Envelhecer tem seu custo, mas sofre dobrado quem se centra no fim
Aproveitemos cada segundo. Se tornar idoso não é adoecer. Pode ser celebrar a vida vivida. E partir, se não satisfeitos, conformados
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Nosso mundo envelhece a cada dia. A população de idosos aumenta nas estatísticas. Hoje, nascemos menos e morremos mais... Por isso, achei muito interessante a mensagem que recebi de um amigo. Fala sobre o envelhecimento e suas consequências. Muito esclarecedor e humano, porque nos faz entender que envelhecer tem consequências psíquicas que devemos considerar. E não é doença.
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Primeiro, se estamos vivos, ainda somos agraciados, nem todos envelhecem. Muitas vidas são ceifadas precocemente, deixando tristeza, luto para os que permanecem e, algumas vezes, um inconformismo. Essa é a pior das reações diante da nossa finitude, porque a única certeza que temos na vida é que ela nos foi dada e tem prazo de validade. Quem não aceita isso, sofre mais e está sujeito à melancolia. É preciso, apesar de não ser fácil nem simples, aceitar nossa condição de mortais. Ver a morte como inaceitável é brigar com a vida como ela é.
Envelhecer tem seu custo. Tem seu luto. Requer cuidados e, especialmente, carinho com o que vivemos e gratidão por esse corpo que nos sustentou e dá sinais de se preparar para o futuro, alguns com mais consequências que outros.
São perdas consecutivas que precisamos considerar sinais do vivido. Quando nascemos, somos marcados no corpo, pelos sons da voz de nossas mães, sons que são experiências afetivas sonoras que nos humanizaram. Com o tempo, as marcas da vida vão se tornando exteriorizadas no corpo. São o desgaste do tempo, e dos ganhos e perdas; não são inimigas, são fatos do corpo. Não é um adoecimento. É o fato do que se viveu.
Experimentar envelhecer com um adoecimento a ser superado é um desvio que não corresponde à realidade. Temer a morte, sim, claro, pois é deixar de existir, uma grande angústia, para uns, maior que para outros. Inegável dizer que é difícil abrir mão de tudo que somos e temos.
Mas consideremos que estamos vivos e vamos nos cuidando e nos preparando para perdas as quais não teremos total controle. Podemos tornar mais leve nosso percurso e pelo menos tentar alcançar certa sabedoria, colocando isso num lugar melhor. Adquirimos experiência, já perdemos muitos e muitas dores sofremos por isso – e vamos chegando na linha de frente!
Sorte nossa? Sim! Ainda estamos aqui! Mas, igualmente, teremos trabalho e precisamos de paciência para administrar o futuro vindo com o sentimento de que é cada vez mais acelerado.
Para alguns, o futuro dura muito tempo, como escreveu o filósofo e matemático Louis Althusser, que, em um surto psicótico, assassinou sua esposa amada e, quando se deu conta, teve horror do seu ato. Desejou a condenação perpétua, porém, por tratar-se de doença mental, foi considerado inimputável e a pena foi de 2 anos em internação em instituição judiciária para doentes mentais.
Althusser passou o resto da vida tentando explicar, não conseguiu, mas o livro “O futuro dura muito tempo” demonstra que sua vida, até o fim, foi de inconformismo. Mas ele viveu uma tragédia lamentável.
Dizem que não devemos nos deter na morte do bezerro... melhor cuidar dos sinais do tempo no corpo, enquanto ainda presentes, e não nos concentrarmos no inevitável. Desfrutar a vida, os bons momentos, viver os afetos. Buscar uma vida mais leve, evitando antecipar sofrimentos imaginários.
Pelo menos, tentar encarar com naturalidade nossa passagem pela carne, melhor, se satisfeitos pelo vivido. E pode ser melhor quando nos orgulhamos de nossas construções e realizações. Deixemos no mundo nossa marca pessoal e saudades.
Sofre dobrado quem se centra no fim. Aproveitemos cada segundo. Envelhecer não é adoecer. Pode ser celebrar a vida vivida. E partir, se não satisfeitos, conformados.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
