

O congresso disfuncional e a chantagem de Trump

Só se for um Congresso pusilânime para aprovar uma medida dessas com a espada estrangeira no pescoço

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O Congresso se mostrou novamente disfuncional para a sociedade ao aprovar o desmonte do sistema de proteção ambiental, em PL inconstitucional, e desvio de R$ 30 bilhões do fundo social para anistiar produtores rurais inadimplentes. Tudo no contexto da crise com os Estados Unidos, que ameaça a soberania nacional e é danosa à economia brasileira.

O desmonte é uma insensatez. Enfraquece o país no plano global e ameaça o futuro. O gasto é hipocrisia, aumenta gasto pouco depois de tentar anular o decreto do IOF alegando que desejava corte de despesas e não aumento de impostos.

O contexto não poderia ser pior. Donald Trump impôs sanções comerciais ao Brasil para forçar o Executivo a intervir no inquérito contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe, no Supremo Tribunal Federal. É intervenção política de nação estrangeira para subverter a ordem democrática do país, estimulada pelo ex-presidente e seu filho, deputado federal.

Trump é um imperialista no estilo dos anos 1950-1960. A sanção imposta ao Brasil como ameaça é chantagem de um governante autoritário que já demonstrou desprezo pela lei e pelo Judiciário de seu país. Uma chantagem política que fere o direito internacional, paralisa a diplomacia e rasga as normas de relacionamento entre chefes de governo e estado. Põe em alerta todo o mundo democrático.

Bolsonaro, pelo que disse em público, não é só o beneficiário da chantagem. Ele e o filho são agentes dela. Por isso diz que basta votar a anistia para as novas tarifas não serem aplicadas. Só se for um Congresso pusilânime para aprovar uma medida dessas com a espada estrangeira no pescoço.

Bolsonaro trata a sanção como dele também. Este lado familiar, em inteiro acordo com a mentalidade golpista, já está na pauta da Polícia Federal, do Ministério Público e do STF, pela prática de novos crimes.

Como já se sabe, Trump, na sua arrogância imperialista e supremacista, se considera todo-poderoso. Mas é apenas ignorante. Daí ele perguntar, condescendente, ao presidente da Libéria onde aprendeu inglês, língua oficial do país africano. Está cercado de ignorantes.

O secretário de Estado, Marco Rubio, chefe da diplomacia de Trump, não sabia dizer onde exatamente ficava o Irã, nem se era um país árabe ou persa, embora defendesse o ataque americano a Teerã. São perigosos, atiram sem saber exatamente em quem e sem conhecer o alvo. Do gabinete de Donald Trump não se deve esperar sensatez ou sabedoria.

 

O presidente Lula sabe que a atitude de Trump é abusiva mas, como chefe de estado, tem que avaliar os interesses do país sem, evidentemente, abrir mão da soberania posta em cheque pelo mandatário estrangeiro. Fez bem em convocar os empresários dos setores mais vulneráveis para discutir a estratégia.

Ao mesmo tempo, corretamente, regulamentou a lei de reciprocidade comercial, como última instância de preservação da independência nacional. É importante ter este recurso de última instância porque pode-se sempre esperar de Trump decisões destemperadas e erráticas. O presidente americano é um trator desgovernado desmantelando as relações do país com seus aliados e gerando riscos geopolíticos em série.

O governador de São Paulo, um dos estados mais vulneráveis à sanção, mostrou-se político neófito. Agiu como amador, mudou de rumo várias vezes, sempre guiado por raciocínios políticos primários. Desde quando vestiu o boné da campanha alheia, mostrou precário entendimento do papel de um político que deseja se projetar no plano nacional. O boné tem gravado o codinome do retorno ao mandonismo americano no mundo. Faltou-lhe visão e habilidade política para se comportar no tabuleiro geopolítico.

O despreparo aparece nos momentos de grande risco. Se a ação irracional de um governante poderoso atinge a soberania nacional, a economia brasileira e o comércio, é preciso noção estratégica, capacidade de articulação e senso político. Tarcísio agiu para desunir em momento de união.

O presidente Lula tem experiência internacional, sabia precisar de uma coalizão empresarial Brasil-Estados Unidos para tentar que Trump recue. Há muitas empresas nos EUA que dependem do comércio com o Brasil e muitas mais que serão prejudicadas se o Brasil, sem alternativa, recorrer à reciprocidade como recurso de última instância.

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Lula quer negociar relações comerciais, políticas, jamais. Há segmentos em que dá para baixar tarifas, tendo contrapartidas americanas em outros setores. É o caminho para não usar a reciprocidade como resposta.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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