Cá entre nós
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Acho um horror a mania que se instalou entre nós brasileiros de colocar todos casais de padrinhos de casamento vestindo a mesma cor, quando não o mesmo modelo, como fazem os estadunidenses. Simplesmente importamos mais essa, como se aqui fizesse sentido fazer de nossos convidados parte integrante da decoração da festa como legítimos pares de jarras.
Porém existem algumas tradições casamenteiras dos americanos do norte que têm minha simpatia. Me causa inveja por exemplo o hábito de fazer discursos em determinada hora da festa. O tim-tim do bater um talher na taça chama a atenção de todos para aquele que se vê no direito e no dever de ser o foco naquele momento. Faz-se o que hoje atribuímos ao celebrante não religioso. Só que com uma vantagem: quem conta a história do casal são pessoas que fizeram parte dela e não cobram nada por isso. Pode não ter o mesmo glamour, mas tem originalidade e afeto, mesmo quando o que se faz ali é um acerto de contas.
Do lado de cá, evitamos ao máximo falar sobre sentimentos (os nossos e os dos outros) em público. Deixamos que a timidez nos contamine e nos reserve o papel de simples convivas mais preocupados em acompanhar o desenrolar do buffet e da música ao fundo. Preferimos dar vexame bebendo demais e dançando com descompostura que correndo o risco de falar sobre o que nos liga ao casal que festeja sua união.
Há também o hábito de tomar o púlpito para falar sobre o morto quando de seu enterro. O que ele representou e a falta que fará. Não se trata de fazer dele um santo, mas de expressar seu significado. Aqui preferimos o silêncio porque também confundimos conversa e barulho com desrespeito a quem partiu. De minha parte prefiro lembrar além de rir e chorar das peripécias que passamos juntos.
Uma das cenas que mais me encanta no filme “E se vivêssemos todos juntos?” é a realização do último desejo de Jeanne, personagem interpretada por Jane Fonda. Ser enterrada em um caixão rosa que, antes de descer para o fundo da terra, serve de aparador para as taças de champanhe degustadas por seus amigos mais íntimos enquanto comemoravam a vida no lugar de lamentar a morte. Cá entre nós, porque não fazê-lo?
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
