Viver da política ou para a política, eis a questão
Dois grandes tipos de políticos seguem na esfera pública: aqueles que vivem para a política; e aqueles que vivem dela
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Por suas habilidades excepcionais, Aquiles, protagonista da “Ilíada” de Homero, não se alonga em dúvidas quando confronta na Guerra de Troia o clássico dilema da política: “Não regresso, mas compro glória eterna; Se torno ao doce ninho, murcha a glória; Terei velhice longa e fim tardio”. O épico foi escrito em dialeto jônico, por volta do século VIII a.C., o que torna a obra uma das mais antigas da literatura ocidental. A mortalidade emblemática da existência humana se contrapunha à eternidade do cosmos, dos deuses, da natureza.
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Superar a morte – e o esquecimento – era saga heroica, só alcançada na esfera da política que, como aponta Hannah Arendt, também se expressa na Ágora, a praça de debates da fundante polis grega. Nela, política, comunicação e ação são tríade indissociável do debate público e dos feitos imortais.
No engatinhar deste novo milênio, dois grandes tipos de políticos seguem firmes na esfera pública: aqueles que vivem para a política; e aqueles que vivem da política, diria Max Weber. Ultimamente, os segundos assumem o protagonismo. A semana foi a vez de mais uma velha prática parlamentar ser apresentada à sociedade. Rachadinhas? Não, essas já estão batidas: foram muitos mandatários – ou aqueles em cargos públicos, que indicam contratações comissionadas – flagrados cobrando pedágio de servidores em retribuição ao “favor” do emprego público.
Em mais um desdobramento de investigação contra parlamentares, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou operação contra os deputados federais Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Carlos Jordy (PL-RJ), suspeitos de desviar recursos da cota parlamentar.
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A investigação da Polícia Federal (PF) apontou movimentações financeiras atípicas de assessores desses parlamentares, em valores que atingiram cerca de R$ 18 milhões, sobretudo entre 2023 e 2024. Eis que, durante a busca e apreensão, a Polícia Federal encontrou R$ 430 mil em dinheiro vivo no apartamento de Sóstenes, em Brasília, esquecido em um saco de lixo dentro de um armário. Os parlamentares negam irregularidades em suas vidas públicas e se dizem perseguidos políticos.
Não foi a primeira nem será a última vez em que fortunas em espécie são encontradas em cuecas, apartamentos, malas e coisas do gênero. Se comprovada a origem, não seria crime. Sóstenes explica: seriam recursos de venda de um imóvel. Por que as transações em espécie para compra de imóveis tornaram-se tão frequentes entre parlamentares? Entre pessoas normais, nada disso é usual.
Sóstenes e Jordy não estão sós neste barco de pequenos e grandes negócios. Pouco antes desta derradeira semana legislativa, foi a vez da Operação Transparência fazer busca e apreensão contra uma assessora do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Apura-se irregularidades na destinação de verbas públicas de emendas parlamentares.
Mas, assim como as rachadinhas, desvios em emendas já são notícias repisadas. Os deputados Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e o suplente Bosco Costa (PL-SE) estão para ser julgados pelo STF: segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), eles solicitaram R$ 1,67 milhão em propina ao então prefeito de São José do Ribamar (MA), Eudes Sampaio, para, em troca, destinar R$ 6,67 milhões em emendas de saúde ao município.
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Justiça seja feita a esses parlamentares do PL, eles não estão sozinhos. Mais de 40 mil emendas parlamentares destinadas aos redutos eleitorais entre 2020 e 2024 estão sob a lupa do Tribunal de Contas da União (TCU).
Suspeita-se que muitas delas sejam obras que não saíram do papel, mas parte dos investimentos teria ido parar no bolso de quem as indicou. Para 2026, ano eleitoral, o cacique das emendas voltou a crescer: foram garantidos no Orçamento R$ 61 bilhões, R$ 11,5 bilhões às custas de cortes em gastos obrigatórios como benefícios previdenciários e programas sociais. 2026 promete.
Como bem prognosticou Ulysses Guimarães: quem acha este Congresso ruim, espere até o próximo. Para a maior parte daqueles que adentram a esfera da representação pública, o dilema de Aquiles parece se reduzir a um único caminho. Qual seria?
Top 10
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), lidera com 80% de aprovação o ranking dos governadores, estudo anual do desempenho dos gestores estaduais no Brasil, elaborado pela AtlasIntel, a partir de diversos indicadores-chave. Caiado é seguido pelo governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT), que alcançou 69% de aprovação; Helder Barbalho (MDB), do Pará, e Eduardo Riedel (PP), governador do Mato Grosso do Sul, registraram respectivamente 66% e 65% de aprovação. Jorginho Mello (PL) de Santa Catarina e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, têm igual desempenho: 63% de aprovação. Na lanterna do ranking está Wilson Lima (União), do Amazonas, com apenas 25% de avaliação positiva.
E o Zema?
O governador de Minas, Romeu Zema (Novo) foi classificado na 18ª posição desse ranking de 27 governadores. Ele obteve 42% de aprovação; 54% de desaprovação; e 4% não avaliaram. Zema está em posição semelhante a Clécio Luís (Solidariedade), do Amapá, que teve 43% de aprovação; Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro; e Paulo Dantas (MDB), de Alagoas, ambos com 41% de aprovação.
Conselheiro
Manoel Mário de Souza Barros, presidente da Academia Latino Americana do Agronegócio (Alagro), é o mais novo conselheiro de agronegócio do LIDE Minas Gerais – Grupo de Líderes Empresariais. Presente em 27 estados brasileiros e em 28 países, a organização reúne mais de 1,8 mil empresas associadas e 4 mil empresários com objetivo de promover desenvolvimento econômico e empresarial.
Cafés especiais
Decisão liminar da 1ª Vara Empresarial de Belo Horizonte determinou que o uso da marca Coffee+, que desde junho de 2025 vinha sendo usado pela Nestlé, seja interrompido por ferir os direitos de registro da empresa brasileira Coffee++, que, desde 2020, detém o registro da marca no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Segundo o processo, a Nestlé iniciou o uso do sinal Coffee+ para identificar produtos no mesmo segmento de atuação da empresa brasileira. A decisão considerou, além de certificados de registro da Coffee++ no Brasil e em mais de 30 países, o risco de confusão para os consumidores e de associação indevida entre as duas marcas.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
