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SIGA NONana Rubim começou a carreira artística muito cedo, aos 17 anos, e trilhou um longo caminho até encontrar sua verdade musical no auge de seus 24. Depois de se experimentar em diversos gêneros, ela finalmente percebeu que seu lugar estava onde ela sempre esteve, na boa e velha música negra que ouvia com seu bom e velho avô, mais especificamente no R&B que até hoje tem um lugar cativo na música contemporânea, sempre se reinventando e se conectando com o público através de seu estilo sentimental, por vezes sensual, pessoal e entregue.
Entrega é a palavra que define com clareza o primeiro EP de Nana Rubim, autointitulado. Nele, o suingue e a leveza ajudam a veicular uma mensagem de amor, espiritualidade, cura, empatia e amor e ligação com a natureza. Nesta entrevista, a artista conta sobre sua peregrinação e musical e o (re)encontro com sua identidade, precocidade, vulnerabilidade como meio de conexão, a parceria com o selo Alma Viva, de Sérgio Affonso, ex-presidente da Warner, o apoio do famoso e saudoso publicitário Washington Olivetto, a quem dedica este disco, e a dificuldade das novas gerações com acentuação.
Confira a entrevista:
Como se deu o seu encontro com o R&B?
O R&B sempre esteve dentro de mim. Sinto que não é sobre encontrar, e, sim, abraçar o que nunca me abandonou. Herdei o gosto pelo blues, o soul e o jazz do meu vô querido (que infelizmente faleceu ano passado). A partir daí, o R&B me achou em um contexto moderno e nunca nos desgrudamos. Foi o ritmo que perdurou como base durante todas minhas aventuras musicais.
Eu apenas voltei ao meu berço musical. Antes mesmo de pensar em ser artista ou agradar alguém com minha música, o R&B tinha toda minha atenção e fascínio. A verdade e a emoção que permeiam esse ritmo são tão necessárias, ainda mais nos dias de hoje, em que nos encontramos afastados, ou mesmo sem contato, com a realidade e nossos sentimentos. O meu lugar na musica não está vinculado apenas ao estilo que represento, mas a como eu faço quem me escuta sentir.
Você se vê seguindo esse estilo ao longo da carreira, ou pretende fazer outras experiências?
Sim, mês vejo seguindo o estilo, mas também levando essa jornada artística com liberdade e leveza. Como disse antes, não é sobre limites, lugares ou ritmos, apenas. Minha versatilidade não atrapalha quando ela é direcionada pra reinventar ou enriquecer o que já conhecemos dentro do cenário musical. Se eu sentir necessidade de me aventurar, vou ser honesta comigo mesma. Nunca diga nunca.
Como você conheceu Washington Olivetto? Ou como ele te conheceu?
Washington me conheceu através de uma velha conexão com meu pai, e me escutou por meio de uma mensagem paterna orgulhosa da cria. Por sorte, Washington também decidiu mandar meu trabalho para alguns amigos, mal sabendo que entre eles estaria Sérgio Affonso O resto é história. Sou eternamente grata pela oportunidade de ser escutada e apoiada por um ser humano tão admirável como ele. Uma grande honra! Dedico muito desse EP a ele.
Começar uma carreira precoce pode ser um trunfo, mas também um desafio ao lidar com a imaturidade e assuntos mais sérios do que as pessoas da mesma idade. Como foram todas essas questões para você, que começou a carreira aos 17?
Acredito que todo trunfo na vida é custoso. O caminho dentro de um processo artístico é individual e desordenado, demanda tempo e paciência. Hoje, enxergo que cada situação que passei (mesmo as mais difíceis), cada ritmo que me aventurei e cada música que escrevi era uma trilha para que eu chegasse a um lugar de verdadeira vulnerabilidade, que é a única coisa que posso oferecer como artista. Essas fragilidades e incertezas são o que nos conecta. Estou correndo atrás de um grande sonho e sou grata por todo processo.
Na capa do disco você aparece com flores nos cabelos e as mãos verdes e com brotos, como uma espécie de druida ou elemental. Em uma das fotos de divulgação, você é vista agachada numa pedra, também com as mãos e pernas druídicas, e essa mesma cena, reinterpretada, aparece no clipe, que é bem psicodélico e cheio de natureza. Você pode comentar sobre a iconografia do disco e como foi o processo de criação?
Muito disso remete à minha infância, sempre protegida pela natureza. Tive a liberdade de me perder em minha própria imaginação, privilégio que carrego comigo até hoje, junto com a vontade de torná-la realidade. Me inspirei na espiritualidade e na fantasia para criar a persona da Nana. O intuito desse EP é criar um espaço, ou uma sensação, de acolhimento. A cura que uma frase pode proporcionar é magica, e nada melhor do que a fantasia pra ilustrar o pensamento livre que habita na minha pessoa artística. Afinal, tudo sempre foi e sempre será sobre nossos sonhos.
Eu reparei num detalhe curioso, também: Na tipografia do seu nome, na capa do disco, o primeiro “a” tem um acento, enquanto nos outros lugares aprece sem. Por quê isso?
Depois da minha decisão de seguir como Nana Rubim, percebemos desafios em relação à pronúncia dele. A presença do acento é para deixar claro como eu digo meu nome, e me apresentar como artista do jeito certo. No mais, sinto que, na hora da pesquisa, essa geração mais nova não se dá muito bem com pontuação. Pensei em deixar o caminho mais fácil.
E como está sendo a parceria com a Alma Viva?
Está sendo muito enriquecedora e positiva. Consigo ver o quanto crescemos juntos, e continuamos a trilhar um caminho mais maravilhoso ainda. O Sérgio é uma pessoa muito respeitada e cuidadosa, olha com carinho para todas as nossas investidas como colaboradores. Não poderia pensar em uma pessoa melhor para me apoiar na busca por esse sonho.
E qual é a sua expectativa com essa estreia?
Eu espero que, com esse EP, as pessoas entendam quem de fato é a Nana. Teve momentos em minha carreira em que eu acreditava que não conseguiria fazer uma música inteira sozinha, da qual eu me orgulhasse. Graças a Deus estava enganada. Agora, tenho um corpo musical que me representa e homenageia cada referência que me construiu até hoje. Eu respeito e admiro imensamente qualquer produção artística, e quis me entregar ao público com o mesmo esmero.