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Muito além do bisturi, a cirurgia reparadora infantil é um gesto de recomeço. Em casos de malformações congênitas ou deformidades adquiridas, o que está em jogo não é apenas a estética, mas a função, a saúde emocional e a dignidade da criança. Fissuras labiopalatinas, craniossinostoses e outras alterações da face ainda são vistas, por grande parte da sociedade, como deformidades isoladas.
No entanto, carregam um impacto profundo na forma como essas crianças se enxergam e são vistas pelo mundo.A Dra. Clarice Abreu, médica cirurgiã plástica e craniomaxilofacial com ampla atuação em hospitais públicos e privados, explica que a reconstrução vai além da anatomia. “Cada cirurgia que realizamos não corrige apenas um traço. Corrige o olhar que a criança recebe da escola, o espaço que ela ocupa na família, a forma como ela vai sorrir em fotos, se apresentar na adolescência, se sentir aceita”, afirma.
A médica reforça que o objetivo principal não é criar um padrão estético, mas restaurar o que foi comprometido pela malformação. “A cirurgia plástica reparadora não busca transformar rostos em modelos. Ela devolve funções básicas como respirar, mastigar, falar com clareza, e, principalmente, a liberdade de viver a infância sem constrangimento”, explica.Segundo Clarice, a aceitação da criança no meio social também passa por esse processo de reconstrução. “A escola é um ambiente de validação. Quando uma criança sofre bullying por conta da aparência, isso afeta o desempenho escolar, a socialização, e até o desenvolvimento emocional.
A cirurgia, nesse caso, atua como ferramenta de inclusão”, ressalta.Ela também destaca a importância do envolvimento familiar em todo o processo. “A família precisa estar orientada, fortalecida e consciente de que o acolhimento emocional é tão necessário quanto a intervenção técnica. Uma criança segura em casa tende a lidar melhor com os desafios externos”, comenta.
A médica acredita que, com mais informação, será possível combater o preconceito que ainda existe em torno da cirurgia plástica em crianças. “Muitos associam esse tipo de cirurgia à vaidade, quando na verdade, é uma reparação funcional e social. É uma medicina que toca o físico e o simbólico, que cura feridas visíveis e invisíveis.”Por isso, ela defende que a cirurgia reparadora infantil receba mais atenção da sociedade e dos próprios profissionais de saúde. “Quando a gente reconstrói um rosto, a gente reconstrói também o pertencimento, a segurança, o direito da criança de ser vista e acolhida como ela merece”, finaliza a Dra Clarice Abreu
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.