Celina Aquino
Celina Aquino
Formada em jornalismo pela PUC Minas. Começou como estagiária nos Diários Associados e teve passagens por editorias como Polícia, Saúde, Imóveis, Negócios e Emprego. Hoje é especializada em gastronomia e também escreve sobre moda
ACEITO UM DOCE

A gente não quer só morango do amor

Morder aquela cobertura crocante com gergelim e encontrar um pedaço de banana é realmente uma experiência irresistível

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Não sei muito bem como as ondas surgem na internet. O que sei é que as pessoas, as confeitarias, as notícias só falam em morango do amor. O Brasil está monotemático.

 

Por incrível que pareça, conheci o fenômeno das redes sociais no mundo off-line. Chego um dia à redação e sou informada sobre a nova trend da gastronomia: morango do amor. Desde então, todos os dias, o assunto ganha abordagens diferentes. Como surgiu a ideia, onde comprar, o preço do morango dispara, os pedidos em aplicativos de delivery se multiplicam, está faltando corante vermelho no mercado, como fazer a receita em casa até casos de pessoas que quebraram o dente ao morder a cobertura (mal feita).

 

Para quem vive em outro planeta, o morango do amor é um doce inspirado na maçã do amor, com aquela cobertura vermelha de açúcar vitrificada. Além da fruta ser diferente, entra uma camada de recheio cremoso, normalmente brigadeiro branco. Pode ter o palito ou ser em formato de bombom.

É incerta a origem do morango do amor. Mas agora que o "filho" ficou famoso tem muita gente querendo reconhecer a "paternidade". Uma confeitaria de São Paulo, especializada em balas caramelizadas, reivindica a invenção, que seria vendida desde 2020. Ao mesmo tempo, doceiras de Tatuí, no interior paulista, afirmam que criaram a receita nesse mesmo ano. Sem entrar nessa polêmica, o município de Senador Amaral, no Sul de Minas, um dos maiores produtores de morango do estado, já elevou o doce a patrimônio imaterial.
 

O que sabemos é que os vídeos do morango do amor viralizaram nas redes sociais no mês passado. Será que para descobrir como acertar o ponto da calda de açúcar? Ou para ouvir o som de croc que domina a tela a cada mordida? Seja qual for a razão, se é que ela existe, não estou aqui para tentar explicar o fenômeno da internet. Quero mostrar que doces caramelizados fazem parte da nossa confeitaria há muito tempo.

Na década de 1950, foi inventada a maçã do amor. José Maria Farre Angles, veio da Espanha e em São Paulo teve a ideia de fazer um doce com calda de açúcar. Usou uma fruta abundante no país. O nome, patenteado em 1959, faz referência à passagem bíblica em que Adão e Eva comem o fruto proibido no Jardim do Éden.
 

A maçã do amor virou símbolo das festas juninas, uma singela opção de presente para os apaixonados e oportunidade de negócio. Em Tiradentes, a cafeteria Jane's Apple serve o doce em versões bem diferentes. A maçã é envolvida por chocolate e outros elementos, como pistache, palha italiana e crumble de morango. No lugar do palito, canela em pau.

Pelo que se sabe da história, a ideia do espanhol vem do tanghulu, espetinho de frutas com calda de açúcar típico da China. Isso me fez lembrar de uma banana caramelizada que comi outro dia no restaurante taiwanês Yan Shan Zay, na Savassi. Morder aquela cobertura crocante com gergelim e encontrar um pedaço de banana é realmente uma experiência irresistível.
 

Importamos de Portugal o doce que ficou conhecido como bala baiana. O original se mantém com o nome de rebuçado de ovo e o recheio à base de açúcar e gemas, seguindo a tradição da doçaria conventual portuguesa. Aqui no Brasil entraram leite condensado e coco e a receita acabou se perpetuando na Bahia.
 

Com a viralização do morango do amor, os doces caramelizados viraram o centro das atenções da confeitaria. E brasileiro sabe muito bem surfar numa onda, coloca sua criatividade para jogo como ninguém.
 
Já apareceram novos recheios (maracujá, pistache...), cores diferentes (a confeitaria Momo, de BH, tem o “morango do (des) amor”, com a cobertura dourada) e até outras frutas entraram na brincadeira (uva, melancia, abacaxi...).
 

Impossível prever para onde isso vai nos levar, mas, diante de um mundo tão acelerado e ávido por novidades, suspeito que seja mais uma trend com prazo de validade. O bom é que, passageira ou duradoura, coloca em evidência algo essencial e desafiador na confeitaria: os pontos da calda de açúcar. Vão-se as modas, ficam as técnicas.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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