
O sonho do torcedor pode virar pesadelo
Os caras não são ricos porque rasgam dinheiro, ao contrário, são ricos porque sabem como ganhá-lo e multiplicá-lo. E isso não é fácil no nosso futebol
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O futebol é movido pela expectativa, muitas vezes infundada. É mais que comum ter fé naquele gol salvador, na vitória sobre uma equipe nitidamente mais forte, em uma virada improvável numa grande decisão. Muitas vezes acontece. Mas o torcedor não deve se iludir quando o assunto é a administração do clube do coração, seja ele uma associação ou uma SAF.
Estou espantado com o tanto de torcedor acreditando em hipóteses estapafúrdias, como a chegada de um xeque árabe para resolver todos os problemas de sua agremiação preferida. Ou de um milionário estrangeiro, que comprará parte da SAF e despejará um caminhão de dinheiro para montar um time imbatível.
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Acordem! Nada disso vai ocorrer. A troco de quê essas pessoas fariam tal movimento? Elas podem investir nos clubes brasileiros, mas apenas e tão somente se vislumbrarem chance de retorno financeiro. Os caras não são ricos porque rasgam dinheiro, ao contrário, são ricos porque sabem como ganhá-lo e multiplicá-lo. E isso não é fácil no nosso futebol.
Os gigantes do nosso futebol têm orçamentos cada vez maiores, mas, por problemas estruturais, ainda não conseguem ter situações financeiras tranquilas. Praticamente todos estão enrolados com dívidas e mesmo quem conseguiu equalizá-las, como o Cruzeiro ou o Flamengo, tem de se equilibrar para não voltar a se endividar.
A lei que permitiu a instituição das SAFs foi feita sob medida para evitar a insolvência de alguns dos clubes mais populares do país. Mas isso não é um salvo conduto para gastança desenfreada.
Ronaldo Nazário e seus sócios tinham consciência disso e pretendiam ser vitoriosos e obter lucro com o Cruzeiro a médio e longo prazo. Já o empresário Pedro Lourenço assumiu controle disposto a encurtar o caminho, investindo pesado em contratações para voltar a ser campeão e colher os frutos financeiros logo.
A família Menin e seus pares se deram bem assim no Atlético: o Galo foi campeão mineiro, da Copa do Brasil e Brasileiro em 2021, levando a Massa à loucura.
Mas em ambos os casos, os gestores tiveram de pisar no freio para manter as contas minimamente em dia. Isso fez com que parte das torcidas começasse a chiar, achando que eles têm obrigação de seguir investindo, mesmo que a conta não feche.
Estamos falando de pessoas genuinamente apaixonadas pelos rivais mineiros, que vinham contribuindo quando não eram nem dirigentes, muito menos proprietários. Imagine se fossem estrangeiros sem qualquer ligação com o nosso clube?!?!
É bom que os torcedores tenham essa consciência. E que as administrações encontrem formas de melhorar as arrecadações e cortar custos para conseguir manter times competitivos em um futebol cada vez mais inflacionado. Quando o dinheiro encurta, a criatividade tem de crescer.
Que situação
Li e vi diversas reportagens sobre o que está acontecendo nos bastidores do Botafogo. O atual campeão brasileiro e da Copa Libertadores vive uma grande disputa jurídica por conta da crise na Eagle Football, empresa fundada pelo norte-americano John Textor, mas na qual ele não apita mais nada.
Pelo que entendi, o empresário não estava conseguindo honrar compromissos assumidos com o fundo de investimento Ares, dos EUA, mesmo depois de vender o Crystal Palace-ING. Ele também abriu mão da gestão do Lyon e agora tenta apoio para seguir no comando do clube da estrela solitária através de uma nova empresa. Para isso, busca outro investidor, pois não tem capacidade de agir sozinho.
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A associação, por sua vez, está atenta aos movimentos. E espera não ficar desamparada ou na mão de alguém com o qual nunca teve contato ou que não tenha a menor afinidade.
Ou seja, investir em futebol não é tão simples quanto podem supor alguns.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.