Patrícia Espírito Santo
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Mais que apenas sobreviver

"Quem será cada um deles? Que história têm para contar?"

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No momento estou no Burundi, pequeno país no centro-leste do continente africano. Faz divisa com Ruanda, Tanzânia e República Democrática do Congo-RDC. Apesar de a colonização belga ter imposto o francês como língua oficial durante décadas (a independência se deu em 1962), a maior parte dos nativos locais fala kirundi e dos refugiados fala suaili. Aqueles com quem converso, com muita boa vontade, tentam entender minha linguagem que mistura palavras e expressões em francês, inglês e muita mímica (acompanhada de muita risada).

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O que me trouxe aqui foi um orfanato que abriga quase 400 crianças que perderam seus pais e familiares nos atuais conflitos na RDC. Ano passado, elas saíram às pressas de lá, fugindo dos rebeldes que chegaram em Goma, cidade onde estavam abrigadas e corriam risco de serem novamente atacadas. Foram retiradas por uma força tarefa de voluntários e alojadas aqui, em casas alugadas, até que um novo local, que possam chamar de seu, acabe de ser construído.


Há desde bebês com um ano de idade a adolescentes que mal acabaram de sair da puberdade. Fixo meu olhar em um e outro, em meio a dezena deles, enquanto brincam, cantam, pulam elástico, chutam bolas feitas com coisas que catam aqui e ali ou disputam o colo dos visitantes.


Quem será cada um deles? Que história têm para contar? Certamente são muito diferentes uns dos outros e guardam em suas mentes lembranças de uma diversidade impossível de serem retratadas até mesmo pelas mais criativas das mentes.


Acostumada a conviver com adultos refugiados do Congo que vivem em Dzaleka, no Malawi, fico imaginando o que podem ter presenciado ainda tão pequenos. Muitos trazem cicatrizes no rosto que sugerem feridas ainda profundas, impossíveis de serem fechadas inteiramente, frutos de lesões de todo tipo. É preciso preparo para investigar o passado delas, mas, por outro lado, é possível vislumbrar-lhes um futuro.


São mais que sobreviventes. São perseverantes. Estudam e desejam avidamente aprender alguma coisa, enquanto são mestres em ensinar como a vida pode ser transformada em algo que vale a pena investir. Me propus a ensinar, aos que tem interesse, o ofício da costura. Algumas jovens se aproximam, olham tudo com curiosidade e empolgação. Sonham em fazer suas próprias roupas como forma de expressar a identidade pessoal que lhes foi roubada. Vão à escola para que um dia possam escolher o que querem ser, onde e como querem viver porque até aqui o homem lhes reservou o que tem de mais desumano.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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