Regina Teixeira da Costa
Regina Teixeira Da Costa
EM DIA COM A PSICANÁLISE

Parabéns aos pais simbólicos

Saúdo quem exerce a função paterna, sejam mães, tios, avós ou cuidadores e professores, pois vem deles a educação civilizada e ética do bem-viver

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Depois do Dia dos Pais, tão comemorado, peço licença para continuar no assunto, pois acredito ser de extrema importância. Devemos comemorar não apenas a pessoa, o pai biológico. Mas estender a homenagem às pessoas que fazem a função do pai quando ele não pode, não quis assumir ou não funciona como autoridade: os pais simbólicos.

São aqueles que contribuíram de alguma maneira para a educação nos quesitos importantes que a gente vive trazendo aqui. Na instauração da lei simbólica da castração como limite inegociável.

Na educação, é preciso frustrar a criança em muitas de suas vontades pulsionais ainda sem organização – por exemplo, a agressividade, a incapacidade de lidar com a frustração, reagindo, para o tormento dos pais, fazendo birra. Quanto mais fracos os pais, percebendo isso, as crianças mais manipulam para constrangê-los.

Elas não são anjinhos, são inteligentes e caprichosas. Algumas têm questões mais sérias que precisam ser observadas e tratadas, mas, na maioria dos casos, é mesmo porque o excesso de amor nos deixa penalizados ao dizer não e cortar o barato das crianças. Mas garanto para vocês que é imprescindível fazer isso. Colocar limite não é falta de amor. Ao contrário, falta de amor é deixar as crianças crescerem sem poda, igual a mato selvagem.

Nós, humanos, precisamos de cortes frequentes na vontade de gozo. Nos excedemos verdadeiramente, em alguns casos causando prejuízos permanentes, como vemos diariamente nos jornais. E não apenas nos sensacionalistas, mas em todos.

Homens agredindo mulheres, políticos corruptos tirando proveito de sua posição, mentirosos das redes sociais. Todo tipo de gente sem noção. Os cortes instauram a noção de ética. Sem noção, porque faltou função paterna. Isso não quer dizer que não tiveram pai. Pode ser que o pai não cumpriu sua missão, a função de corte, de impor limites.

Os que não tiveram um pai, ainda assim, podem receber tal cuidado da mãe, avós, de cuidadores que exerceram a função paterna, ou seja, educaram na aceitação de contenções necessárias à convivência de maneira respeitosa e equilibrada.

Somente será assim se alguém se prestou a nos ensinar regras e limites. Podando, cortando as asinhas, deixando doer nelas, e em nós, que tanto as amamos.

Amor demais é prejudicial à saúde, como todo excesso. Difícil falar isso sem ser apontado como duro e sem coração. Só que não. O homem tem uma dureza, tende a agir somente como quer, segundo sua vontade. Se tiver chance, ou não for esclarecido e educado, vai permanecer fazendo o que quer, nunca pensando que seu limite é até onde começa o espaço do outro, porque o outro existe.

Por isso, hoje dou parabéns aos que exerceram a função paterna, sejam mães, tios, avós ou cuidadores e professores, porque vem deles a educação civilizada e ética do bem-viver.

Orientar com palavras de autoridade respeitada pela criança, substituindo o antigo “coro”, é muito mais eficiente. Tive um tio que dizia que “criança, cachorro e tamanco é debaixo do banco”. Já se foi esse tempo em que as crianças não podiam incomodar os adultos.

Antes, era radical. Agora é também, só que ao avesso. A criança é a majestade do lar, tudo gira em torno dela. Nenhuma das duas posições é boa.

A função paterna na contemporaneidade sofre declínio pela queda das tradições e a liberalidade cada vez maior nos modelos de vida atuais. Isso tem consequências, no que se refere à interiorização da lei e sua universalização para além da família, no social. Uma espécie de referência simbólica enfraquecida ou nula, que dá lugar a sintomas que vêm denunciar um pai enfraquecido, um pedido de socorro em busca de solução.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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