Gustavo Nolasco
Gustavo Nolasco
DA ARQUIBANCADA

Abram alas, o banco chegou

O banco de reservas do Cruzeiro foi quem conquistou uma das viradas mais incríveis do Brasileirão. Com direito a gol de placa de Gabriel

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“Osvaldo... Macalé, não, Osvaldo...” O cruzeirense que viveu os primeiros anos da década de 1990, principalmente no interior de Minas Gerais, acompanhando as partidas do Cabuloso pelo rádio, lembra com clareza dessa frase em tom de lamento e revolta.

Ênio Andrade, até aqui, o maior treinador da história do Cruzeiro, não era muito de se levantar à beira do gramado. Mesmo porque, naquela época, não era permitido aos treinadores permanecerem ali. Carrancudo quando o time não ia bem, o gaúcho se mantinha sentado, de braços cruzados.

Com a demora do sair um gol, a Nação Azul iniciava um burburinho nas arquibancadas. Queria mudança, mas em respeito ao amado “Seu” Ênio e solidária à falta de opções, não era de entoar gritos, exigindo alterações a qualquer custo.

Desolado, Ênio Andrade olhava para o banco de reservas e sempre chamava a única opção, um meio campo recém-promovido da categoria de base. Quando o garoto correria para receber as orientações do treinador, de pronto, o barulho do rádio traduzia a imagem do Vibrante quase de joelhos, implorando clemência e soltando um apelo ao comentarista Osvaldo Faria: “Osvaldo... Macalé, não, Osvaldo...”.

A primeira substituição do futebol mundial aconteceu na Copa do Mundo de 1958, na partida entre União Soviética e México, quando o soviético Serebrjanikov se lesionou e deu lugar a Puzach. Até então, mesmo se um jogador quebrasse a perna, ele não poderia ser trocado. Os times jogavam com um a menos.

A troca por cansaço, alteração tática do treinador ou por ruindade de bola mesmo, e não só por lesão, foi institucionalizada como regra só a partir de 1970. Se jogasse antes dessa época, muito provavelmente, Macalé nunca teria entrado em campo.

Hoje, 55 anos depois, montar um elenco completo, com bons jogadores reservas, já é naturalidade no futebol mundial. Nos tempos atuais, do futebol mercantilizado e quase sem nenhuma poesia, isso se potencializou. Ter mais do que apenas onze titulares de excelência é algo caríssimo, o que torna a disputa ainda mais desigual. Isso porque quem possui mais dinheiro, tem mais possibilidade de contratar jogadores de qualidade (e caros) para compor o elenco e, consequentemente, ter um banco de reservas pronto para ser titular quando o treinador precisar.

Na atual temporada, o discurso era uníssono entre os boleiros e os balangadores de beiço das mesas redondas das TVs e dos canais das redes sociais: “o Cruzeiro tem um bom time, mas não vai disputar os títulos porque não tem peças de reposição”. Como se time de futebol fosse um carro na oficina ou o almoxarifado de uma grande indústria.

Até que veio a noite da última segunda-feira, quando o Cabuloso tomava um sufoco do Bahia. O time de Rogério Ceni, leve, rápido, obediente taticamente e com atacantes dribladores, não dava chance aos comandados de Leonardo Jardim de dominarem a peleja.

Gol do Bahia. Da lateral do campo, iniciou-se uma sequência de substituições no time estrelado. A principal delas foi a troca de todo o setor ofensivo, com a entrada da trinca de atacantes – Gabriel, Sinisterra e Keny Arroyo – e uma clara mudança de estratégia tática de Leonardo Jardim (ele não tinha mais só Macalés).

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O banco de reservas do Cruzeiro foi quem conquistou uma das viradas mais incríveis do Brasileirão. Com direito a gol de placa de Gabriel e a quebra de uma sequência de um ano sem derrotas do Bahia jogando nos seus domínios.

Impressiona como a diretoria da SAF Cruzeiro teve tranquilidade, humildade e inteligência para aproveitar a janela de contratações para corrigir o nosso ponto fraco: a falta de variações disponíveis entre os suplentes.

Ao conseguir pensar as novas contratações para reforçar o elenco com números, análises técnicas sérias e estratégia de médio e longo prazo, Leonardo Jardim deu mais um passo para nos livrar da herança de Alexandre Mattos e da Patota de Playboys de Sapatênis de Ronaldo Nazário.

Abram alas, o banco de reservas do Cruzeiro chegou!

 

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