
Onde há imperfeição?
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Imagine um festival de frutas e legumes que dê prêmios especiais para os exemplares considerados atípicos. Nesta época do ano, quando se festeja a presença do sol refletindo em boas temperaturas ao ar livre, nos finais de semana pequenos produtores agrícolas ingleses se reúnem em praças nos centros de suas vilas para apresentar aos vizinhos e amigos o que de mais interessante colheram.
É bom que se defina o significado de interessante. Neste caso implica diversas categorias que vão desde a fruta de formato mais esquisito, ou horripilante; o legume de tamanho desproporcional em relação ao que se espera da espécie, o maior, o menor, o com mais defeitos aparentes e até mesmo o mais bonito, que nem sempre tem o melhor sabor; título de outra categoria. Entre uma banca e outra, se escutam manifestos de todo tipo, a maioria de admiração. “Como você conseguiu ou o que pode ter ocorrido?”
Como tudo ali é saudável o suficiente para ser consumido, ao final se faz um grande leilão. O que importa é o sabor e o que de bom cada fruta e legume ofereça, independente de o quão torto ou longilíneo possa parecer.
Isso me faz lembrar do tempo em que criávamos galinhas e outras aves em minha casa e ganhávamos diversas folhas de um amigo dono de sacolão. Todo início de semana, ele me presenteava com caixas de verduras consideradas inadequadas ao consumo humano, simplesmente porque não tinham aparência atraente ou porque estavam com o talo quebrado. “Ninguém valoriza”, dizia, que eu traduzia como “ninguém compra”. O que mais sobrava eram as folhas externas do repolho. Em poucos minutos, as aves agradeciam o desprezo humano adicionado à ignorância e à insensatez.
Nossa busca pelo que consideramos perfeito na natureza tem nos levado a distorcer a realidade, a construir disparates a começar pelo hábito de dizer que uma flor perfeita parece ser de mentira, como se o falso tivesse capacidade maior de projetar o belo que o verdadeiro.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.