Leon Myssior
Leon Myssior
Leon Myssior é Arquiteto e Urbanista, sócio da incorporadora CASAMIRADOR, fundador do INSTITUTO CALÇADA e acredita que as cidades são a coisa mais inteligente que a humanidade já criou.
GELEIA URBANA

Nada é mais ESG do que um prédio retrofitado

Regeneração das zonas centrais das cidades e programa de retrofit de prédios são o antídoto contra invasão e ocupação de áreas de proteção ambiental por favelas

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O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) promoveram, nesta última semana, um fórum voltado para desenvolvimento urbano, iniciativas e formas de financiamento. A temática é bastante ampla e o universo de casos, quase infinito; o fórum poderia se estender por semanas com casos e iniciativas ao redor do mundo, tal a importância do tema e os esforços mundiais. A organização do evento foi feliz na curadoria, que espelha o cenário atual e direções possíveis.

Cada grande área tem um léxico particular, com terminologia própria e acrônimos amplamente utilizados, e recorrentes. Revitalização, vitalidade, regeneração, recuperação, sustentabilidade, resiliência, patrimônio, densidade. Com a proximidade da COP30 em Belém, o léxico do clima, com maior ou menor grau de emergência, também estava presente. Pela própria feição do anfitrião, o léxico social também, e o acrônimo ESG foi continuamente lembrado e louvado, usado sem moderação como uma espécie de “selo de bom-mocismo” ou chancela de “bem intencionado”.

O ESG me lembra, hoje, a moda da ISO 9000 no início dos anos 2000, que prometia eliminar desperdícios e aumentar a produtividade global. Abraçar a ISO era a garantia de que tudo funcionaria dentro das empresas, e que a qualidade dos serviços prestados e produtos fabricados estaria, magicamente, em um novo patamar. Não que não fosse importante, nem trouxesse melhorias reais (porque sim, trouxe, para quem implementou direitinho), mas foi o afã com que foi apresentado, a exigência exagerada, a urgência para que toda e qualquer empresa estivesse imediatamente certificada, e a divisão do mercado entre quem tinha o certificado e quem não tinha, que transformaram uma boa iniciativa num mercado cativo de consultorias cada vez menos relevantes, e mais pasteurizadas.

O acrônimo (ESG) é tão amplo e abrange tantas coisas que permite as interpretações mais diversas sobre seus os objetivos. Cada empresa, cada entidade, não raro, escolhe investir quase que num dos aspectos apenas, dando forma a uma interpretação muito particular do ESG, pervertendo a própria essência e comprometendo os avanços possíveis.

Eu também tenho a minha versão particular do que seja (e para que serve) o ESG, e não perdi a chance de a expor, na seção de perguntas de um dos ótimos painéis do fórum, que tratava de revitalização de zonas centrais das cidades, formas de financiamento e, claro, retrofit de prédios desocupados.

Mais do que uma pergunta, era mesmo a formulação de um pensamento sobre a importância que o retrofit de prédios sem uso (ou propensos para atualização e uso residencial) tem: um prédio existente, ao ser retrofitado, não gera demolição expressiva, não gera material para transporte e descarte, não exige escavação e terraplenagem, não demanda transporte de terra e bota-fora, não consome madeira na confecção das fôrmas da estrutura, não consome ferragem e concreto, escoras e tanto material e equipamentos entrando e saindo, quase não demanda tijolos. E fica melhor, porque todos os sistemas prediais, equipamentos e instalações que serão atualizados ou refeitos, serão por versões mais modernas e com consumo de água e energia muitíssimo otimizados. Os elevadores serão modernizados ou substituídos e os sistemas de segurança incrementados. A edificação será recuperada, e o quarteirão passará a contar com - ao menos - um ponto revitalizado, a irradiar segurança, movimento e beleza.

Se for pensar, nada mais ESG numa cidade. Nada mais ambientalmente sustentável, nada mais socialmente defensável, nada mais positivo para a governança das zonas centrais. Em qualquer dimensão, sob qualquer ótica, retrofitar prédios e repopular (ou aumentar a densidade) as zonas centrais deveria ser o “carro-chefe” na agenda ESG urbana.

A regeneração das zonas centrais e o programa de retrofit de prédios são o antídoto contra a invasão e a ocupação de áreas de proteção ambiental por favelas. E essa é a imagem que os visitantes da COP 30 levarão de Belém e do Brasil, uma das cidades com menor índice de coleta e tratamento de esgoto, com um enorme contingente de sua população morando em favelas e palafitas em áreas protegidas, e num nível de degradação ambiental severo. Se a ideia da COP 30 é impactar o visitante para as consequências da falta de planejamento urbano, do espalhamento da cidade, do risco de administrações municipais ruins e da corrupção, o recado será dado, e será impactante.

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Mas se a ideia era mostrar caminhos, deveriam ter feito na cidade do Rio ou em Porto Alegre, cidades que já se movimentam na direção correta, tendo a regeneração das zonas centrais e a mitigação de riscos naturais como plataforma. Em ambos os casos (assim como em qualquer outra metrópole), a regeneração das zonas centrais e o retrofit em particular são as estrelas reais do ESG e os veículos para um futuro melhor.

O painel no fórum do BNDES e do BID reconhecem essa realidade, na medida em que trazem incorporadores imobiliários para o debate e para a equação. E a COP 30, trará quantos?

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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