
Nova York e a bigorna da realidade
"Quando as pessoas desejam o impossível, somente os mentirosos podem satisfazê-las"
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Zohran Mamdani seria somente um inútil deputado na assembleia do estado de Nova York, mas disputou as primárias do partido Democrata para a prefeitura da cidade de Nova York, e venceu.
Venceu com uma retórica barata, vazia, alternando mensagens de ódio e uma cartilha socialista surrada, mas requentada numa embalagem moderninha, endereçada sobretudo aos jovens e à parcela desiludida da população, aqueles cujos esforços já não são capazes de garantir uma participação na roda da prosperidade norte americana. O discurso, metódica e cientificamente ajustado, segue a cartilha descrita no excelente livro “Os Engenheiros do Caos”, por Giuliano da Empoli, em 2019.
Os principais ingredientes são a insatisfação e o rancor, cozidos num fogo brando de doutrinação lenta e constante, embalados nos estereótipos socialistas dos anos 1970. A única novidade, aqui, é a modulação do discurso para cada um dos subgrupos que se pretende atingir na campanha, inflamado e recheado de ódio contra um determinado grupo quando se dirige para as facções mais extremadas; ou, numa outra abordagem, com mensagens empáticas e alinhadas com a verborragia moderna do bom-mocismo, do politicamente correto e das diretrizes de equidade e inclusão, sempre “passando o recado” de que “nós” somos “do bem”, e “eles” não são. Num caso ou noutro, a disputa política é sempre apresentada como uma questão de sobrevivência, uma guerra cultural e campal, e que trata do futuro do planeta.
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Por tudo o que li até aqui, acredito que Zohran Mamdani vença a disputa e assuma a prefeitura de Nova York, e aí começa o problema real porque, se as campanhas têm como objetivo sinalizar as políticas que cada candidato pretende adotar em sua gestão, as de Zohran não poderiam ser mais tolas, mais impróprias e com uma enorme quantidade de tentativas fracassadas, para além de opiniões pessoais e preferências políticas.
O candidato propõe comprar prédios para transformar em comunas urbanas, congelar e limitar aluguéis na marra, desapropriar imóveis e mais uma sequência de obscenidades na mesma linha, desejando arrastar a cidade por caminhos conhecidos e que jamais deram certo. Pior, por razões que qualquer estudante da sexta série é capaz de entender: reduzir a oferta só aumenta o descompasso entre oferta e demanda, e gera escassez; escassez gera… aumento e inflação. Reduzir a oferta “na marra” gera… desinvestimento, e desinvestimento gera… (pois é, você já entendeu: todos os caminhos levam à redução na oferta e, inexoravelmente, ao aumento nos custos).
A saída, para um tolo autoritário (como vem se apresentando o candidato), é seguir dobrando a aposta (ou “dobrando a meta”, nas palavras de uma luminar brasileira), cujo resultado não será outro que não a expulsão das empresas e dos negócios, comprometendo os empregos então existentes e, com eles, a demanda. Com a demanda prejudicada pela redução dos empregos, a depender do grau de piora, talvez até mesmo uma oferta degradada e obsoleta, favelizada, possa atender aos poucos que sobram, e a preços “justos” (esse processo é amplamente conhecido e documentado). O negócio é que, nesse estágio, a Nova York já não será a cidade que é, mas provavelmente a Nova York das décadas de 1970 e 1980: insegura, violenta, decadente, suja e pobre.
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A proposta do candidato só poderia prosperar se a municipalidade tivesse orçamento para comparecer eternamente (e em volumes astronômicos), preenchendo o “gap” financeiro necessário entre a oferta e a demanda. Se não tem - e não pode imprimir dinheiro - o que resta é achacar os negócios e empresas locais com mais taxas e impostos, estratégia que só resiste até o fechamento dos negócios locais e a transferência das empresas para outros locais menos hostis.
Zohran Mamdani é algo entre um tolo ou, simplesmente, um mentiroso habilidoso. Independentemente do que seja, ignorar que a única saída para conter pressão no lado da demanda é o excesso de oferta coloca Nova York numa rota de caos anunciado, desorganização do mercado (talvez por décadas), resultando em um - inexorável - empobrecimento da cidade.
A isso chamamos “bigorna da realidade”, e quando a bigorna vem, não há discurso de ódio ou promessa vazia que consiga preencher o vazio e o fracasso, porque, como disse Thomas Sowell, “quando as pessoas desejam o impossível, somente os mentirosos podem satisfazê-las”.
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Que esses ventos jamais soprem pelos nossos lados.
Nota de rodapé: Vejo futuro no aluguel social, sujeito a 3 condições: (1) quando em unidades construídas com esse propósito, (2) a partir de estímulos claros e expressivos, e (3) em quantidade compatível com a demanda, sem impacto na quantidade destinada ao mercado imobiliário aberto, sem estrangulamento da oferta (ou seja, super ofertando o mercado, subsidiando ou não a parcela destinada ao aluguel social).
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.