A partir do ano que vem, por exemplo, 252 Câmaras Municipais gaúchas serão compostas só por brancos -  (crédito: BBC Geral)

Nas demais 52 eleições nacionais que tivemos até aqui em 2024, algumas destacam-se por seu impacto no cenário internacional.

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Se é melhor para o povo nunca se sabe no dia, mas este ano de 2024 é disparado o que mais tem escolhas por eleições em todo o mundo. Apenas de eleições nacionais, completaremos ao todo 73 até o final do ano. Adicione-se a elas mais um grande número de eleições regionais e municipais, como a do Brasil no dia de hoje. É um verdadeiro festival de eleições.

 

Nesse ano em que mais da metade dos oito bilhões de habitantes da Terra vivenciaram ou vivenciarão eleições nacionais em seus países, o ciclo eleitoral começou em 7 de janeiro, quando Bangladesh, com seus 170 milhões de habitantes (a oitava maior população do mundo), reelegeu Sheikh Hasina como primeira-ministra. Hasina governou poucos meses de seu quinto mandato e em agosto foi derrubada.

 

 

Bangladesh estava em destaque no mundo com a prisão de Muhammad Yunus, ganhador do Nobel da Paz, por violações trabalhistas relacionadas ao seu trabalho com microcréditos para pessoas de baixa renda. Pois bem, os generais e líderes estudantis que derrubaram Hasina em agosto, colocaram justamente Yunus como primeiro-ministro interino do país.

 

Hasina acusava Yunus de ser um "sugador de sangue dos pobres", devido às altas taxas de juros associadas aos microcréditos oferecidos por sua instituição. Se por um lado Yunus era querido por ter recebido o Nobel, Hasina também é conhecida como alguém que colocou em pé uma economia mista bem-sucedida. Ou seja, eleição é uma forma inalcançável de compreensão do poder de quem manda de fato.

 


Nas demais 52 eleições nacionais que tivemos até aqui em 2024, algumas destacam-se por seu impacto no cenário internacional.

 

Na Índia, as eleições gerais de 2024 consolidaram o poder do BJP, partido liderado por Narendra Modi, conquistou mais um mandato. Todavia, o escrutínio surpreendeu pelo fato de que Modi sofreu sim um voto de desconfiança de uma parte maior da sociedade do que era projetado. As eleições mostraram que o principal partido de oposição a Modi, o histórico Partido do Congresso, pode estar renascendo das cinzas. Para se contrapor ao hinduísta linha-dura Modi, Rahul Gandhi, herdeiro da vez do mais secular Partido do Congresso, passou também a inaugurar estátuas do nacionalismo hindu a torto e a direito.

 

Nas eleições sul-africanas de 2024, a contínua erosão de apoio ao partido governista, o superpoderoso Congresso Nacional Africano (ANC), no passado liderado por Mandela, trouxe à tona a ascensão de coalizões multipartidárias. Em meio a escândalos e problemas econômicos, os eleitores demonstraram uma forte insatisfação com o status quo pós-apartheid de uma forma até hoje inédita no país. A fragmentação política foi evidente, com novos partidos regionais e de oposição ganhando espaço, marcando o início de uma nova fase de governança e aumentando a incerteza sobre o futuro político da maior economia e centro de gravidade do sul da África.

 

Na França, as eleições para o Parlamento Europeu, embora menos levadas a sério, foram alçadas a um novo patamar de impacto por conta do resultado que demonstrou o crescimento do apoio a figuras da extrema direita. Todavia, a eleição mostrou sobretudo um desgaste de Macron. O qual resolveu dobrar a aposta e convocar eleições parlamentares nacionais. O resultado foi uma nova derrota, dessa vez para a esquerda. Não satisfeito, para não dar o braço a torcer, Macron recorreu ao carreirista Michel Barnier para ser seu Primeiro-Ministro sem respeitar as urnas. Barnier havia alcançado alguma expressão nos últimos anos ao liderar as negociações do Brexit em nome da União Europeia (UE). De forma metódica, Barnier fez o Reino Unido pagar pela estripulia de deixar a UE. Agora, em que vai dar, ainda não sabemos.

 

Por fim, no Brasil, as eleições municipais de 2024, realizadas hoje, refletem uma reconfiguração política ainda mal sintetizada no país. O povo vive uma intuição confusa quando percebe que há uma cisão na elite política que inscreve a decisão de hoje no horizonte da culpa de políticos e partidos, com ou sem tradição. Votar é um ritual simbólico que parece só interessar à política dos políticos.

 

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Em meio a esse superciclo eleitoral, que varreu também a América Latina e expôs as vísceras da Venezuela adoecida e o teatro experimental do México, que dividiu os cargos públicos pela metade entre e homens e mulheres, mas manteve o domínio machista do poder nas mãos dos homens, as nações seguem em direções variadas, com algumas concentrando seus esforços em reformas estruturais visando estabilidade e desenvolvimento, enquanto outras priorizam se chafurdar em debates infrutíferos, bizarros mas às vezes apaixonantes.