Flávio se sustentará como líder do bolsonarismo?
Jair Bolsonaro encena o clássico drama da sucessão carismática descrito por Max Weber: tenta converter o seu carisma pessoal em carisma de sangue
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Designado herdeiro do espólio eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o filho e senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) enfrentará o seu teste de fogo: tendo-lhe sido transferido o intransferível – o “carisma” do pai em seus arroubos performáticos e antissistêmicos – se quiser sobreviver, precisará transformar essa herança em “rituais” de consulta e deliberação, que lhe assegurem certa rotina de comando em seu campo político. Flávio Bolsonaro estará sob dupla pressão: aquela que vem de seu núcleo familiar; e aquela externa, que se origina da direita que se acomodou na carona do bolsonarismo, e tem no Centrão a sua expressão maior.
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Do núcleo político mais íntimo, Flávio tem na ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, a principal rival. Ela empurrou publicamente os filhos e o próprio ex-presidente às cordas no início desta semana. Foi embate político em torno de composições do PL da sucessão cearense. Contrariamente à orientação de Bolsonaro e do encaminhamento dado pelos filhos, que articulavam aliança com Ciro Gomes (PSDB) no Ceará, Michelle tratou de desautorizá-los. Forçou a ruptura do acordo, alinhavado também pelo deputado federal e presidente do PL do Ceará, André Fernandes.
“Autoritária”, foi um dos adjetivos utilizados pelos filhos para criticar publicamente a madrasta que faz política brandindo a bíblia. Bolsonaro interveio. Pediu a Flávio que se manifestasse em desculpas públicas a Michelle – pessoa da família que detém o salvo-conduto com o importante eleitorado evangélico. O PL recuou e retirou apoio a Ciro Gomes. Michelle segue comprando brigas em São Paulo, em Santa Catarina, alinhavando, em outros estados, a sua própria rede paralela de apoios e poder dentro do PL.
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Nada poderia incomodar mais a Bolsonaro: assistir à sua terceira esposa sair de sua esfera de controle político seja, talvez, para personalidade com as suas características, suplício psicológico incontornável. Não à toa, três dias depois do confronto familiar, Flávio se tornou sucessor. Em nome do pai, autoproclamou-se pré-candidato à Presidência da República. Momentaneamente, Michelle foi enquadrada com o claro recado: o primogênito tem precedência.
Do Centrão vem a outra ameaça à liderança de Jair Bolsonaro: articula a construção da candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) à presidência da República – em composição de chapa fora do núcleo do clã. Até por isso, o Centrão se descolou, no Congresso Nacional, da pauta da anistia ampla pleiteada pela família. Na presidência da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos – PB) isolou PT e PL, articulando-se com 275 deputados do Centrão e demais partidos. Com esse grupo trabalha a sua própria agenda. Paulinho da Força (Solidariedade-SP), feito relator do projeto de Lei (PL) 2162/2023, rebatizou a matéria de “anistia” para “dosimetria”. Pretende-se reduzir penas, não conceder ampla anistia que permita a Jair Bolsonaro retornar ao jogo político eleitoral de 2026.
O país precisa de estabilidade institucional, argumentam deputados do Centrão, financiados por setores produtivos de peso. Flávio pré-candidato à Presidência é também recado explícito a esses congressistas: se a anistia não vai passar; tampouco passará a candidatura de Tarcísio de Freitas ou qualquer outra da “direita” que orbita o bolsonarismo.
Flávio veio para ficar ou será um balão de ensaio para atravessar as primeiras tormentas após a prisão de Jair Bolsonaro? Ao eleger o próprio filho, Jair Bolsonaro encena o clássico drama da sucessão carismática descrito por Max Weber: tenta converter o seu carisma pessoal em carisma de sangue. Aposta na “linhagem” para deter o seu declínio. Mas, como advertia o sociólogo alemão, se o carisma precisa ser delegado, revela a sua fragilidade.
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Em política, a fé não se transfere, nem pelo sobrenome: na tentativa de domesticar o imponderável, o carisma se desfaz. Manter-se em seu novo papel, dependerá das habilidades do próprio Flávio Bolsonaro. Fogo amigo e adversário não lhe faltarão. Jair Bolsonaro sabe onde está metendo o filho. Mas, tem também a convicção de que mais vale um Lula reeleito, do que novas lideranças se firmando no campo da oposição para desbancar os velhos mitos.
Aposta
O grupo político do vice-governador Mateus Simões (PSD) não desistiu de pressionar o senador Cleitinho (Republicanos) para sair da disputa ao governo de Minas. A expectativa é trabalhar junto à cúpula nacional do Republicanos, forçando o senador à igual trilha percorrida pelo ex-prefeito Marcio Lacerda. Em 2018, Lacerda seria candidato ao governo de Minas pelo PSB. Mas, em articulação do ex-governador Fernando Pimentel (PT) com a cúpula nacional socialista, o partido retirou a legenda de Lacerda e firmou aliança em apoio a Pimentel.
Sangue não falha
Diante da ameaça de cassação do vereador Lucas Ganem (Podemos), acusado de fraude do domicílio eleitoral - e proscrito pela família Aro por ele ter, na eleição da Mesa Diretora da Câmara Municipal, apoiado a candidatura de Bruno Miranda (PDT) -, os Ganem se mobilizaram. De São Paulo, o deputado federal Bruno Ganem (Podemos-SP), a deputada estadual Simone Ganem (Podemos) – mãe de Lucas – além dos vereadores Rodolfo Ganem (Podemos), de Sorocaba, e Hebert Ganem (Podemos), de Campinas, acionaram a presidente nacional do Podemos, Renata Abreu. Denunciaram perseguição pela direção mineira do partido a Lucas Ganem, comandado pela deputada federal Nely Aquino, aliada do secretário de governo Marcelo Aro (PP). Se a cassação se concretizar, o primeiro suplente é Rubão, atual secretário municipal de Esportes e Lazer, que integra a chamada “Família Aro”.
Pelas beiradas
Aloísio Vasconcelos, ex-presidente da Cemig, chama atenção para a tentativa de desestatização “branca” da Cemig, com a venda de usinas, sem a observância constitucional de realização do referendo popular. “Haverá consequências políticas e econômicas”, afirma. O juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública de Belo Horizonte determinou, liminarmente, a suspensão imediata do leilão de quatro usinas hidrelétricas. A ação foi proposta pela Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas (FTIUEMG), em tentativa de impedir a venda das usinas de Marmelos, Martins, Sinceridade e da PCH Machado.
Constituição do Estado
O juiz Ricardo Sávio de Oliveira assinalou que, conforme determina a Constituição do Estado, a privatização de empresas estatais de energia exige aprovação da Assembleia Legislativa e realização de um referendo popular. No mérito, a ação deverá definir a natureza da transação. A FTIUEMG, autora da ação, assinala que o edital de venda representa uma “privatização do patrimônio público sem consulta à população”. A Cemig e o governo de Minas argumentam que não se trata de privatizar a empresa, mas de vender ativos antigos e de baixo rendimento. Segundo a companhia, as quatro usinas somam 0,32% da capacidade de geração da empresa, exigem R$ 84 milhões em investimentos e geram custos operacionais de R$ 2,5 milhões por ano.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
