

Fernanda Torres: Globo de Ouro nos leva a dizer 'tá no sangue'
Freud dizia que seria impossível determinar o limite exato entre a herança genética e a identificação psíquica. Atriz dedicou prêmio à mãe, Fernanda Montenegro
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É muito bom ter motivos para se orgulhar e vibrar com as bonitas vitórias de brasileiros pelo mundo, todos compartilhamos essas vitórias como nossas. Na semana passada, tivemos a felicidade geral da nação conquistada pelo desempenho sensacional de Fernanda Torres representando Eunice, viúva de Rubens Paiva, no filme “Ainda estou aqui”, de Walter Salles.
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Rubens Paiva foi assassinado de forma covarde e inaceitável por extremistas da ditadura militar, a que fomos subjugados de 1964 a 1985 no Brasil. O filme recupera essa história triste e devastadora de uma família, e várias outras, que passaram pelo mesmo terror dos podres poderes de nossa política. Uma mancha de sangue que jamais se apagará porque marcou o sofrimento de muitos.
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Não podemos admitir assassinatos, torturas, perseguições e aniquilamento de organizações da classe trabalhadora, nem permitir que sejam condecorados e relembrados nomes dos representantes daquele tempo, e de nenhum outro, como bons homens. Porque não foram. Nunca serão.
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Nenhum homem considerado bom teria a audácia e o desrespeito de calar o outro pela violência. Não nos enganemos sobre o que se passou. O filme tem a potência de registrar e insistir na verdade da nossa história para que nunca se repita. Para que nunca soframos golpes que ferem a nossa já tão precária democracia. Digo precária porque o sistema atual da política brasileira também não nos representa.
Corre em paralelo ao desejo de transparência, o anseio do povo, orgulho de seus políticos, o desejo de homens idealistas que de fato queiram o bem comum acima do seu próprio, porque são minoria. Os grandes grupos capitalistas que têm expressiva vantagem de votos, na Câmara e no Senado, não representam o povo, seja ecológica, social e humanitariamente.
Volto ao prêmio que causou fortes emoções aos brasileiros por representar o desejo de justiça. Para que não esqueçamos nossa história, o que é um regime totalitário e o perigo de uma extrema direita que atualmente ameaça o mundo com seu avanço assombroso.
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Freud dizia que nunca seria possível determinar o limite exato entre a herança genética e a identificação psíquica. Fernanda certamente somou os dois fatores. Genética e identificação somados são poderes imbatíveis.
No prêmio recebido pela espetacular Fernanda Torres – Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama –, e concorrendo com outras excelentes atrizes, a primeira coisa que nos ocorre é que “tá no sangue”! Foi muita emoção, nossa, dela, da mãe, do parceiro Selton Mello e do diretor sensacional que é Walter Salles!
Surpreendeu até mesmo as concorrentes, surpresa bem-vinda que dedicou merecidamente à sua mãe Fernanda Montenegro, exemplo de vida e profissionalismo – e que há 26 anos foi também indicada pelo filme “Central do Brasil”, outra pérola de Walter Salles, ganhador do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro.
Esse prêmio é dedicado também a Eunice, tão bem representada naquela personagem firme, forte, silenciosa e valente, que rompeu na vida, apesar da dor da perda, com cinco filhos, e se refez de maneira brilhante.
A onda de emoção tomou conta dos brasileiros. Estamos mesmo precisando de motivos para celebrar e nos orgulharmos do nosso país. O filme representa não apenas a valorização e reconhecimento do cinema nacional, mas também o desejo de democracia, o valor de tantas mulheres, guerreiras, que se levantam de manhã e lutam a luta justa por seus filhos, pelo seu país e, afinal, depois de tudo, podem dizer: ainda estamos aqui!!!