Como destruir o futebol no Brasil
Um exemplo: reparem na atuação do Hulk na grama sintética. É uma. Na grama natural, é outra, completamente diferente
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Estamos em meio a uma discussão que, pra mim, beira as raias do ridículo. O campo de grama sintética é uma boa ideia? Olha, claro que não. E posso provar que está ajudando a matar o futebol brasileiro.
Bom, vamos ver então o que aconteceu desde que essa tal grama sintética invadiu o Brasil. É um tal de transformar campos de terra nessa grama. Sobra até para as quadras de futsal, o nome atual do futebol de salão, uma modalidade em que somos “reis” e que é formadora de atletas.
De quando vem a derrocada do nosso esporte, o futebol? Vou voltar no tempo. Aquele famigerado 7 a 1 para a Alemanha, na Copa de 2014, no Brasil. Por que esse vexame aconteceu?
Arrisco a dizer que foi o mesmo problema que ocorreu na Copa da Rússia (2018) e Catar’2022. Faltam jogadores de nível nas principais posições. Isso mesmo, não formamos mais jogadores.
E nos intervalos das Copas tivemos derrotas vexatórias para Marrocos, Senegal. Fim do nosso futebol, da Seleção Brasileira. Acabamos? Olha, foram três fracassos seguidos.
E tenho certeza de uma coisa: os 7 a 1 para a Alemanha é consequência do que acontece com o futebol nos tempos atuais.
Em 2018, na Rússia, caímos nas quartas de final para a Bélgica, com 2 a 1 no placar. Em 2022, no Catar, ficamos também nas quartas, perdendo para a Croácia, por 4 a 2, nos pênaltis, depois de 1 a 1 no tempo normal e prorrogação.
O que existe hoje, pelo menos pra mim, é um descaso para com o nosso futebol. Onde estão nossos valores, nossos craques? Bom, eles existem. Só que são vendidos muito novos para o exterior e lá fora tiram o que chamam de vícios, como o drible, nosso diferencial. Nossos jogadores ficam viciados.
Pelé despontou com 16 anos e com 17 estava jogando, e ganhando, a Copa do Mundo da Suécia, em 1958. E também tinha Garrincha. Não foram só eles, mas também Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Bellini e Nilton Santos; Zito e Didi; Vavá e Zagallo. Todos jogavam no Brasil. Começaram aqui, na base. Os times não tinham medo de lançar jovens promessas. E veio a seguir a Copa do Chile, em 1962. Com a mesma base, ganhamos novamente o Mundial.
Perdemos 1966, por arrogância. Por acharem que éramos, depois de dois títulos mundiais, imbatíveis. Chegaram a convocar 44 jogadores, para tirar 22. Pagamos caro. Muitos dos jogadores estavam velhos. Não suportavam mais a disputa de uma Copa do Mundo. Saímos na primeira fase, com uma vitória e duas derrotas. O bicampeão do mundo estava eliminado. Não me esqueço de ouvir isso, de narradores e de ler nos jornais.
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Mas veio 1970. Retomamos a nossa raiz. Veio Tostão, que se tornou profissional com 18 anos. Tinha também Edu, ponta-esquerda, na reserva, mas que se tornou profissional com 19. Era um time só de jogadores que atuavam no Brasil. Praticamente todos os jogadores haviam estreado no profissional aos 18 anos. O Brasil foi tri.
Depois veio uma baixa. Só voltamos a conquistar um título em 1994. Aí, um resgate, pois embora a grande maioria atuasse no exterior, eram jogadores que preservam a magia do nosso jogo, que por muitos anos foi chamado de “futebol moleque”. Romário, Bebeto, Cafu, Mauro Silva. Todos despontaram novos. E tinha Ronaldo, o Nazário, com apenas 16 anos. Era a volta do “futebol moleque”. Ganhamos. Tetracampeões mundiais.
Ainda veio o título de 2002, na Copa do Japão e Coreia do Sul. Penta. Novamente campeões. Brilharam Ronaldo Nazário e Rivaldo. Olha eles aí novamente. A base ainda rendia frutos positivos.
Só que de lá pra cá, nada mais. Mas repararam que os grandes talentos não existem mais. Melhor, são raros. Só consigo lembrar de dois, Vitor Roque e Endrick. Nada mais.
Até parece que querem destruir o nosso futebol. Mas por que isso acontece?
A Constituição Federal de 1988, no artigo 217, i, prevê a autonomia das entidades esportivas quanto a sua organização e funcionamento, podendo as instituições definirem quais serão as suas naturezas jurídicas.
A possibilidade de transição de associação esportiva para sociedade anônima no Brasil veio em 1993, com a Lei 8.672, também conhecida como Lei Zico. Importante ressaltar que o texto da lei, no artigo 11, não obriga os clubes a tornarem-se empresas; possibilita a eles tornarem suas gestões com fins lucrativos.
E isso abriu espaço para os campos de grama sintética, o futebol society. Esse esporte não só não serviu para revelar ninguém, como também serviu para atrapalhar o futsal. Se tornou concorrente.
Pais passaram a matricular seus filhos nessas escolinhas. Tostão, Ronaldo, Ronaldinho, Rivelino, jogaram futebol de salão. Eles e mais um monte. Assassinaram a raiz. Tiraram a habilidade que só se aprende nas quadras.
Vou mais longe. Antigamente, o futebol era praticado nas escolas. Um grande número tinha campos. Aqui em Belo Horizonte, em especial os colégios cristãos, Arnaldo, Batista, Santo Agostinho, Dom Silvério, Loyola, São Luiz Gonzaga, todos tinham campos e times.
O Colégio Arnaldo foi base para o América por um tempo. O Santo Agostinho, para o Atlético. As outras escolas, para os três times da capital. Isso não existe mais. Acabaram os campos. Fizeram quadras de futsal e de grama sintética, pequenas, para times de sete jogadores.
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Mataram a fonte, a base. Assim, não teremos mais uma seleção forte, como tínhamos no passado.
Ah, tem mais. Os clubes já não se preocupam com a base. E quando o fazem, é porque um jogador está despontando. Aí, os olhos crescem, arregalam. Enxergam negócios. Os dirigentes queriam, e os donos das SAF’s querem fazer dinheiro. Só isso.
É o fim.
E um exemplo: Hulk. Reparem na atuação desse jogador na grama sintética. É uma. Na grama natural é outra, completamente diferente. Diria que na grama natural ele joga. Na sintética, não consegue.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.