
Violência muda de forma, mas segue firme: o Brasil em números brutais
Anuário de Segurança revela queda nos homicídios, mas alta em feminicídios, estupros, golpes digitais e crimes contra crianças. Brutalidade só trocou de rosto
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O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) escancarou em 24 de julho de 2025, com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, um retrato que dói: a violência no Brasil não diminuiu — apenas se metamorfoseou.
Os 44.127 casos de Mortes Violentas Intencionais (MVI) em 2024, com taxa de 20,8 por 100 mil habitantes (a menor desde 2012), mascaram uma realidade perversa. A queda de 5,4% nos homicídios convive com recordes de feminicídios, explosão de crimes digitais e violência sexual contra crianças. A brutalidade, agora, usa novas roupagens para seguir intocada.
Violência letal: onde e contra quem ela age
• Geografia da morte: Enquanto o Nordeste (33,8/100 mil) e Norte (27,7/100 mil) concentram taxas alarmantes, o Sudeste (13,3/100 mil) vive sob outra lógica. Maranguape (CE) lidera o ranking municipal, com 79,9 mortes por 100 mil — cenário típico de cidades assoladas por guerras de facções.
• Perfil das vítimas: Homens jovens (91,1%), negros (79%) e mortos por armas de fogo (73,8%) seguem sendo alvos preferenciais, revelando um genocídio programado da população periférica.
• Letalidade policial: As 6.243 mortes por intervenção policial (14,1% do total) mostram um Estado que mata mais do que protege. Em São Paulo, houve aumento de 61% nessas ocorrências — caso emblemático do estudante Marco Aurélio, morto por um PM em plena Vila Mariana, área nobre da cidade.
Violências invisibilizadas
• Feminicídios: 1.492 mulheres assassinadas por serem mulheres (+0,7% em 2024), 64% delas em suas próprias casas. Dessas, 121 estavam sob medidas protetivas, prova da ineficácia de políticas isoladas.
• Infância violada: Crimes contra crianças e adolescentes subiram 3,7%, com a polícia respondendo por 19% das mortes de adolescentes. Os 87.545 estupros registrados (um a cada 6 minutos) têm como vítimas principais meninas de até 14 anos (76,8%), muitas agredidas por familiares.
A nova face do crime:
• Golpes digitais: Os 2,2 milhões de estelionatos (+408% desde 2018) mostram como a violência migrou para o virtual, com prejuízos de R$ 186 bilhões em dois anos.
• Armas e drogas: Enquanto a PF gerencia 5,4 milhões de armas, as apreensões de maconha (+21,5%) e cocaína (+10,1%) revelam um mercado criminoso em expansão.
A queda nas MVIs tem um componente demográfico irônico: o Brasil envelhece, e jovens, historicamente recrutados pelo crime, são menos numerosos. A pirâmide etária está virando e, com ela, muda também o padrão da violência.
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Envelhecer no Brasil é, acima de tudo, um ato de resistência. Num país onde a violência se infiltra na infância, se digitaliza e alcança a velhice, proteger os mais vulneráveis deixou de ser escolha ética: é urgência civilizatória. O que os números não capturam, mas o cotidiano escancara, é que sobreviver já é um privilégio. E envelhecer com dignidade, então, ainda é um luxo negado a muitos.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.