Katiuscia Silva
Katiuscia Silva
Mestra em Sexologia Clínica pela ISEP MADRID, especialista em Disfunções Sexuais Masculinas e criadora do Método HES - Homens Emocionalmente Sanados
sexualidade

Uma carta da vagina

É como se essa parte tão evidente do corpo feminino fosse invisível, até no espelho da própria mulher

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Durante séculos, a vagina foi tratada como uma extensão da função da mulher: servir ao prazer do outro, à reprodução ou ao julgamento estético. Não como parte legítima de sua identidade. Antes de tudo, é importante esclarecer dois termos que costumam ser confundidos: a vulva é a parte externa dos órgãos genitais femininos, a parte que podemos ver, incluindo os lábios, clitóris e abertura da vagina. Já a vagina é o canal interno que conecta a vulva ao útero.

No livro “Vulva: A Revelação do Sexo Invisível”, a escritora e pesquisadora alemã Mithu M. Sanyal, doutora em história cultural pela Universidade Heinrich Heine de Düsseldorf, uma das vozes mais relevantes na discussão sobre sexualidade e corpo feminino, nos apresenta uma provocação direta: “A vulva é o órgão sexual visível da mulher. Ainda assim, é tratada como se não existisse”.

É como se essa parte tão evidente do corpo feminino fosse invisível, até no espelho da própria mulher. Se a vagina tivesse voz, talvez ela dissesse: “Você me cobre de silêncio. Tem vergonha de mim e já faz muito tempo que eu não sinto prazer. Me chama de 'xereca', mas nunca pelo meu nome, mas eu tenho nome, eu sou a vagina”.

Essa fala simbólica traduz o que muitas mulheres vivem na prática: um distanciamento emocional e sensorial do próprio corpo.

 

O despertar do corpo

 

Uma pesquisa publicada em 2014, realizada no Kinsey Institute, nos Estados Unidos, e liderada por Debby Herbenick, pesquisadora, educadora e autora americana na área da saúde sexual e reprodutiva, entrevistou cerca de 1.200 mulheres adultas para investigar a relação entre o autoconhecimento da genitália feminina e a satisfação sexual. A pesquisa revelou que apenas 26% das mulheres conseguem identificar corretamente sua vulva. E mais de 60% nunca olharam para ela com um espelho.

Os resultados mostraram que mulheres que se sentem confortáveis e familiarizadas com sua vulva, aquelas que já a olharam no espelho, sabem nomear suas partes e aceitam sua aparência, apresentam níveis significativamente mais altos de satisfação sexual, autoconfiança corporal e prazer durante as relações sexuais.

Por outro lado, aquelas que demonstraram vergonha, estranhamento ou evitaram o contato visual com a genitália relataram mais dificuldades relacionadas à libido, excitação, lubrificação e orgasmo.

Esses dados evidenciam que o simples ato de conhecer e aceitar o próprio corpo, especialmente a região genital, é uma base sólida para uma vida sexual e emocional mais saudável e satisfatória.

Já aquelas que têm vergonha ou evitam contato com essa parte do corpo apresentam mais dificuldades com desejo, lubrificação e orgasmo.

 

Um convite ao reencontro

 

Muitas mulheres aprenderam que tocar na vagina é errado e acaba terceirizando para que outra pessoa a toque. Muitas vezes, essa atitude não é satisfatória pela falta de intimidade que a mulher tem com a própria genitália.

Você não precisa fazer  grandes mudanças para começar a se reconectar com a sua vagina. Pode ser algo simples, como tocar suavemente o seu corpo, sem pressa, sem julgamento, só sentindo. Pode ser no banho, antes de dormir, quando estiver tranquila. Só permita que esse toque seja um gesto de carinho consigo mesma, um momento para dizer: “Estou aqui. Eu me respeito”.

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Quando começamos a dar esse espaço para o corpo, ele começa a responder com mais confiança, prazer e saúde. Não precisa ser complicado, só seja verdadeira.

É hora de tirar a vagina da ala da vergonha e assim reconectar-se com ela novamente. Você lembra na época que você era criança e tocava para se conhecer, mas alguém chegou e disse: “Pare com isso menina, é errado.”? Mas agora você é dona do seu corpo, pode tocá-lo, não tem ninguém perto para te julgar.

Essa carta, na verdade, não vem da vagina, ela vem de você para você mesma. Talvez, o maior ato de liberdade feminina hoje não seja gritar, mas escutar.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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