Regina Teixeira da Costa
Regina Teixeira Da Costa
EM DIA COM A PSICANÁLISE

O universo masculino

Mesmo que haja muitas leis que pretendam proteger as mulheres, isso não impede que elas sofram assédio sexual, nem impede o feminicídio

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No último domingo (9/11), li o artigo de Bebel Soares, no Caderno Bem Viver, neste mesmo jornal. Ele é o reflexo de uma sociedade em que o falo é o maior valor, porém, ao contrário, nem de longe é o melhor. Ela deixa clara essa ideia! No universo feminino cabem falhas, faltas, vazios que nos permitem espaços abertos para o desejo, maiores do que no masculino. Nesse se responde aos ideais sociais de um outro absoluto que impõe pesos insuportáveis e violentos.

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Sem sombra de dúvidas, “No país dos homens”, título do artigo, enumera, faz quase um mantra, de situações que conhecemos e sofremos. E não só as mulheres sofrem, acredito que os homens também! Eles sustentam essa posição viril como resposta ao que se espera de um homem! E responder a isso é identificar-se com os ideais do homem que não pode fracassar, o imbroxável. Que peso na bagagem!


Para quem nunca pode falhar em atender a essa exigência enorme, a pressão é estressante e pode gerar explosões, ações intempestivas, violência. Mas nada justifica a gravidade do problema do machismo e suas consequências.


O artigo traz uma triste verdade: no mundo masculino, mesmo que haja muitas leis que favoreçam e pretendam proteger as mulheres, isso não impede que elas sofram assédio sexual, nem impede o feminicídio, ainda que sob medidas protetivas.


No Brasil, 144 meninas são estupradas por dia. Caso engravidem, são impedidas de fazer aborto, embora tenham 9, 10, 11 anos. As operações policiais lideradas por homens, matam homens, numa briga entre homens supostamente da lei contra homens supostamente do tráfico, como na recente chacina no Rio.


No país dos homens, quem tem dinheiro é rei, na política dos homens tudo o que importa é o poder. Conclusão: “No país dos homens, ninguém me ouve. Mesmo quando grito”.


Além disso, o Brasil é o país que mais se mata gays e trans; recentemente, três homens assassinaram uma trans em plena Savassi. O impulso assassino contra homossexuais e trans mostra que eles representam uma ameaça para esses agressores.


Uma cota de bissexualidade é natural aos seres falantes, não pode ser banida da subjetividade, nem que se matem todos os homossexuais do mundo. Esses homens, foram ameaçados em seu valor fálico pela existência de um homem não todo fálico? Ele abalou suas certezas a tal ponto?


De fato, o machismo é um dos desvalores de nossa sociedade. Sacrifica mulheres e homens. O que um homem precisa sustentar para se afirmar macho? Esse peso é terrível. Ele é escravo do falo, que o representa, e deve estar sempre pronto para provar-se viril.


A virilidade é uma escravidão que aprisiona os homens numa cegueira acrítica diante de um ideal absoluto. Na verdade, toda análise que sustente esse nome deve levar a um desejo singular e único. E quando falamos desejo dizemos de uma falta. Diz o mito que ele é fruto do casamento entre a penúria e a riqueza. Uma pedia esmolas na entrada de uma festa e se aproveitou da riqueza, que tomou umas a mais... nove meses depois, nasceu Eros!


A direção de todo tratamento analítico é despojar o sujeito de sua carga pesada, atravessando a virilidade, aproximando-se da possibilidade de não se obrigar a tais onipotências viris, que custam caro, para si e para toda a sociedade. A pesada obrigação de sustentar-se macho, com demonstrações de poder, ignorância e preconceitos.


No universo feminino, cabem homens e mulheres, pois cada um de nós tem em si o feminino e o masculino. O ser vivente, e falante, transita no campo do desejo, mas pode preteri-lo, submetendo-se aos “ideais” da cultura, e precisa, então, provar macheza. Não é fácil ser mulher, tampouco homem. Agradeço a Bebel Soares por levantar essa bola!

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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