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O que se viu no Rio esta semana foi uma operação que não visava retomar o Complexo do Alemão e da Penha, mas executar o maior número de membros da facção
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              Num intervalo de dois meses, dois diferentes modelos de enfrentamento ao crime organizado foram apresentados ao país. Deflagrada em 28 de agosto, a Operação Carbono Oculto – Qasar e Tank a ela associadas – atacou o coração do Primeiro Comando da Capital (PCC), que operava em São Paulo – inclusive no centro financeiro da Faria Lima –, com ramificações em mais de dez estados.
Considerada uma das mais bem-sucedidas operações contra o crime organizado no país, foi resultado da cooperação entre Polícia Federal, Receita Federal, Ministério Público de São Paulo (MPSP) – através principalmente do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) –, polícias paulistas, Agência Nacional do Petróleo (ANP), entre outros órgãos parceiros. Número de tiros disparados: zero. “Danos colaterais”: zero. Resultado: apreensão de bilhões em ativos diversos, além do desbaratamento das lideranças do crime em suas conexões empresariais e políticas.
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Em 28 de outubro, quarta-feira, o modelo fluminense de combate ao crime organizado – em particular o Comando Vermelho (CV) – emergiu das manchetes: trata-se da Operação Contenção. “A abordagem contra o PCC consolida um tipo de enfrentamento com cooperação entre instituições e unidades da federação, com intenso emprego de inteligência, adequado a um tipo de organização criminosa que não tem o domínio de um território, como é o caso do CV. É o modelo mais adequado e mais bem-sucedido”, afirma o doutor em sociologia Luís Flávio Sapori, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da PUC Minas.
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No Rio de Janeiro, assim como em alguns estados do Norte e Nordeste, entre os quais a Bahia, os grupos criminosos comandam territórios. Na avaliação do especialista, qualquer ação planejada, deve combinar a estratégia de retomada do território mediante a atuação das forças estaduais e federais – nos moldes do que ocorreu em 2008, época da implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) – e por outro lado uma grande operação de inteligência e cooperação entre estados e União.
O que se viu no Rio de Janeiro esta semana, contudo, foi uma operação que não foi planejada para a retomada do Complexo do Alemão e da Penha, mas, antes, executar o maior número possível de membros dessa facção criminosa. Sob esse ponto de vista, a operação alcançou o seu objetivo: são 119 mortos, entre os quais, quatro policiais – a mais letal da história – desbancando o Massacre do Carandiru, que, em 2 de Outubro de 1992, deixou na Casa de Detenção em São Paulo um total de 111 presos mortos pela Polícia Militar de São Paulo, que invadiu as dependências para conter uma rebelião.
“A estratégia de combate ao crime organizado pela execução do maior número possível de faccionados não produziu resultados, conforme aponta a história de enfrentamento no Rio de janeiro”, afirma o sociólogo. “Depois de serem eliminados alguns membros da facção, as mesmas facções criminosas ou fações concorrentes ou as milícias ocupam o território”, explica Sapori.
A depender do grau de enfraquecimento do CV, é grande a probabilidade de que aquela região seja ocupada por grupos inimigos, como o Terceiro Comando Puro (TCP) ou as milícias da Zona Oeste. “A maior demonstração de que esse modelo fluminense é ineficiente é que, 30 anos depois, o Rio de Janeiro é mais dominado pelo crime organizado do que era em 1990. São fatos. Contra fatos, não há argumentos”, sintetiza.
Tão grave quanto o modelo fluminense de combate ao crime organizado pela barbárie e morte de faccionados é, também, o populismo em torno da pauta que estará no centro do debate eleitoral de 2026. “A politicagem está contaminando o necessário e adequado enfrentamento ao crime organizado no Brasil. Esse caso do Rio deveria suscitar uma frente de governadores para aprovar a PEC da Segurança Pública, que está no Congresso, e o projeto de lei Anti-facção, que o governo federal vai mandar ao Congresso”, afirma o especialista.
Seria o momento do consenso nacional para a construção de políticas que possam facilitar a integração de esforços entre União, estados e municípios. Diferentemente, sobram governadores mais interessados em pegar carona eleitoral sobre o sangue derramado.
Parte do negócio
Em crítica ao governo do Estado por privatizar a Copasa sem conversar com Belo Horizonte, o prefeito Álvaro Damião (União Brasil) declarou nesta quarta-feira: “O que eu quero que a Copasa entenda, e que o governo do estado consequentemente entenda, é que não existe Copasa sem Belo Horizonte. Belo Horizonte é praticamente 50% da Copasa. Então se quer vender a Copasa, se quer negociar a Copasa, conversa com Belo Horizonte”. Segundo Damião, existem 30 parceiros com interesse em oferecer esse serviço à capital mineira.
Hora de negociar
Álvaro Damião declarou que a manutenção da Lagoa da Pampulha e estruturações de esgotos cortando asfaltos são problemas que a prefeitura tem com a Copasa. “A pergunta é: vocês vão nos dar a lagoa que nós queremos e que nós merecemos? Você vão parar de ficar cortando o asfalto que a prefeitura faz e colocando esses calombos espalhados por Belo Horizonte inteira? Ou vocês vão fazer um asfalto de qualidade igual ao da Prefeitura de Belo Horizonte?”, indagou.
Tucanos
O deputado federal Aécio Neves (PSDB) assumirá a presidência nacional do PSDB no próximo 27 de novembro, em Brasília.
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Serra do Lenheiro
A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia irá promover, nesta sexta-feira, 31, audiência pública na Universidade Federal de São João del-Rei para debater a proteção da Serra do Lenheiro. O encontro foi solicitado pelo deputado Cristiano Silveira (PT), autor do Projeto de Lei (PL) 2.080/24, que propõe a criação da unidade de conservação Monumento Natural da Serra do Lenheiro (Mona Lenheiro). O projeto, que protege o ecossistema natural e proíbe atividade de mineração na área, já recebeu parecer pela legalidade da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
 
   
