Paulo Delgado
Paulo Delgado
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O submundo global da tecnologia

É necessário incentivar o inconformismo daqueles que percebem que a sociedade está se adaptando aos costumes de quem não respeita a vida em sociedade

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Aumenta, no mundo, a força e a ousadia dos “cretinos digitais”. O deslumbramento mundial com a tecnologia logo se tornará um desespero nacional, estatal, empresarial, familiar e emocional. A dança sem lei dos algoritmos está moldando a personalidade humana e as doenças modernas.

Reclamar e tentar evitar sua companhia abusiva já é a obra-prima dos “fora de moda”. Os que priorizam a comunidade, a lealdade, a discrição, a justiça e os valores serão expulsos das instituições e da vida cotidiana pelos maximizadores de influência, velocidade, ambição, lucro e poder.

Um bom estudo sobre o submundo global da tecnologia já existe desde a década passada, esmiuçado por dois livros do jornalista britânico Misha Glenny, publicados com os títulos McMafia (2008) e DarkMarket (2011). Alertas que pouco interessaram aos governos até que começaram a prejudicar a economia, como ocorreu recentemente com o grande ataque cibernético que afetou três famosas redes varejistas de comercio da Inglaterra: a Harrods, o Marks and Spencer, e o Co-op.

O crime e a espionagem cibernéticos invadiram todas as áreas e suplantaram o crime organizado tradicional. A capacidade revolucionária de destruição criativa da inteligência artificial está prestes a atingir um ponto crítico, ameaçando as pessoas e as instituições democráticas.

O uso excessivo e deslumbrado de plataformas de comunicação excede os padrões de respeitabilidade que já se exigiam da função comunicativa em outros tempos. É outro mundo, outra espécie desconfortável de entendimento sobre o que é poder, autoridade e responsabilidade. Muita desatenção às verdadeiras carências da vida de hoje e do amanhã.

Não parece nada, mas aceitar placidamente que plataformas de comunicação saibam de antemão quase tudo sobre as decisões oficiais ou privadas que afetam a sorte dos cidadãos — por deixar rastros que são copiados por nuvens e sombras por onde passa — não deveria ser considerado normal. Especialmente porque, ainda que muitos não se preocupem com o poder oculto a que se submetem, deveriam ao menos se afligir com a possibilidade de poderem perder tudo de uma hora para outra por fraudes, golpes e crimes digitais.


 

Dias atrás, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), equivalente ao SUS brasileiro, tornou público que um ataque de ransomware — que é um tipo de software malicioso usado para extorsão — interrompeu testes de sangue em vários hospitais de Londres, contribuindo para a morte de pelo menos um paciente.

Para o manipulador da internet tornou-se um bom negócio usar a rede para prejudicar alguém e não respeitar seus direitos. O pacato cidadão com seu celular, comerciantes, industriais e bancos são os alvos preferenciais de ataques, crimes e fraudes cibernéticas.

É difícil viver contra a opinião do mundo, insistir em ter pensamento próprio, num contexto em que imitar, copiar e seguir os outros passou a dominar o universo das redes sociais que são apenas a ponta do iceberg da encrenca representada pelas atuais redes de comunicação. Como instrumento sem prudência e sustentado por falsa autoconfiança, a internet não estimula ninguém a nadar contra a corrente.

É necessário incentivar o inconformismo daqueles que percebem que a sociedade está se adaptando aos costumes de quem não respeita a vida em sociedade. O crime — e os maus hábitos que ele dissemina — tornou-se um grande negócio, que tem dizimado a natureza comunitária das cidades, fechado lojas, entupido ruas de câmeras de segurança e espalhado uma falsa ideia de segurança e êxito da vida eletrônica.

Palavras-crime, golpe online, código de resgate para sequestro de dados; a podridão das plataformas digitais. O uso malicioso da internet ameaça destruí-la, provocando seu rápido declínio por meio da deterioração progressiva da qualidade e da confiabilidade das relações e dos serviços comerciais online.

Mercados monopolistas, desprezo pela opinião dos usuários, abuso de anúncios intrusivos, silenciamento de críticos não-extremistas, celebração do engajamento idiota, incentivo ao uso delinquente de dados pessoais — tudo isso acelera a corrosão de uma tecnologia que deveria servir à coletividade.

Um novo desafio humano se agrava a cada dia, sem horizonte de uma solução sábia e tranquilizadora: trata-se do poder oculto da internet e das redes sociais. Que paixão indomável prende a população do mundo a tudo que a impressiona?

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Será que ainda é preferível falar do óbvio — as vantagens que a tecnologia trouxe — ou já é hora de nos concentrarmos nas desvantagens, no sofrimento, e corrigir os rumos, para não nos arrependermos, como Alfred Nobel se arrependeu de ter criado a dinamite?

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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