O bilionário Elon Musk sempre se coloca acima das autoridades governamentais -  (crédito: Frederic J. BROWN/AFP)

O bilionário Elon Musk sempre se coloca acima das autoridades governamentais

crédito: Frederic J. BROWN/AFP


O comportamento do magnata sul-africano radicado nos Estados Unidos Elon Musk, que desde a aquisição do antigo Twitter se tornou um ator político ligado aos líderes de extrema direita no mundo, entre os quais o ex-presidente Donald Trump e o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, começa a preocupar os investidores e provoca a queda no valor de suas empresas.

 

O fato preocupa seus parceiros comerciais, inclusive na Starlink e na SpaceX, hoje a maior empresa aeroespacial do planeta. No sábado passado, o jornalista Brian Boyle, do The Daily Upside, revelou que o grupo de investimentos Fidelity voltou a reduzir o valor da posição do fundo Child Brow Chink no X. O relatório da empresa aponta uma queda de 73% na avaliação da plataforma desde a aquisição do Twitter, por US$ 44 bilhões, em outubro de 2022. Fontes do mercado financeiro também revelaram à Bloomberg que um grupo bancário liderado por Morgan Stanley realizou conversa com Musk sobre o refinanciamento de uma dívida do X de aproximadamente US$ 12,5 bilhões.

 



O Fidelity ajudou Musk em sua aquisição na rede social. No seu relatório divulgado sábado, que rastreou o desempenho do Fundo de Crescimento do Chip Blue, em fevereiro, o valor da sua participação caiu 5,7% inferior em relação ao mês anterior. A participação geral é agora de US$ 5,3 bilhões. A desvalorização da X é um reflexo da perda de receitas em razão da aproximação de Musk com lideranças de extrema direita e a utilização da plataforma por grupos radicais de extrema direita, que afastam anunciantes. Disney, Apple e IBM deixaram de anunciar por causa de posts antissemitas. O X gerou cerca de US$ 2,5 bilhões em vendas de anúncios no ano passado; segundo as fontes do Bloomberg, houve uma queda de US $ 3 bilhões.

 



Em 2021, antes da compra por Musk, o Twitter reportou US$ 5 bilhões em receita de anúncios. Isso faz com que o X seja uma das poucas plataformas com resultados negativos num mercado de publicidade muito forte. Na semana passada, o grupo da indústria Magna projetou a um crescimento de receita de anúncios de mídia social de 14% nos EUA este ano, passando a marca de US $ 80 bilhões. Ou seja, a plataforma X está na contramão dessa expansão.



Os problemas de Musk não são apenas com as redes sociais. O valor das ações da Tesla, fabricantes de carros elétricos, caiu 29% nos primeiros três meses do ano, o pior desempenho na S & P 500 (abreviação de Standard & Poor’s 500), um índice composto por quinhentos ativos cotados nas bolsas de NYSE ou Nasdaq, qualificados devido ao seu tamanho de mercado, sua liquidez e sua representação de grupo industrial.



Fora de padrão



O comportamento exaltado do magnata também preocupa os investidores, porque Musk é usuário de Ketamine, segundo revelou a britânica Reuters, a maior agência internacional de notícias do mundo, com sede em Londres. O medicamento, utilizado para induzir e manter a anestesia, produz um estado de transe, proporcionando alívio da dor e sedação, mas também provoca perda de memória. Em entrevista à CNN, Musk chegou a dizer que a droga o ajuda a gerenciar um “estado químico negativo” semelhante à depressão. “O uso do medicamento era bom para a Tesla”, argumentou. “Do ponto de vista da Wall Street, o que importa é a execução”, disse Musk, que comanda a montadora de carros elétricos, a empresa de foguete Spacex e a plataforma de redes sociais X. A Tesla vale mais do toda a indústria automobilística norte-americana combinada. “Para os investidores, se houver algo que estou tomando, eu deveria continuar a tomar”, acrescentou.

 



As confusões que Musk criou na Inglaterra, na União Europeia e na Austrália, sempre se colocando acima das autoridades e protagonizadas por meio do X, criaram um ambiente internacional desfavorável para seu confronto com a Justiça brasileira. E assustou os investidores, porque o bloqueio dos ativos financeiros da Starlink no Brasil é um precedente perigoso para os seus negócios no mundo. Mostra que o ativismo político do magnata nas redes sociais – embora o X represente apenas uma pequena fração de toda a sua fortuna, é uma empresa de pequeno valor em relação às demais – pode contaminar os demais negócios do empresário.



Esse era o sentimento, ontem, entre executivos das gigantes das redes sociais, preocupados com a quebra do pacto de autorregulação das big techs com as autoridades dos países onde atua. Se as empresas perderem a capacidade de curadoria e mediação das postagens, haverá uma mudança de paradigma na relação das redes sociais não só com os Estados nacionais, mas também a com a sociedade, porque passarão a ser responsabilizadas e penalizadas pelas postagens de seus usuários, como agora aconteceu com a X e Starlink no Brasil.



A propósito, ontem, a Starlink anunciou que irá cumprir e bloquear o X no Brasil. Responsável pelo fornecimento de sinais de internet a regiões remotas, a empresa havia ventilado que não seguiria a determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que ordenou que as operadoras tirassem a rede social do ar por não indicar um representante no Brasil. A empresa informou também que iniciou um processo legal na Suprema Corte dos Estados Unidos, onde a empresa tem sede, explicando a “ilegalidade grosseira” da ordem de Moraes, que congelou as finanças da companhia e a impediu de realizar transações financeiras no Brasil. E acrescentou que continua a buscar todos os caminhos legais no Brasil: “ordens recentes do ministro violam a Constituição brasileira”, protestou.