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Por Isabel Gonçalves
Tenho um amigo que sempre que sente algo diferente no corpo (uma tosse, uma dor), corre direto para o ChatGPT em busca de um diagnóstico. Para completar, ele ainda garante que aprendeu todos os 10 passos da rotina de skincare no TikTok, com direito até a indicação de produtos caríssimos, substituindo a receita do dermatologista.
Parece difícil de acreditar, mas os gastos com plano de saúde, exames e consultas ao médico ficaram para trás. A nova geração investe na sua saúde com vitaminas, suplementos, gummy para cabelo e produtos de beleza.
O que é a “geração saúde”
A geração Z, aqueles nascidos entre 1997 e 2012, agora também está sendo chamada de "geração saúde", uma galera focada no bem-estar e por isso mesmo, é a faixa etária mais ativa fisicamente. Corrida de rua, academia com Gympass e competição no Gymrats viraram rotina e tudo isso precisa de uma ajudinha né? Whey, creatina, cafeína, pré treino e a lista continua… Mas será que realmente precisamos de tudo isso ou estamos apenas seguindo uma tendência?
O portal Drauzio Varella chamou atenção: “o uso recreativo de medicamentos tem se tornado uma tendência entre os jovens nascidos depois da década de 1990” e é claro que tudo isso não é de graça. Isso nos faz acreditar que a parcela do orçamento destinada para saúde e cuidado pessoal está cada vez maior entre os jovens.
Quanto a geração saúde gasta com autocuidado?
Para entender o impacto desses hábitos no orçamento, fizemos uma simulação simples com base nos produtos mais consumidos por quem leva uma rotina “wellness”, ou seja, focada em bem estar.
Gastos com suplementos
Hoje em dia não basta só ir à academia ou praticar um esporte, tem que tomar suplemento para ajudar nos ganhos. Veja os preços aproximados:
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Suplemento de proteína 1kg: R$100,00
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Creatina 300g: R$70,00
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Pré-treino 300g: R$70,00
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Melatonina para dormir - 30 comprimidos: R$30,00
Somando tudo, uma pessoa gasta em média 279 reais só em suplemento para academia. Isso porque colocamos só os básicos. O gummy de creatina (em formato de bala) custa em média R$110 e a melatonina em formato bala com gosto de morango, R$120 por dois potinhos. Para quem mal tem um emprego estável, fica difícil manter esse padrão.
Produtos de beleza para pele e cabelo
Outra coisa que não pode faltar no dia a dia do jovem moderno são as rotinas de skincare e cuidados com o cabelo. E a lista de produtos de beleza é grande. Separamos os mais famosos:
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Gel de limpeza facial: R$54,00
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Sérum facial: R$107,00
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Hidratante para o rosto: R$45,00
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Esfoliante: R$28,00
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Protetor solar: R$53,00
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Máscara hidratante para cabelo: R$30,00
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Óleo para cabelo: R$39,00
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Gummy Hair: R$60,00
No total, para cuidar bem da pele e do cabelo, uma pessoa precisa desembolsar R$416. Isso corresponde a quase 30% do salário mínimo atual. Ah e os produtos da skincare da manhã não são os mesmos da noite, então já pode duplicar esse valor.
É coisa demais. Mas a pergunta que fica é: enquanto gastamos R$400 em skincare, será que temos a mesma disposição para investir em uma consulta com um dermatologista ou nutricionista?
Como isso afeta o seu orçamento?
Como tudo na vida, o importante é não exagerar. É normal dedicarmos uma parte do nosso salário a cuidados com a saúde, mas o problema mesmo está quando não sobra o suficiente para os outros gastos. Não vai adiantar nada você ir na academia mais cara todos os dias, se nas últimas semanas do mês você só come miojo porque é o que tem dinheiro para pagar.
O pior ainda é quando os produtos de beleza e os suplementos não são indicados por nenhum profissional. Comprar gummy porque sua influenciadora favorita disse que é bom não é cuidar da saúde, é gastar dinheiro atoa. Cuidar do corpo não pode ser desculpa para descuidar do bolso.
O que é mais importante: saúde ou status?
Fato é que a "geração saúde" tem gastado cada vez mais com produtos de beleza e suplementos que prometem bem-estar e uma vida longa e saudável. Mas, essa mesma geração é marcada também pela inadimplência e instabilidade financeira. E é aí que mora a contradição: muitos jovens não conseguem pagar um plano de saúde básico, mas desembolsam centenas de reais por mês em suplementos, skincare coreana e produtos “naturais” de marca.
É comum ver alguém que mal tem uma renda fixa gastar R$100 em um pote de whey protein ou pagar caro por um gummy de colágeno importado, mas que nunca consultou um nutricionista. É mais fácil e rápido comprar o produto indicado por uma influenciadora do que marcar horário com um profissional da saúde.
Conclusão: o consumo não deve substituir a consulta
É preciso ter prioridades. Cuidar da saúde e ser uma pessoa ativa é importante sim, mas não adianta ostentar uma rotina de autocuidado nas redes, se no fim do mês falta dinheiro para itens básicos como alimentação, transporte ou contas.
A verdade é que cuidar da saúde vai muito além dos produtos de beleza e suplementos. Dormir bem, se alimentar com qualidade, buscar equilíbrio emocional e se informar de forma crítica também fazem parte disso. E, muitas vezes, custam menos do que o último lançamento da sua marca preferida de skincare.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.