Dois temas nos quais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva divergiu de seu ministro da Fazenda favoreceram os memes contra Haddad -  (crédito: EVARISTO SÁ/AFP)

Dois temas nos quais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva divergiu de seu ministro da Fazenda favoreceram os memes contra Haddad

crédito: EVARISTO SÁ/AFP

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem sendo vítima de uma onda de “memes” na internet, pelo WhatsApp e nas redes sociais, nos quais a oposição procura demonizá-lo como vilão dos impostos. Num deles, o petista é “trolado”, para usar uma gíria da internet, ao ser comparado ao famoso diretor e ator de filmes de terror paulista José Mojica Marins, o Zé do Caixão, falecido em 2020. A onda de ataques mistura humor corrosivo e fake news, para se aproveitar de alguns debates sobre a regulamentação da reforma tributária e outros impostos no Congresso, que deixam o ministro numa saia-justa, pois está sendo apelidado de “Taxad”.


Dois temas nos quais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva divergiu de seu ministro da Fazenda favoreceram os memes contra Haddad: a inclusão ou não da proteína animal, principalmente a carne vermelha, na cesta básica (a equipe econômica era contra) e a taxação do imposto da blusinha, o debate sobre a compra de produtos de consumo importados com valor abaixo de US$ 50,00, o que equivaleria a R$ 274 no câmbio de ontem, que foi taxada com apoio da Fazenda.

 


O presidente Lula faturou politicamente na opinião pública ao se posicionar contra a taxação da carne e da blusinha, mas expôs Haddad aos memes na internet. O termo do grego clássico significa imitação. É bastante conhecido e utilizado no “mundo da internet”, referindo-se ao fenômeno de viralização de uma informação, ou seja, qualquer vídeo, imagem, frase, ideia, música e etc., que se espalhe entre vários usuários rapidamente e alcance muita popularidade. Do ponto de vista de conteúdo, não é um fenômeno novo na política, porém, a rapidez e a forma como hoje se propagam as fake News e memes nas redes sociais não têm precedentes, nem mesmo no rádio e na tevê aberta.


O caso mais famoso de fake news na política brasileira, porém, ocorreu numa escala muito menor, mas decisiva eleitoralmente, durante as eleições presidenciais de 1946. O brigadeiro Eduardo Gomes, representante de uma forte coligação encabeçada pela UDN, era o favorito na disputa com o general Eurico Dutra, da frente liderada pelo PSD. Um dos sobreviventes da Revolta dos 18 do Forte, em 1922, marco inicial do tenentismo, quando foi ferido gravemente, era um herói vivo do movimento tenentista.


Eduardo Braga participou da Revolta Paulista de 1924 e foi preso quando se dirigia para integrar a Coluna Prestes. Solto em 1926, foi novamente preso em 1929; voltou à liberdade em maio de 1930, a tempo de participar das ações que viriam a derrubar Washington Luís, após o fracasso eleitoral da Aliança Liberal, a Revolução de 1930. Com a subida ao poder de Getúlio Vargas, criou o Correio Aéreo Militar, que viria a se tornar o Correio Aéreo Nacional. Em 1935, comandou o 1º Regimento de Aviação contra o levante conhecido como Intentona Comunista. Em 1937, com a decretação do Estado Novo, porém, exonerou-se do comando e passou a fazer oposição a Getúlio Vargas. Mais tarde viria a criar a Aeronáutica, força da qual foi ministro três vezes.

 

Marmiteiros


Na campanha eleitoral, franco favorito, num comício em São Paulo, principal base da UDN, Eduardo Gomes teria dito que dispensava o apoio da “malta de desocupados”, referindo-se supostamente aos sindicalistas do PTB, engajados na campanha de Dutra. O líder trabalhista Hugo Borghi, aviador e empresário agroindustrial do algodão, descobriu que “malta” era sinônimo não só de “bando, súcia”, como também de grupos de operários que carregavam marmitas. A partir disso, disseminou o boato de que Eduardo Gomes, já visto como elitista, desprezava o “voto dos marmiteiros”.


Imediatamente, os trabalhadores foram exaltados no jingle de campanha de Dutra: “Marmiteiro, marmiteiro, todo mundo grita/ E lá na minha casa só tem papa de marmita/ Vamos entrar no cordão do marmiteiro/ e quem não tiver pandeiro na marmita vai tocar”. O candidato da UDN ainda tentou se explicar, porém, uma semana antes da votação, foi abatido por um manifesto de Getúlio Vargas em favor de Dutra.


O Brasil superou a marca de 156 milhões de pessoas com 10 anos ou mais conectadas à internet (computador ou celular), equivalente a 84% da população do país, segundo a pesquisa anual TIC Domicílios 2023, realizada em parceria do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) com o Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.Br).


Houve um aumento de usuários conectados em 2023, em relação aos 80% registrados no ano anterior. O número de pessoas conectadas, porém, pode ser ainda maior, de 164 milhões. Em 2023, a alta foi impulsionada pelo público feminino, cujo porcentual saiu de 81% do ano passado para 86% em 2023. E, também, pelas classes C e D/E: respectivamente, esses extratos da população saíram de 87% para 91% e 60% para 67%.


Embora esteja sendo discutida e votada agora, a reforma tributária deve entrar em vigor só em 2026, e gradualmente até 2033. Entretanto, a taxação de compras internacionais de até US$ 50, por outro lado, virou lei no fim de junho. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento e da Indústria, ontem, saiu em defesa de Haddad: “Se pegarmos a carga tributária de 2022 para 2023, ela não aumentou, pode até dar uma conferida, acho até que caiu”, afirmou. Segundo números do Tesouro Nacional, a carga tributária somou 32,44% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023. Isso representa uma queda de 0,64 ponto percentual do PIB em relação ao valor registrado em 2022 (de 33,07% do PIB).