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Luiz Carlos Azedo
ENTRE LINHAS

Lula está mais próximo do Supremo, porém estressa relação com Congresso

A história serve para reflexão sobre Lula e a maioria conservadora do Legislativo. Uma aliança entre o Executivo e STF para domar o Congresso é um equívoco

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“Eu sou muito contra as pessoas falarem mal dos outros pela frente. Eu acho que é uma falta de educação muito grande. Não é? Falar, falar mal pela frente, constrange quem ouve, constrange quem fala. Não custa nada a gente esperar um pouco as pessoas darem as costas”, dizia o escritor, filósofo e dramaturgo pernambucano Ariano Suassuna, com ironia, numa palestra antológica, cujo vídeo viralizou nas redes sociais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu conterrâneo, no mínimo, foi muito deselegante com o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), ao criticar o “baixo nível” do Congresso.

Lula fez a afirmação durante cerimônia, no Rio de Janeiro, de comemoração ao Dia do Professor, celebrado nesta quarta-feira. Ao fazer o comentário sobre o Congresso, com críticas a parlamentares de direita, se virou para o presidente da Câmara, que estava entre as autoridades presente no evento, e disparou: “O Hugo (Motta) é presidente desse Congresso, ele sabe que esse Congresso nunca teve a qualidade de baixo nível como tem agora. Aquela extrema-direita que se elegeu na eleição passada é o que existe de pior", disse Lula.

Antes das críticas de Lula ao Congresso, o presidente da Câmara discursou no evento, foi vaiado pela plateia e ouviu gritos contra a proposta de anistia a condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro. Lula se posicionou ao lado do deputado paraibano, em demonstração de apoio a Motta, mas logo depois, ao falar, fez ataques a políticos de direita. Um deles foi o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está nos Estados Unidos e, na avaliação de Lula, atua contra os interesses do Brasil. Lula conclamou as pessoas que não estão contentes com a atual classe política devem ingressar na vida pública e tentar mudar o futuro do país.

 

Ao mesmo tempo em que estressa sua relação com o Congresso, onde o eixo da oposição se deslocou do PL para o Centrão, sobretudo as bancadas do União Brasil e do Progressistas, Lula busca maior aproximação com o Supremo Tribunal Federal (STF). Na véspera, no Palácio da Alvorada, num jantar fora da agenda, que não era para ter vazado antes de ocorrer, conversou com os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Cristiano Zanin sobre a indicação do substituto do ex-ministro Luís Barroso, também presente ao encontro, que deixou o STF na semana passada.

A vaga para ministro do STF, aberta com a aposentadoria antecipada de Barroso, tem dois nomes favoritos: o advogado-geral da União, Jorge Messias, e o senador e ex-presidente do Congresso Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Correndo por fora, estão a ministra do Panejamento, Simone Tebet; e a presidente do Tribunal Superior Militar (STM), ministra Elizabeth Rocha.

Há também 10 juristas negras indicadas pelo Movimento Mulheres Negras Decidem (MND) que disputam essa vaga: Adriana Cruz, Juíza titular da 5ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro; Edilene Lobo, ministra do Tribunal Superior Eleitoral; Flávia Martins Carvalho, juíza auxiliar no STF; Karen Luise, juíza do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul; e integrante do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP); Lívia Casseres, defensora pública e coordenadora-geral de Justiça Étnico-Racial do Senado; Lívia Sant’Anna Vaz, promotora de Justiça do Ministério Público da Bahia; Sheila de Carvalho, advogada e secretária nacional de Acesso à Justiça do Ministério da Justiça; Soraia Mendes, jurista, advogada e professora; Vera Lúcia Santana Araújo, ministra substituta do TSE e fundadora da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).


Estratégia perigosa

O desafio de Lula é escolher um nome por quem sinta confiança dentro do STF – uma vez que a Corte tem sido cada vez mais decisiva na vida nacional – e, ao mesmo tempo, não desagrade ao Congresso e ao mundo jurídico. Avalia também que não pode queimar pontes e ver seu indicado ser rejeitado no Senado. A Constituição só manda que o escolhido tenha “notável saber jurídico” e reputação ilibada, além de ter mais de 35 anos e menos de 70.

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Um passeio pela história serve para reflexão sobre Lula e a maioria conservadora do Legislativo. É um equívoco imaginar uma aliança entre o Executivo e STF para domar o Congresso. Na década de 1960, as reformas de base eram um conjunto de mudanças de caráter liberal-social, faziam sentido diante das necessidades de modernização do país. Consistiam nas reformas agrária, administrativa, eleitoral, bancária, tributária e constitucional, para viabilizar as demais. João Goulart havia assumido o poder após a renúncia de Jânio e um acordo no qual governaria sob um regime parlamentarista. Em 6 de janeiro de 1963, por meio de um plebiscito, o regime presidencialista foi restabelecido.

Logo a seguir, sentindo-se fortalecido, Goulart enviou ao Congresso os projetos de reforma agrária e bancária. A reforma agrária, proposta pelo PTB, foi rejeitada pelo Legislativo, que também rechaçou a lei de remessas de lucros proposta por Jango. A maioria no Congresso não aceitava as reformas de base. Jango tentou fazê-las por decreto, Em vez de recuar em ordem, com apoio popular, apostou na radicalização. Foi deposto por um golpe militar no dia 31 de março de 1964.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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