E assim nasce um clube de basquete
A história começa, pode até parecer estranho, num ambiente descontraído, o Bar do Izidro, próximo à Praça da Liberdade
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Essa é uma história pitoresca, que pode até parecer ficção, mas não é, pois o clube esportivo está aí para comprovar. Ela começa, pode até parecer estranho, num ambiente descontraído, o Bar do Izidro, próximo à Praça da Liberdade, antiga sede do Governo mineiro, onde um grupo de amigos, aficionados por basquete, decidiu fundar um novo clube. Em 1947, nascia o Ginástico.
Mas não foi uma história simples, daquelas de “vamos montar um time de basquete e pronto”. O grupo era formado por jogadores de outros clubes, como América, Atlético e alguns que jogavam em escolas. E na ânsia de criar o time e, consequentemente, um clube, em que o basquete seria a única modalidade, esbarraram no primeiro problema: o nome. Isso mesmo. Qual seria o nome? E quais seriam as cores?
No grupo estava um artista, um homem de teatro, João Etienne Filho, que, embora fosse das artes, era um aficionado pelo basquete. Era o técnico da Seleção Mineira juvenil. Ele pediu que os rapazes tivessem paciência, pois iria até sua casa e traria uma surpresa.
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Etienne saiu e retornou em pouco tempo. Voltou com um balaio. A turma estranhou. O que ele teria dentro de um balaio que poderia ajudar na montagem de um time de basquete? Seriam ferramentas? Toalhas? Ou o que mais a imaginação permitisse.
Logo, ele foi cercado. Pediu paciência. E como se fosse um mágico, colocou o balaio em cima da mesa e o cobriu com o forro da mesa. De repente, enfiou a mão e puxou alguma coisa lá de dentro. Para surpresa de todos, era uma camiseta escura que tinha um “G” no peito.
E foi logo emendando. “Esse será o nosso uniforme. Agora podemos escolher um nome, que comece com a letra G”, emendou. Os rapazes ficaram atônitos e pediram uma explicação.
Mas antes que Etienne começasse a falar, alguém gritou: “Grajaú”. “Não”, disparou Etienne, que emendou. “Esse uniforme era do Grajaú, um time que começou a jogar, mas não foi para a frente. Eu era o técnico e fiquei com o uniforme”.
Começaram a surgir propostas de nomes, até que alguém falou “Ginástica”. Etienne ponderou: “Ginástica, não, pois não tem nada a ver com o basquete e nem com um esporte de quadra.” E veio a ideia luminosa: “mas poderia ser Ginástico”.
Nascia assim o Esporte Clube Ginástico, que não tinha quadra nem sede. A diretoria foi formada, ali mesmo, no Bar do Izidro, pelos jogadores. Era preciso tornar o Ginástico uma realidade. Assim, mãos à obra. Uma sala num prédio do Centro de BH, bastante pequena, é a primeira sede. Pouco depois se muda de prédio, numa sala maior. Já está no Edifício Acaiaca, ponto nobre, no centro da capital mineira. Mas nenhum desses lugares tinha quadra. A solução foi fazer um acordo com a Polícia Militar de Minas Gerais, passando assim a mandar seus jogos na quadra emprestada da PM, no Bairro Prado. Mudou-se, pouco tempo depois, para a quadra recém-construída do Colégio Estadual, no Barro Preto.
Mas como um clube sem sede própria e sem quadra poderia sobreviver. Os rapazes decidem alugar uma casa, na Rua Ceará, Bairro Funcionários. E lá, no grande quintal, construíram a primeira quadra do “G”. O material foi doado.
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Mas as despesas eram muitas. O aluguel, caro. E era pago com uma vaquinha dos jogadores. Não tinha mais como e o Ginástico era novamente mambembe e sem quadra. Os títulos se sucederam e os “meninos” conseguiram a doação de um terreno, que ficava na Avenida Afonso Pena, final do ônibus Avenida. Hoje já não é mais o final da avenida, que cresceu, como a cidade. Está lá até hoje. A doação foi feita pelo prefeito Amintas de Barros, em 30 de janeiro de 1963.
O tempo passou e muitos atletas foram formados no clube, sendo a maior estrela o orgulho ginastino Gersão, pivô da Seleção Brasileira campeã pan-americana em Indianápolis (EUA), em 1987. E pensando sempre no basquete, o clube segue.
E a história do Ginástico está sendo revivida neste momento, pois está sendo disputado – começou sábado e vai até meados de setembro – um torneio em homenagem aos campeões de 1972.
Participam jogadores de várias idades, que defenderam a camisa do “G de prata” ao longo de seus 79 anos. O nome do Campeonato é “Isio Duffles”, em homenagem ao treinador do time. As equipes “Rui”, “Tonico”, “Humberto Gontijo” e “Alair”, em homenagem a quatro dos campeões.
Viva a memória do esporte, viva a memória do Basquete mineiro.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.