Buracos
'Buracos' porque as falhas (do Flamengo) foram enormes, principalmente a brecha entre a defesa e o meio-campo. Não havia cobertura e nem proteção
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Buracos. Pois é. Antigamente, quando Belo Horizonte tinha dezenas de campos de várzea, essa era a preocupação. Você chegava pra jogar em cada campo que a gente chamava de buraqueira.
Só que a buraqueira era útil. Nos ensinava, e muito, no controle da bola, por exemplo, como driblar, como armar uma jogada, dar o passe, fazer um lançamento. Bom, coisas que hoje parecem não importar muito, pois o que a gente vê dentro de campo, às vezes, é de arrepiar.
O cara que é chamado de jogador não jogaria há alguns anos. Não jogaria mesmo.
Mas voltemos aos buracos. Há uma semana, a empolgação. Os quatro times brasileiros na Copa do Mundo, nos EUA, a primeira disputada nesses moldes, com 32 clubes, tinham avançado às oitavas de final.
Um grande passo. Ainda mais, por enfrentar e vencer equipes europeias, as chamadas fortes.
Ainda mais se compararmos com os desempenhos dos times argentinos, Boca Juniors e River Plate, eliminados. E não tem nenhum clube uruguaio participando. Ou seja, estamos muito à frente dos nossos rivais na América do Sul. O futebol brasileiro reina, finalmente. Domina.
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Não à toa, portanto, que o Brasil conquistou as últimas seis edições da Libertadores, sendo duas vezes com o Flamengo, duas com o Palmeiras, uma com o Fluminense e outra com o Botafogo.
O Brasil manda e desmanda na América do Sul, e porque não dizer, na América Central e do Norte, já que times dessas duas confederações também participam do torneio.
Mas vieram as oitavas de final da Copa do Mundo e estas serão disputadas hoje: Real Madrid x Juventus e Borussia x Monterrey.
A primeira impressão que ficou é que nossos treinadores estão muito aquém do que se exige de um time em campo hoje. Aliás, isso acontece no futebol, não nos outros esportes. O vôlei, por exemplo, dá show de conhecimento, tanto dos nossos jogadores, do nosso time, quanto dos adversários, que são estudados. Vemos isso, também, no futsal, no basquete, no handebol, embora nestes dois últimos não estejamos entre os melhores do mundo.
Mas é que o esporte coletivo exige muito estudo, principalmente sobre o adversário, pois a partir da maneira como o time joga e a característica de seus jogadores é que se monta uma tática, para uma partida específica.
E o que aconteceu? Vimos duas vitórias europeias em cima de nós brasileiros. Digo que a superação vem da Europa, porque, na verdade, não podemos nos esquecer que o técnico do Palmeiras é português.
Isso mesmo. Pois ele mostrou ter estudado o adversário, o Botafogo. Dominou o jogo. E isso acontece, principalmente, porque não só a sua maneira de pensar, armar e trabalhar, mas porque os jogadores palmeirenses adotaram sua maneira de jogar e de pensar.
Vocês podem dizer que o Botafogo também tinha um técnico estrangeiro, e português, Renato Paiva, que foi demitido ontem. O problema é que, por mais que ele tentasse colocar um padrão na equipe, isso não aconteceu porque o time não aderiu à sua maneira de jogar, de comandar.
É preciso, acima de tudo, não só uma mudança na maneira de pensar e agir dos nossos treinadores, mas também dos jogadores. E o gol do Palmeiras veio num buraco criado por Paulinho. Um golaço. Ele soube criar espaço para finalizar e marcar.
E veio o jogo do Flamengo. Luiz Felipe, técnico do time carioca, tem se destacado por aqui. E com razão. Só que, desta vez, ele foi engolido por Vincent Company, do Bayern.
O treinador do time alemão estudou o Flamengo. E armou seu time para aproveitar os pontos fracos do adversário. Com isso, abriu espaços, que chamo de “buracos”. E, assim, chegou à vitória. Aliás, “Buracos” e falhas.
Digo “Buracos” porque as falhas foram enormes, principalmente a a brecha entre a defesa e o meio-campo. Não havia cobertura e nem proteção. Basta lembrar que dois dos gols foram de fora da área, da intermediária, quando jogadores do time alemão ficaram livres para ajeitar e chutar. No segundo e terceiro gols foi assim.
Isso sem falar no quarto gol, outro erro de saída de bola, e o Bayern encontrou outro buraco.
Sem falar, ainda, nos “buracos” dos lados do campo. O Flamengo errou saídas de bolas. Isso porque falta habilidade e inteligência? Não, não é isso. Falta o jogador de meio, o armador.
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E que essa lição seja observada. Aliás, trazendo pra cá, para o nosso futebol, o Cruzeiro faz uma ótima campanha no Brasileiro e o treinador é estrangeiro, um equatoriano que viveu e aprendeu em Portugal. Ótimo achado.
E os nossos treinadores, hein? Por isso não temos mais comandantes de nível e é preciso importar. Tá difícil. Eis aí mais um “buraco”.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.