
Brasil pode liderar nova era da inovação com startups científicas
Startups científicas crescem e conquistam novos mercados, impulsionadas por universidades, fundos especializados e eventos como o Deep Tech Summit
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As deep techs - startups baseadas em ciência e tecnologia de fronteira - estão se consolidando como um dos pilares mais promissores da inovação brasileira. Embora ainda enfrentem gargalos de financiamento, políticas públicas intermitentes e uma cultura empreendedora em formação dentro da academia, o setor dá sinais claros de expansão.
“As Deep Techs representam uma oportunidade estratégica para múltiplos atores do ecossistema”, afirma Daniel Pimentel, cofundador e diretor da Emerge, consultoria especializada na conexão entre ciência e mercado. “Para a academia, elas oferecem um caminho concreto para transformar conhecimento científico em impacto real na sociedade. Para a indústria, representam a chance de acessar tecnologias disruptivas capazes de reduzir custos, mitigar riscos e criar vantagem competitiva em áreas complexas.”
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O Brasil vive um momento de crescimento expressivo, com mais de 875 startups Deep Tech mapeadas em 2024. A concentração no Sudeste, especialmente em São Paulo, reflete ecossistemas maduros e políticas públicas estruturadas. “Escalar tecnologias e atrair capital privado continua sendo difícil, mas há uma expansão visível do setor, tanto no número de startups quanto na presença de fundos que apostam nessa tese, como Pitanga, Mov, Vesper, Fundepar e KPTL”, explica Daniel.
Um dos principais entraves é a chamada travessia do ‘Vale da Morte’, período crítico entre os níveis de maturidade tecnológica, em que startups já validaram sua ciência, mas ainda não alcançaram mercado. “Esse é um ponto em que o capital praticamente some. O investimento privado ainda está concentrado em soluções digitais, e as Deep Techs acabam dependendo fortemente de recursos públicos, que são, em geral, inconstantes e imprevisíveis”, diz. Programas como o PIPE-FAPESP e Embrapii são apontados como exceções bem-sucedidas nesse cenário.
A base científica brasileira é reconhecida internacionalmente e as universidades são peças-chave na formação das Deep Techs. “As universidades e os centros de pesquisa são protagonistas. USP, UNICAMP, UFRJ e UFMG lideram em número de startups e projetos de base científica”, afirma Pimentel. “Programas de empreendedorismo acadêmico, incubadoras universitárias e parcerias com parques tecnológicos têm impulsionado a criação de spin-offs, mas ainda existe um grande potencial inexplorado.”
Setores como saúde, agronegócio, energia, materiais avançados, sustentabilidade ambiental, alimentos e cosméticos estão entre os mais impactados por esse tipo de inovação. “As soluções vão desde bioinsumos e novos ingredientes alimentícios até baterias de estado sólido e terapias multitargets. As Deep Techs têm uma capacidade única de atuar em setores críticos e estratégicos”, destaca o diretor da Emerge.
Um dos espaços que vêm acelerando conexões nesse ecossistema é o Deep Tech Summit, que em sua última edição reuniu mais de 1.500 participantes, incluindo 100 startups expositoras, 30 fundos de investimento e 200 grandes empresas. O evento se consolidou como o principal espaço de articulação das Deep Techs na América Latina e casos concretos de investimento, como os aportes da Air Capital na Cellva e da Guayi na Ikove.
Além de oportunidades de negócio, o Summit teve impacto direto em políticas públicas. “Durante o evento foi assinado o protocolo de intenções para a construção da política nacional para Deep Techs, envolvendo FINEP, BNDES, Sebrae, CNI e outros atores estratégicos”, revela.
O papel dos fundos de investimento especializados é visto como essencial para o amadurecimento das startups. “Quando um fundo com tese em Deep Tech entra, a startup tende a evoluir mais rápido, com maior disciplina estratégica e acesso a redes relevantes”, diz Pimentel. Embora ainda sejam poucos no Brasil, fundos como Mov, KPTL e Pitanga já mostram impacto real. “Gestoras latino-americanas como Gridx e Air Capital também têm investido no país, o que demonstra o potencial da região.”
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Para que o Brasil se torne referência global no setor, é preciso consolidar o ecossistema. “Temos vantagens competitivas únicas: ciência de ponta, capital humano qualificado, matriz energética limpa e abundância de biomassa. Se conseguirmos profissionalizar o pipeline de startups Deep Tech e criar mecanismos de financiamento mais robustos, o país pode, sim, liderar essa nova fronteira da inovação”, conclui Pimentel.
Com ciência de base sólida e inovação de alto impacto, o Brasil tem nas Deep Techs uma rota possível para transformar conhecimento em desenvolvimento econômico, sustentável e estratégico.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.