Fabiano Moraes
Fabiano Moraes

Oficinas de Conserto de Microondas Registram Boom em Belo Horizonte

A pandemia mudou muitos hábitos dos brasileiros, e um deles está movimentando discretamente a economia de Belo Horizonte: o conserto de microondas.

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BELO HORIZONTE - A pandemia mudou muitos hábitos dos brasileiros, e um deles está movimentando discretamente a economia de Belo Horizonte: o conserto de microondas. Pequenas oficinas espalhadas pela cidade relatam filas de espera e agenda lotada, fenômeno que especialistas atribuem à combinação entre crise econômica e maior consciência sobre sustentabilidade.

Na oficina do seu Manoel, no bairro Carlos Prates, a mudança é visível. "Antes atendia uns 15 microondas por semana. Hoje são quase 50", conta o técnico de 62 anos, que trabalha com eletrodomésticos desde os anos 80. "O pessoal está descobrindo que vale a pena consertar mesmo."

Inflação Muda Comportamento do Consumidor

Os números do setor confirmam a percepção dos profissionais. Pesquisa realizada pelo Sindicato dos Técnicos em Eletrônicos de Minas Gerais mostra que 73% dos consumidores agora consideram o conserto antes de comprar um aparelho novo, percentual que era de apenas 31% em 2019.

"A inflação dos eletrodomésticos foi brutal. Um microondas que custava R$ 300 hoje não sai por menos de R$ 500", explica a economista doméstica Ana Paula Ribeiro, da Universidade Federal de Minas Gerais. "Quando o conserto custa R$ 100, a conta é simples."

Fernanda Lima, funcionária pública de 41 anos, exemplifica essa nova realidade. Moradora do bairro Buritis, ela levou seu microondas Electrolux para conserto após 6 anos de uso. "Estava pronta para comprar outro, mas minha irmã me convenceu a tentar consertar primeiro. Economizei R$ 350 e o aparelho está funcionando perfeitamente há 8 meses."

Técnicos Relatam Sobrecarga

O aumento da demanda pegou muitos profissionais desprevenidos. Júlio César, que mantém uma oficina no bairro Sagrada Família, precisou contratar um ajudante. "Não consigo dar conta sozinho. Tem dia que chegam 12 microondas aqui", relata.

A situação se repete em outras regiões da cidade. No bairro Venda Nova, a oficina de Marcos Antônio tem lista de espera de uma semana. "Tive que parar de aceitar serviço externo. Só atendo quem traz o aparelho aqui", explica.

Defeitos Revelam Padrões de Uso

Os técnicos notaram mudanças também no tipo de problema mais comum. "Antes era mais defeito por desgaste natural. Agora vejo muito microondas queimado por sobrecarga", observa Cláudio Santos, que atende a região da Pampulha.

Durante o trabalho remoto, muitas famílias passaram a usar mais intensamente os eletrodomésticos. "Tem gente que usava o microondas só para esquentar leite. Na pandemia, virou praticamente um fogão", brinca Manoel.

Os defeitos mais relatados pelos profissionais incluem:

  • Magnetron queimado por uso excessivo
  • Problemas no sistema de ventilação
  • Desgaste prematuro das travas de segurança
  • Sobrecarga no sistema elétrico

Mercado Informal Cresce

O aquecimento do setor também impulsionou o mercado informal. Grupos de WhatsApp e redes sociais se tornaram vitrines para técnicos autônomos. "Tem muito 'curioso' oferecendo serviço barato, mas sem conhecimento técnico", alerta Antônio Magalhães, presidente da Associação dos Técnicos em Eletrodomésticos.

A falta de regulamentação preocupa os profissionais estabelecidos. "Microondas trabalha com alta tensão. Conserto mal feito pode causar acidente grave", adverte.

Peças Nacionais Ganham Espaço

A dificuldade para importar componentes durante a pandemia forçou uma adaptação no setor. Fornecedores nacionais de peças de reposição relatam crescimento de 85% nas vendas desde 2020.

"Antes só trabalhava com peça original importada. Hoje uso muito componente nacional, que está com qualidade boa e preço melhor", conta Roberto Ferreira, técnico do bairro Barreiro.

Perspectivas para o Setor

Especialistas acreditam que a tendência deve se manter mesmo com eventual melhora da economia. "Houve uma mudança cultural. As pessoas descobriram que consertar pode ser mais inteligente que trocar", avalia o economista Paulo Henrique Santos, da Fundação João Pinheiro.

Para os consumidores, os técnicos recomendam pesquisar antes de escolher onde consertar. "Procure alguém com experiência e que dê garantia. Microondas bem consertado dura mais anos", aconselha seu Manoel.

O movimento das oficinas de conserto reflete uma Belo Horizonte que aprende a reparar ao invés de descartar, transformando necessidade econômica em oportunidade de negócio e consciência ambiental.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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