Retrato nu de uma mulher agachada, escondido sob a superfície de uma pintura de Pablo Picasso, foi revelado usando inteligência artificial, tecnologia de imagem avançada e impressão 3D -  (crédito: Oxia Palus/Reprodução)

Retrato nu de uma mulher agachada, escondido sob a superfície de uma pintura de Pablo Picasso, foi revelado usando inteligência artificial, tecnologia de imagem avançada e impressão 3D

crédito: Oxia Palus/Reprodução

Há alguns meses fui ao Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Lugar inacreditável e espetacular pra quem gosta de arte. Logo na entrada, havia uma obra construída pela IA (inteligência artificial). Ou melhor, pelo artista Refik Anadol usando IA para criar sua arte. Unsupervised é o nome da obra.


Trata-se de uma impressionante tela digital de 7,3 por 7,3 metros, que preenche todo o saguão do museu, a qual exibe um fluxo infinito de imagens animadas, cada uma delas criada por um modelo de inteligência artificial alimentado por toda a coleção de obras de arte do MoMA. Esse fluxo é controlado pelo que acontece ao redor, fazendo com que a peça pareça ter vida. Impossível não ficar hipnotizado pela explosão e mistura de cores que inundam nossos olhos e mente.

 


Maravilhados, de fato, ficamos ao viajar pelas inúmeras galerias do museu e pelas células que compõem aquela mistura colorida da entrada. A essência supera a síntese! Não que a síntese não seja bela.

 


Mas tem “poréns” nessa arte! Será que o Rafik perguntou para Picasso, Matisse e todos os outros artistas se ele poderia fazer aquilo com a obra deles?! Provavelmente, teve autorização dos proprietários e do museu, mas não dos verdadeiros artistas. Impossible!

 


A IA catapultou o mundo infinito da má fé. Paraíso de especialistas em tudo e em coisa alguma. Picaretagem fantasiada de conhecimento especializado, apropriado de terceiros. Esse é um dos efeitos colaterais da inteligência artificial.

 


Nas mãos de quem estaremos no futuro?! Futuro?! Não, presente.

 


Para navegar nesse mar revolto, precisamos visitar o conceito de má fé: “Tendência natural e consciente para agir maldosamente; fraude. Falta de lealdade; comportamento de quem busca enganar ou iludir outra(s) pessoa(s). [Jurídico] Designação jurídica que caracteriza ações cometidas contra a lei, sem motivo aparente ou justificativa legal, tendo plena noção sobre o que se faz.” Ou do que se fez.

 


Nesse vale tudo para “vender o peixe “, veremos situações absurdas jamais imaginadas. Engenheiros falando de cuidados assistenciais em terapia intensiva e tratamento de infecções por bactérias multirresistentes, sem jamais terem entrado num CTI. Médicos discutindo pilotagem de nave espacial sem nunca terem visitado a cabine de um avião. Presidente da República, ex-capitão, falando contra vacinas, falsificando cartão de vacina e defendendo tratamento fake de infecção pandêmica inédita.

 


- Opa! Aí não é só má-fé. Pode ser até mesmo um crime, dependendo de quem analisa os autos! Se for a IA ou o VAR pode ser que anulem o processo, assim como o gol de placa do Paulinho contra o Sport.

 


A IA desconectou o freio do caminhão ladeira abaixo. Não que esse caminhão algum dia tivesse tido freios confiáveis. Com o perdão pelo trocadilho, ela só fez do freio à fricção uma ficção. Autoengano nas mãos de gente sem escrúpulos pode fazer estragos irreparáveis.

 


Humanos, em geral, buscam satisfação instantânea e são péssimos em se sacrificar por objetivos de longo prazo. A IA é uma ferramenta fantástica de apoio ao conhecimento científico e educação, mas pode ser um atalho perigoso e eventualmente catastrófico. Segundo neurocientistas, algumas habilidades básicas poderão ser suprimidas de nosso cérebro em pouco tempo. Multiplicar, somar, dividir, escrever e pensar com a própria cabeça serão progressivamente suprimidos do nosso cérebro, o qual poderá atrofiar progressivamente. Daqui há alguns anos, um aluno, ao ser confrontado com uma raiz quadrada, terá convulsões subentrantes e precisará ser sedado profundamente, com anuência dos pais: “Tadim do menino. Onde já se viu ensinar uma coisa dessa para um ser tão indefeso?!”.

 


Zumbis digitais já estão à solta pelo planeta e dentro das nossas próprias casas. Falando nisso, você já se olhou no espelho hoje?! Não vale ser cínico.

 

 


Michelangelos, Picassos, Chicos, Rosas, Piazzolas, Pelés, Nerudas, Zerbinis, Einsteins etc; não são ou foram artificiais. Foram e são reais, assim como a genialidade com que nos presentearam com suas obras.

 


Um aluno de medicina me disse essa semana que “havia feito” um trabalho da faculdade que lhe demandaria semanas, em poucos segundos, usando o Chat-GPT. Verdade e mentira na mesma frase.

 


Conclusão, se a internet deu voz aos imbecis, a IA os diplomará com louvor sob aplausos emocionados dos mesmos pais da raiz quadrada. Lembrei de uma frase do meu pai: “Meu filho, quem tem ... tem medo”.

 


Pensei com meus botões: Quem cuidará da minha hemorroida no futuro?! A IA, claro! AI, AI, AI, AI, I, AI!!!