
Entre idade avançada e velhice
"O crime se torna pior quando a vítima do assalto tem 65 anos e não 55? É mais relevante a crueldade do meliante diante de alguém com limitações de mobilidade"
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Idoso de 75 anos é detido após pegar celular em padaria. Idosa de 60 anos é atropelada em faixa de pedestre. Idoso de 66 anos dirigindo em alta velocidade bate o carro em muro. Idosa de 73 anos é vítima de estelionatários. Notícias desse tipo têm me chamado a atenção muito mais por questões de semântica que por seus conteúdos informativos.
A palavra idoso/a, despendendo do uso, pode ser classificada como substantivo, ao se referir a alguém com idade avançada, ou um adjetivo, quando o que se quer é chamar atenção para a velhice. A impressão que dá é que uma diz mais respeito aos números propriamente ditos e a outra a tornar tudo mais dramático, pra não dizer outra coisa.
Nada contra idade avançada e muito menos velhice, sorte de quem as alcança. O que questiono é porque destacar essa característica no título da notícia? Que diferença faz a idade? O crime se torna pior quando a vítima do assalto tem 65 anos e não 55? Certamente outras informações são mais relevantes para a análise do acontecido, como por exemplo a crueldade do meliante diante de alguém com limitações de mobilidade ou cognitivas que muitas vezes também são encontradas em pessoas de faixas etárias mais jovens.
Por que esse tipo de abordagem? Pessoas acima de 60 anos se tornam mais tolas e susceptíveis a ataques dos mais espertos; assim reza a cartilha do senso comum. Afinal, pela legislação, elas têm fila preferencial e vaga na porta para estacionar. Mas nenhuma destas vantagens muda o fato de a velhice ser negada e combatida e, por tabela, a denominação idoso/a.
Acho interessante quando ouço alguém dizer que atualmente tem muito idoso bem de saúde o que deve levar uma atualização da lei. Quem sabe subir a categoria para 70 anos? A maioria dos partidários dessa teoria vive na bolha dos que têm acesso fácil a todo tipo de benefício que de fato corrobora para o bem-estar geral. Mas essa discussão não pode ficar na superfície. Fazer drama ou sensacionalismo usando idade é mais uma forma de estatismo que de justiça com os demais.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.