Leon Myssior
Leon Myssior
Leon Myssior é Arquiteto e Urbanista, sócio da incorporadora CASAMIRADOR, fundador do INSTITUTO CALÇADA e acredita que as cidades são a coisa mais inteligente que a humanidade já criou.
GELEIA URBANA

Produzir a cidade

Agentes que participam na produção da cidade precisam agir com responsabilidade, e mantidos sob vigília e escrutínio constante. Isso é accountability

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Existem prédios criados por arquitetos desconhecidos, prédios criados por arquitetos renomados e, mais recentemente, prédios assinados por marcas de luxo como Mercedes, Porsche, Aston Martin e Armani. Atualmente na moda, ainda, prédios assinados por designers de carros e objetos, como Pininfarina (apelidados de “Pininfarofa” pelo jornalista Raul Juste Lores) e outros.

Mas é necessário qualificar e esclarecer que a beleza, o senso de proporção, a atemporalidade e - até mesmo - o sucesso de vendas não estão, necessariamente, relacionados à contratação de marcas e designers de carros. É importante lembrar que a percepção de que determinados prédios sejam acolhidos na categoria dos clássicos e atemporais ainda vai levar 30 ou 40 anos para dar a primeira resposta.

Tomemos como exemplo os prédios em estilo pós-moderno construídos nas décadas de 1980 e 1990: a resposta já está aí, e o quadro não é bonito: são prédios considerados datados, obsoletos e defasados, verdadeiros “patinhos feitos” no mercado imobiliário (quando não, cafonas). Os edifícios Niemeyer e JK, em Belo Horizonte, por outro lado, foram projetados por Oscar Niemeyer (nessa época mais conhecido dentre os “iniciados” e admiradores do que pelo grande público e o mercado imobiliário), e estão dentre os mais valorizados e demandados pelo mercado imobiliário, mais de 60 anos depois. Da mesma forma, estão nessa “liga” dezenas de prédios no Rio, São Paulo, Salvador, Curitiba, Porto Alegre, sempre demandados, e mais valorizados a cada ano.

A lógica é simples: o que é realmente bom permanece valorizando; o que é só “famoso” pode até performar bem no lançamento, mas não sustentará valorização no longo prazo. Enquanto o primeiro é uma reserva de valor real e seguro, que merece ser mantido, o segundo precisa ter uma abordagem mais especulativa, na qual o investidor precisa necessariamente comprar com desconto no lançamento, já pensando na revenda antes mesmo do empreendimento ser entregue. Pode ser lucrativo, mas o perigo se manifesta no curto prazo, e tende a performar mal se mantido em carteira. Um baita risco.

Se o seu interesse é especular, aposte em assinaturas, em prédios com muito led na fachada e áreas comuns exageradas (que geram taxas de condomínio sempre altas). Mas se o seu negócio é patrimônio seguro, visão de longo prazo, valorização crescente e constante, aposte sempre na arquitetura, independentemente de quem assine o projeto ou execute as obras: aposte no ineditismo, no bom gosto, na beleza, num projeto de arquitetura realmente interessante, único, e numa área comum econômica que gere taxas de condomínio enxutas.

A boa performance de venda dos projetos assinados por marcas e designers não vem por acaso, e é fácil de entender: quem contrata esse tipo de projeto sempre investe muito mais do que o habitual na divulgação e no esforço de venda, e acaba atraindo, na maior parte dos casos, especuladores e investidores sem qualquer vínculo com o local e com a cidade. Lançamentos ancorados em arquitetura realmente boa, ao contrário, aproveitam a energia orgânica, o boca a boca, e tem menor custo de venda, atraindo um público mais leal e mais saudável para o bairro e para a cidade (os moradores e pessoal do comércio que compõe a comunidade que vitaliza a cidade).

Cada um faz o que gosta, e não há porque criticar quem faz do sucesso nas vendas o sucesso do empreendimento, mas também não há porque eximir empreendedores que produzem bibelôs brilhantes que tornam cada quarteirão um espaço sem identidade, desconexo, estranho. A boa arquitetura irradia benefícios para todo o quarteirão, assim como prédios estranhos e desconectados deprimem toda uma região.

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Quem “faz” prédios não faz apenas negócios, mas participa da construção da cidade, e aí há uma responsabilidade, um compromisso com a comunidade, nos práticas a serem observadas, traduzido naquilo que os norte-americanos chamam de accountability, ou a obrigação de “responder por”.

Um prédio não é apenas um prédio, mas uma nova peça nesse quebra-cabeça chamado cidade, e quem assume produzir essas novas peças precisa responder por suas ações, boas ou más. A crítica é mais do que importante, é necessária.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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