
O que acontece no cérebro quando apaixonamos?
A paixão é um estado biológico projetado pela evolução para nos fazer criar vínculos, reproduzir e manter relações de proximidade
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO

Quando falamos de amor, geralmente imaginamos algo poético, místico, quase mágico. A humanidade discute o amor desde sempre. Todas as grandes mitologias, como a grega e a nórdica, as grandes religiões como o cristianismo, o islamismo e o hinduísmo e, praticamente todos os grandes pensadores da história mergulharam profundamente nesse tema. Afinal, o amor é, sem dúvida, um dos maiores mistérios da experiência humana.
Mas, apesar de toda essa poesia, o amor, ou melhor, a paixão também tem uma explicação muito concreta, biológica e mensurável. Do ponto de vista da neurociência, estar apaixonado é quase como viver uma leve demência temporária. Parece exagero? A ciência explica.
Paixão: uma fase curta, intensa e biologicamente turbulenta
Cientificamente, o amor não é uma coisa só. Ele se divide em fases muito específicas e, a primeira delas é a paixão. Essa fase é marcada por uma intensidade altíssima e, geralmente, de curta duração.
- Homens, amor e o sentido da vida
- Minha mulher perdeu a vontade
- O autocuidado feminino como ato de reconexão
Sabe aquele frio na barriga? Aquela ansiedade quando a pessoa não responde? Aquela vontade quase incontrolável de estar junto o tempo todo? Tudo isso não é só romantismo. É química. E, aliás, é uma química bem poderosa.
O que acontece no cérebro de quem está apaixonado?
Basicamente, seu cérebro entra em pane. Vira um laboratório de neuroquímica em ebulição, no qual diferentes hormônios e neurotransmissores se combinam para criar essa tempestade emocional chamada paixão.
Vamos entender os principais protagonistas dessa história:
Circuito de recompensa: dopamina
Quando você se apaixona, seu circuito de recompensa é ativado intensamente. Esse circuito é o mesmo que se ativa quando você come chocolate, faz sexo, ganha um elogio ou até usa drogas.
O grande astro aqui é a dopamina, conhecida como o neurotransmissor do prazer e da motivação. É ela que te dá aquele gás, aquela energia absurda pra fazer tudo pela pessoa amada. Você quer agradar, surpreender, estar junto, conversar até de madrugada, viajar, fazer planos e parece que nunca é suficiente.
Leia Mais
É como comer uma batata frita: você pega uma, quer outra, e outra... até não aguentar mais. A paixão faz exatamente isso com você só que, no lugar da batata, é a pessoa.
Apego e conexão: oxitocina e vasopressina em ação
Esses dois hormônios são conhecidos como os hormônios do apego. Eles são fundamentais para criar a sensação de vínculo e conexão.
Sabe aquela impressão de que "essa pessoa é única", que ela se torna o centro do seu universo, e ninguém mais no mundo parece importar? Pois bem, isso é devido à oxitocina e à vasopressina que atuam nos circuitos cerebrais.
Esses hormônios ajudam não só na formação do apego, mas também na preferência seletiva, aquela coisa de "ninguém se compara a ela (ou ele)".
Ansiedade e euforia: o papel do cortisol
Se você já sentiu aquele frio na barriga, aquele nervosismo só de ver o nome da pessoa no celular, saiba que isso tem uma explicação: durante a paixão, os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, sobem bastante. Por isso, é normal sentir ansiedade, euforia, insônia ou falta de apetite.
Aqui vem talvez a parte mais divertida (ou trágica) da paixão. O córtex pré-frontal, responsável pelo controle dos impulsos, pela tomada de decisões racionais e pela avaliação de riscos, sendo que o córtex fica parcialmente desligado. Sabe o que também desliga o pré-frontal? Álcool.
Por isso, apaixonados e bêbados têm comportamentos parecidos: tomam decisões impulsivas, não avaliam bem as consequências, ficam desinibidos, enviam mensagens constrangedoras, fazem coisas das quais podem se arrepender depois (como tatuar o nome da pessoa em menos de um mês de relacionamento).
Paixão é uma demência temporária
No fim das contas, a paixão é um estado biológico projetado pela evolução para nos fazer criar vínculos, reproduzir e manter relações de proximidade. E, sim, ela tem prazo de validade. O cérebro não aguenta viver por muito tempo nesse estado de estresse e euforia.
Geralmente, essa fase dura entre seis meses e dois anos. Depois, ela se transforma em um amor mais estável, com base no apego e na construção, ou simplesmente acaba.
Saber disso não torna a paixão menos bonita, menos poética ou menos mágica. Pelo contrário. Entender como funciona só nos mostra o quanto somos uma mistura fascinante de biologia, emoção, história, cultura e, claro, uma loucura temporária chamada amor.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.