
Quando o estrogonofe era chique
A gastronomia da época é um pouco esnobada hoje, mas defendo um revival
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Quem viveu a juventude dos anos 1970 se lembra dos cinemas de rua, o Metrópole, Guarani, Roxy, Royal, Jacques, Pathé, Art Palácio, Candelária, Regina, Amazonas e o Palladium (onde está hoje o Sesc Palladium, que herdou o nome).
Era a época sem rastreadores, celulares, influencers e internet. Ou víamos um filme no cinema ou, tendo sorte, talvez um dia, na TV aberta e dublado. E isso muito antes do videocassete.
Na TV, marcaram época seriados como “As Panteras”; “The Persuaders”, com Tony Curtis e Roger Moore; “O Homem de Seis Milhões de Dólares”; e “A Mulher Biônica”, que, na série, venceu o concurso de Miss Universo cantando “Feelings”, do brasileiro Morris Albert, um grande sucesso na época.
Havia coisas ótimas, como a música popular brasileira, os novos filmes de cineastas como Bergman, Bertolucci, Fellini, Antonioni e o ator Peter Sellers, brilhando como o inspetor Clouseau nos filmes da Pantera Cor-de-Rosa.
Era um mundo mais ingênuo, época em que era exibido um desenho animado de cinco minutos da Pantera Cor-de-Rosa antes do Jornal Nacional e os adultos assistiam.
O filme “O Exorcista” amedrontou a todos e o cinema catástrofe - uma das coisas mais estranhas que já existiram - era um grande sucesso com filmes como “O Destino de Poseidon”, “Aeroporto”, “Inferno na Torre” e “Terremoto”, estrelados por astros da época áurea de Hollywood, como Ava Gardner e Fred Astaire, que morriam afogados e despencando de edifícios em chamas.
O filme mais visto pelos jovens foi “Horizonte Perdido”. Acho que vi 32 vezes. O filme ficou mais de quatro anos em cartaz, sem sair de exibição. Todos sabíamos o filme de cor. Era um musical, mas o programa era ver o filme chupando um drops e depois lanchar no TEDs, calçando um Keds ou talvez tomar um sundae no Xodó, em BH.
Os cinemas tinham cortinas que abriam quando o filme ia começar. Dava uma dramaticidade ao evento. Havia o baleiro, que passava com uma variedade de balas numa bandeja pendurada no pescoço com um suspensório, e o lanterninha, aquele indivíduo que, numa sala escura, apontava literalmente a lanterna na nossa cara e nos dizia que estávamos sentando no lugar de outra pessoa, trauma difícil de superar pelo resto da vida.
Isso foi um pouco antes da onda disco, com “Saturday Night Fever”, e da revolução no cinema, com “Star Wars” e “Tubarão”.
Não quero aqui idealizar o passado, havia a Guerra Fria, o medo da guerra nuclear, a crise do petróleo, as constantes reconciliações e separações de Elizabeth Taylor e Richard Burton. Em linhas gerais, apesar de tudo, prefiro o que vivemos hoje.
“Horizonte Perdido” tinha toda a trilha sonora composta por Burt Bacharach. Simon e Garfunkel haviam feito a trilha para “A Primeira Noite de Um Homem”, na década anterior, e a juventude se dividia entre os que gostavam de Carpenters, Rita Lee, Elton John, Queen, Raul Seixas, MPB, Beatles, Heavy Metal e Rolling Stones.
Era o auge da cultura pop com a revolução estética trazida pela Fábrica de Andy Warhol, os trabalhos de Lichtenstein e Jasper Johns. Havia inclusive uma revista mensal dirigida ao público jovem, chamada Pop.
A gastronomia da época é um pouco esnobada hoje, mas defendo um revival: canapés, torta de pão de forma, o salpicão, camarão ao molho cocktail, rosbife servido em fatias, como um medalhão, a torta pavê e, no fim das festas com hora dançante, chegava sua majestade: o bombom de uva.
Mas o rei das festas mesmo era o estrogonofe de frango com champignons, arroz e batata-palha. Dava uma aura chique. Embora todo mundo fizesse, parecia sempre uma grande novidade. Continuo gostando bastante de tudo isso.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.