
Ser da nova geração é quem escolhe gerar, não só quem nasceu depois
Não é a idade que define uma geração, mas a coragem de gerar o novo. Quem move o presente com visão de futuro pertence à nova geração
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Quando descobrimos que uma geração não é uma faixa etária e sim o que ela gera, descobrimos que pessoas consideradas da terceira idade podem pertencer à nova geração. Para ser da nova geração, basta gerar novas coisas. Não adianta ser jovem: enquanto um jovem não gera novas coisas, ele é da – porque repete a – velha geração.
Gostei desse texto de 2013 do Augusto de Franco, consultor e escritor, que me reapareceu essa semana, como que volta para dizer: “ainda faz sentido”. A ideia de que pertencer a uma geração não tem a ver com idade, mas com a capacidade de criar e produzir algo novo é poderosa.
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Essa perspectiva ressalta que o que realmente importa é a capacidade de gerar algo novo — ideias, movimentos, sentidos — e não simplesmente a idade. Em vez de dividir o mundo entre jovens e velhos, ela nos convida a enxergar quem está, de fato, contribuindo para transformar a cultura e mover a sociedade adiante.
E isso me remeteu a dois acontecimentos recentes: um nos Estados Unidos, com o senador Bernie Sanders subindo ao palco do Coachella; e outro aqui no Brasil, com jovens políticos mais preocupados com a justiça do passado do que com o novo e turbulento mundo que acaba de surgir.
Em meio a batidas eletrônicas e aos palcos vibrantes do Coachella 2025 — um dos maiores festivais de música e artes do mundo, realizado anualmente em Indio, Califórnia —, a presença do senador Bernie Sanders, de 83 anos, carrega um simbolismo profundo. Num espaço que representa a efervescência da juventude, ele não foi ao festival para ser “o vovô descolado”, nem para fingir que tem vinte e poucos anos. Ele apareceu lá como é: octogenário, político engajado, que segue conectado com as urgências do presente – e disposto a dialogar com quem vai moldar o futuro.
Seu discurso foi direto ao pedir à juventude que lutasse contra o racismo e defendesse a justiça econômica. Ao finalizar sua fala com um chamado à mobilização, Sanders não apenas inspira, mas também reconhece que a transformação social depende da coragem jovem aliada à sabedoria prática dos mais velhos. Sua presença no festival simboliza que a política não tem idade – e que enfrentar preconceitos, sejam raciais ou etários, exige que todas as gerações se reconheçam como aliadas, não rivais.
Enquanto isso, no cenário político brasileiro, parte da suposta renovação representada por nomes como Nicolas Ferreira, Kim Kataguiri ou Hugo Motta revela uma contradição curiosa: jovens em idade, mas com agendas que parecem reféns de temáticas ancoradas no passado. Seus discursos frequentemente giram em torno de pautas revisionistas, disputas ideológicas de décadas passadas e batalhas morais que mais geram ruído do que constroem.
Em vez de impulsionar ideias para enfrentar os dilemas urgentes do século XXI — como as transformações tecnológicas, a crise climática ou a reinvenção das formas de trabalho e convívio —, preferem operar como ecos de um tempo velho. Jovens de idade, mas muitas vezes representantes da velha geração.
Ser da nova geração, portanto, não é questão de nascimento, mas do que escolhemos construir com o tempo que temos. É escolher criar, inovar e enfrentar os desafios do presente com coragem e visão de futuro, como faz Sanders ao subir no palco do Coachella — ou como falta em jovens o ímpeto de reinventar.
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No fim, o futuro não será dos jovens ou dos idosos, mas dos que se atrevem a gerar — e, nesse desafio, idade é apenas um número, não um destino.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.