
Casa Rosada Gasmig Minas abre as portas e expõe sua beleza
Primeira visita guiada pelo arquiteto Ulisses Morato foi realizada durante evento comemorativo ao aniversário dos 90 anos do Minas Tênis Clube
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Os 90 anos do Minas Tênis Clube estão rendendo presentes importantes para a memória de Belo Horizonte, como a Casa Rosada Gasmig Minas, que recebeu pela primeira vez, sábado passado, grupos de visitantes para conhecer o espaço. A Coluna esteve lá e garante: o prédio é uma beleza, de encher os olhos. A Casa, projetada em 1929 por Luiz Signorelli, e que por muitos anos pertenceu a Miguel Maurício da Rocha – um dos fundadores da Faculdade de Filosofia da UFMG e um dos maiores acionistas do antigo Banco da Lavoura – e Maria Cecília da Rocha, escritora e poetisa, é importante para manter viva a história de Belo Horizonte. Por isso, até o fim do ano, uma exposição contando a história da capital mineira estará aberta no local.
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• LUIZ SIGNORELLI
O arquiteto Ulisses Morato, doutor em arquitetura pela Universidade de Lisboa, especialista em construção civil pela UFMG, arquiteto pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix e, entre outras coisas, editor da página Arquitetos de Belo Horizonte, guia a visita de sábado. Ele aponta, a pedido da coluna, os cinco pontos de destaque da Casa Rosada. Abre sua seleção lembrando a relevância do arquiteto que a projetou: Luiz Signorelli, um dos mais importantes profissionais da área a atuar em Belo Horizonte no século 20, nascido em Cristina, Minas Gerais, e formado em arquitetura pela Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), no Rio de Janeiro, em 1925, sendo um dos primeiros arquitetos mineiros diplomados a atuar na capital. "Projetou várias obras que hoje fazem parte do patrimônio cultural da cidade, como o casarão da Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia); a antiga Secretaria de Segurança Pública (atual CCBB), na Praça da Liberdade; o Automóvel Clube (Av. Afonso Pena com Álvares Cabral); o Hotel Sulamericano (Av. Amazonas com Caetés); e o Palacete da família Falci (Av. Bias Fortes)", cita. " Em 1930, Signorelli foi um dos fundadores da Escola de Arquitetura de BH, onde exerceu os cargos de professor e diretor.
• SIMBOLOGIA FEMININA
Em relação à arquitetura da Casa Rosada propriamente dita, o que mais chama a atenção, segundo Ulisses Morato, é a simbologia feminina, sobretudo pelas representações da flor que está presente no nome atual da casa, a rosa. "Em vários elementos, o arquiteto trabalhou ornamentos inspirados nessa delicada flor: nos capitéis jônicos das colunas da fachada (a ordem jônica era empregada em templos gregos dedicados a divindades femininas); no vitral interno junto à escada; nos relevos em forma de botões na arquitrave do pavimento superior da fachada frontal; nas tranças da figura feminina representada no relevo sobre o arco de entrada da garagem; nos relevos que compõem as sancas internas da sala de jantar principal; e na própria cor da casa, cuja originalidade foi comprovada, inclusive, pelas prospecções pictóricas".
• INTERCONEXÕES INTERNAS
Segundo Morato, outro ponto que chama a atenção na conformação arquitetônica do imóvel é a setorização das funções da casa e a possibilidade de múltiplas interconexões internas dos cômodos que a compõem. "Ao analisar o seu projeto original (que corresponde à distribuição atual), identificamos que a sala de jantar nobre fica no térreo, ligada ao alpendre frontal, conferindo grande destaque às refeições e às ocasiões em torno da mesa – que, dada a inserção social dos proprietários, provavelmente eram de uso constante, já que existe outra sala de jantar, mais interna, para o uso cotidiano", diz. "Por outro lado, a sala de visitas situa-se no andar superior, conectada a três terraços voltados para a rua. Isso indica que o ato de receber tinha importância substancial para os moradores – pelo fato de essa função doméstica ser exercida na parte elevada da casa e por estar acoplada a agradáveis terraços –, além de o acesso se dar pela pomposa escadaria de madeira, emoldurada por um belo vitral colorido. Ulisses destaca ainda o fato de todos os cômodos terem portas em diferentes paredes, o que possibilita inúmeras conexões entre eles "e, portanto, uma diversidade de usos e funções pouco comum nas casas atuais. Um exemplo notável é o escritório, cujas portas o conectam ao alpendre, à sala de jantar nobre e ao hall.
• MADEIRAS NOBRES
Outro destaque, aponta Morato, é a presença marcante da madeira na composição dos espaços internos. Trata-se de um aspecto primordial para a ambientação da casa, fator que certamente conferia aos moradores e visitantes a plena sensação de conforto e acolhimento. "As madeiras nobres foram utilizadas abundantemente no interior do imóvel, estando presentes nos pisos de parquet, nas portas e janelas, na escadaria principal e nos painéis almofadados da sala de jantar de uso cotidiano. Além do aconchego, as madeiras trabalhadas em tons claros e escuros, combinadas em variados desenhos geométricos, proporcionam magníficas experiências estéticas no interior da casa", observa.
• GARAGEM
Por último, a garagem é outro ponto que chama a atenção. "Embora seja um espaço funcional da casa, tem carga simbólica significativa quando se considera a época da construção do imóvel. Nos anos 1930, ter garagem significava pertencer à elite social e econômica da cidade, pois o acesso a automóveis particulares era restrito a um pequeno e privilegiado grupo da população. Além disso, o automóvel era um símbolo de modernidade – por ser um dos objetos mais sofisticados da era industrial e por ter revolucionado os meios de transporte privado, sobretudo nas cidades", conclui Ulisses Morato.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.