No jogo de ida das oitavas de final da Copa Libertadores, em Buenos Aires, Boca Juniors venceu o Cruzeiro por 1 a 0 -  (crédito: JUAN MABROMATA / AFP)

No jogo de ida das oitavas de final da Copa Libertadores, em Buenos Aires, Boca Juniors venceu o Cruzeiro por 1 a 0

crédito: JUAN MABROMATA / AFP

 

O Boca Juniors está acostumado a jogar em La Bombonera, lotada, e me parece que seus jogadores não têm medo de pressão de torcedores rivais, em qualquer lugar do planeta bola. Porém, esta noite, no Mineirão, a história será contada de outra forma, pois 62 mil vozes empurrando o Cabuloso, rumo a classificação na Copa Sul-Americana, vão sim mostrar ao time argentino que a banda por aqui toca diferente.

 

 

É preciso dizer que o Cruzeiro ainda é um time em formação, em busca de uma identidade, que faz campanha acima do esperado, e, por isso mesmo, tem sido cobrado dos seus torcedores, que não admitem uma derrota como aquela para o Fortaleza, esquecendo-se que o time cearense é vice-líder do Brasileirão, com um jogo a menos que o Botafogo. Calma, minha gente! O time azul penou durante três anos no inferno da Série B, e somente agora, com um dono de verdade, e torcedor do clube, está buscando sua identidade de volta.


Claro que quando se cria uma expectativa positiva, o torcedor já pensa em taças, mas a construção de um grande time demanda tempo. Vale lembrar que aquele time campeão de 2013/14 começou a ser montado em 2012. É o caso agora. Como não há uma equipe referência no Brasil, o Cruzeiro briga sim pela taça do Brasileirão, mas, falando a verdade, se conseguir uma vaga na Libertadores já estará num lucro gigantesco, pois a expectativa, quando Ronaldo era dono, era a de brigar para não cair.

 

 

Hoje, o time está entre os ponteiros do Brasileiro, e com a chance de avançar na Sul-Americana. Junto com o Botafogo, estava praticando o melhor futebol do Brasil, mas houve uma queda natural, como acontece com qualquer equipe. O torcedor, passional que é, já acha que está tudo errado, e a coisa não funciona assim. É preciso entender o momento, o que era projeção de campanha e o que está sendo realizado.


Pedro Lourenço, dono do clube e dos Supermercados BH, a maior potência das Minas Gerais no ramo e um dos maiores supermercados do país, investiu mais R$ 200 milhões em reforços, mas eu avisei que nem todos encaixariam imediatamente.

 

 

Matheus Henrique não sentiu o peso da camisa, Lautaro e Barreal também não. Mas Kaio Jorge, Wallace e um ou outro ainda precisam de mais tempo de adaptação, de forma física e técnica, para renderem aquilo que deles se espera. Já vi torcedor dizendo que Kaio Jorge não deveria ter sido contratado. Calma, gente! Alex Talento foi um fiasco em 2002, mas Luxemburgo o bancou em 2003 e ele foi genial e fundamental na campanha da Tríplice Coroa. Alex sempre foi um craque de bola, mas, até mesmo os craques, vivem fases ruins, e o torcedor precisa entender. Kaio Jorge não é craque, mas é jovem e muito promissor. Eu acredito no futebol dele, mas vou dar a ele o devido tempo, para que possa mostrar aquilo que vimos quando começou no Santos, em 2019.


Estou ansioso pelo jogo desta noite, pois ver o Mineirão, ou “Toca 3”, como a torcida gosta de chamar, lotado e pintado de azul e branco, no maior clássico entre uma equipe mineira e uma argentina, é uma coisa linda. Vitória por diferença de um gol leva a decisão para as penalidades. O time argentino jogará pelo empate. Dois ou mais gols de diferença e o Cabuloso avançará.

 

Eu não tenho medo desse Boca, mas respeito, pela tradição e camisa. Se o Cruzeiro jogar metade do que jogou contra o Botafogo, se classifica, até de forma tranquila. Os argentinos vão catimbar, fazer o relógio correr e usar todas as artimanhas para conseguirem a vaga. Espero que o árbitro não olhe cor de camisa e apite de forma correta, e que nem seja notado em campo. Que vença o melhor e que esse melhor seja o Cruzeiro, que precisa dar uma satisfação a sua gente, pois os últimos resultados e a postura do time não têm agradado.

 

 

Porém, repito: o que acontecer nesta temporada é lucro, pois a expectativa no começo era uma, e agora já há possibilidade até de título. Os 14 milhões de cruzeirenses, espalhados pelo mundo, sabem muito bem o que seu clube representa na história do futebol mundial. Um gigante, temido por todos, e, principalmente, pelos argentinos. A tradição e a história contam isso.