Leon Myssior
Leon Myssior
Leon Myssior é Arquiteto e Urbanista, sócio da incorporadora CASAMIRADOR, fundador do INSTITUTO CALÇADA e acredita que as cidades são a coisa mais inteligente que a humanidade já criou.
GELEIA URBANA

Criatividade requer tenacidade

Quando você se perder, aprenda a esculpir um novo caminho

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Todo mundo conhece a Avenida Senhora do Carmo, aquela mesma antiga rodovia federal que "começava” na Savassi, em BH, e “terminava” na cidade do Rio. Aos poucos, a BR3 foi ganhando vizinhos, acessos e construções ao longo do trecho entre a Savassi e o Belvedere.

Mas, transitando por ali, ainda é difícil saber se estamos em uma rodovia ou em uma via urbana de grande porte. 

A dificuldade de compreensão vem de sinais opostos, como suas dez pistas, pela baixíssima densidade de construções horrendas, galpões muito feios e lojas para lá de desanimadas. Em oposição à ideia que ainda seja uma rodovia, nesse cenário de feiura extrema, sinais de trânsito a cada 100 metros, trânsito sempre arrastado, uma infinidade de placas, esquinas, cruzamentos e o conjunto de prédios mais derrubadinhos, feios e largados da Zona Sul.

Ao fim do dia, pouco importa se ainda é uma rodovia ou uma via urbana. O que importa mesmo é que é uma artéria essencial para a cidade, mas feia, desorganizada e, agora entrando no assunto que me interessa, com baixíssima altimetria e baixíssima densidade, um contra-senso absurdo para um local com tanta visibilidade, tanta demanda e tamanha infraestrutura.

Eu sei, já me cansei de escutar, que não se pode construir muito onde o trânsito já é ruim, porque “induz” mais trânsito e atrai mais carros. Se essa é a lógica, podemos construir prédios de 50 andares ali pelos lados de Alphaville, ou em Lagoa Santa, onde há bastante espaço para estacionamentos, e novas avenidas para os carros dos moradores.

Sarcasmo à parte, acabei de salvar uma citação dizendo que “criatividade requer tenacidade”, e sua explicação de que “A maioria de suas realizações serão demonstrações de determinação, não de talento. Quando você se perder, aprenda a esculpir um novo caminho. Quando a escuridão se aproximar, aprenda a acender a luz. Quando você não consegue ver as coisas claramente, aprenda a olhar através dos olhos dos outros. Cada conjunto de condições adversas no ato de criação pode levar a um conjunto mais amplo de habilidades. As recompensas pela perseverança estão sempre esperando apenas do outro lado do que achamos impossível”.

Resumindo e parafraseando Albert Einstein, “se você quer um resultado diferente, faça diferente”: façamos prédios enormes ao longo da Avenida Senhora do Carmo sem garagem e sem vagas de estacionamento, só para variar um pouco, para moradores urbanos que não têm carro e deslocam-se a pé, de bicicleta, transporte público ou táxi.

A nova geração, aquela que vem vindo, é assim, descolada, gosta de voar leve, andar a pé, ver a cidade. Não se importa com carro ou garagem, mas se importa com imóveis de preço acessível e condomínio baixo, mesmo se a metragem for pequena. A academia é uma das do bairro, assim como são a padaria, os restaurantes, as lojas, os cafés e tudo o mais que possa ser alcançado à distância de uma breve caminhada.

Melhor que isso, só se as empresas - e os empregos - também estiverem próximas, na mesma região, no mesmo raio de caminhada.

Essa é a massa de compradores de imóveis que não pode - e não deve - ser ignorada, e muito menos menosprezada. Suas necessidades são outras completamente diferentes das que têm as famílias com filhos, e, de mais a mais, esse perfil de imóvel nada mais é do que o primeiro imóvel dessa geração.

Formação de patrimônio logo cedo, com formação de poupança, estímulo do mercado imobiliário e vitalização da cidade, servindo como plataforma para que esses jovens, um pouco mais à frente, partam já de um ativo para seu próximo imóvel, talvez com outras características mais talhadas ao momento de vida de alguém de amadureceu aproveitando o melhor do que a cidade pode oferecer em termos de infraestrutura, oferta de emprego, educação, saúde e lazer.

Nada mais de se mudar para longe, perder preciosas horas no trânsito todos os dias, não aproveitar a cidade, não ter como continuar a se aperfeiçoar educacional e profissionalmente.

Trinta anos atrás, as pessoas passavam pela BR3 para ir ao Rio; hoje passam pela Avenida Senhora do Carmo para absolutamente nada, porque ali continua sendo um “não lugar", uma fenda - feia e barulhenta - na cidade, sem calçadas e sem uma ciclovia que seja.

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Nota: sobre calçadas, recomendo o trecho em frente à loja Petz, uma calçada (refeita esses dias) com menos de um metro de largura, interrompida por postes e árvores. Aquele trecho resume e dá concretude à falta de lógica que, muitas vezes, impera em meio ao excesso de regras criadas dentro de gabinetes.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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