Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
OPINIÃO

A esquerda em iniciação, entre o púlpito e o algoritmo

"Por paradoxal que possa soar no país que abraça o SUS, o estado é anunciado por muitos como aquele que ‘atrapalha’"

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Em meio às especulações e disputas em sua base aliada pela indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF) na vaga aberta pela aposentadoria antecipada de Luís Roberto Barroso, o presidente Lula (PT) recebeu ao lado de Jorge Messias, advogado-geral da União de fé evangélica, o bispo Samuel Ferreira, uma das principais lideranças da Assembleia de Deus.

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De grande apelo popular, para além da Igreja Católica, a Assembleia de Deus é a segunda maior do país. Oraram abraçados. A primeira mensagem comunicada pela imagem: o Planalto deixa subentendida, diante desse importante líder religioso, a intenção de indicar Messias à cobiçada vaga do STF. A segunda, sinaliza ao bolsonarismo, muito bem-sucedido em instrumentalizar a fé na política, que pretende invadir esse território que lhe parecia interditado.

 

Das mais simples às mais sofisticadas, qualquer análise estatística de comportamento político eleitoral no Brasil demonstra as dificuldades de Lula entre eleitores de fé evangélica. Em combinação, as análises qualitativas apontam para a prevalência, nesses grupos, de uma cristalizada visão demonizada da esquerda e do presidente. Assim como entre católicos há distintas segmentações políticas – que escalam de ultraconservadores da direita bolsonarista a progressistas da esquerda lulista – também evangélicos são público diverso, que se vinculam a diferentes denominações. Sob a Teologia da Prosperidade, boa parte não apenas encontra nas igrejas uma promessa de superação do desamparo da vida, mas também, uma rede de proteção social.

Max Weber descreveu, no início do século passado, como a “ética protestante e o espírito do capitalismo”: a ética protestante valorizava o trabalho árduo – percebido como um “valor moral” e uma forma de glorificar a Deus –, sendo o sucesso financeiro um sinal da benção divina. Essa mentalidade criaria o ethos do capitalismo, pelo estímulo à acumulação, jamais ao gasto com prazeres. Diferentemente de uma lógica coletiva, que impulsionou a esquerda em suas lutas sindicais de distante passado, o que move o pensamento de algumas doutrinas religiosas é a perspectiva do esforço individual. A pauta de comportamento que remete à estrutura patriarcal do Antigo Testamento é, em algumas igrejas, só mais um ingrediente nessa fervura, que as coloca em choque contra o pensamento progressista, que busca superar certa lógica patriarcal.

As ideias da Teologia da Prosperidade se adequam à nova ordem tecnofeudal, monopolizada por conglomerados digitais que controlam as atividades sociais. Nesse novo mundo – em que o lucro vai sendo substituído pelo seu antecessor feudal, a renda –, a organização coletiva é a antítese do que se busca pelo “empreendedorismo individual”. A esquerda analógica, que propõe políticas e estabelece estratégias de ação, parece ainda não compreender a mentalidade que emerge entre excluídos dos empregos formais, para a grande maioria mal pagos, que vivem sob o jugo de milícias ou de organizações criminosas. A informalidade e o empreendedorismo individual são a perspectiva de sobrevivência para milhões de brasileiros.

Por paradoxal que possa soar no país que abraça o Sistema Único de Saúde (SUS), o estado é anunciado por muitos como aquele que “atrapalha”. Ao mesmo tempo, programas sociais de redistribuição de renda, como o Bolsa Família, foram incorporados pelos beneficiários como direitos associados a uma política de estado. As classes médias empobrecidas e as classes mais abastadas, com frequência críticas desses programas, nem sempre percebem que são essas políticas que ajudam a por comida na mesa de vulneráveis, e possibilitam certa “paz social” sob o manto das profundas e persistentes desigualdades de renda no país.

Muitos são os desafios postos à esquerda, convidada por Lula à autocrítica: engatinha nas redes sociais e agora, passa a buscar letramento ao universo evangélico, num mundo em que o iluminismo da Revolução Francesa parece derrotado. Diria Gramsci neste tempo híbrido, em que a política perde a alma e a religião, o espírito: “O velho mundo morre. O novo tarda a nascer. E nesse claro-escuro surgem os monstros”.

 

Ninho tucano

Filiado ao PSDB, Ciro Gomes será candidato ao governo do Ceará. O presidente estadual da legenda, deputado federal Paulo Abi-Ackel afirma que o partido não tem fundo eleitoral para a campanha presidencial. “A meta é fazer uma bancada federal grande. A concentração de recursos será para elegermos deputados federais”, diz.

Reflexão

Para 2026, o deputado federal Aécio Neves (PSDB) está entre duas possibilidades: concorrer ao Senado Federal ou ao governo de Minas. “Tem recebido muitos apelos de prefeitos e deputados para que concorra”, considera Paulo Abi-Ackel.

Finados na Itália

Os familiares da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) estão convocando uma manifestação, organizada pelo grupo Patriotas em Roma, em defesa da parlamentar. A data escolhida é 2 de novembro, Dia de Finados, no Largo Argentina, na capital italiana. A deputada foi detida em Roma, ao entrar na lista de procurados da Interpol (Polícia Internacional). Neste momento, Zambelli aguarda o processo de extradição. O Supremo Tribunal Federal (STF) decretou a prisão da deputada bolsonarista em julho, após ela ordenar que seu assessor, Walter Delgatti – conhecido por sua atuação como hacker no caso Lava Jato –, invadisse o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e expedisse um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, assinado pelo próprio Moraes.

Orçamento

Sem definição entre o governo e o Congresso em relação a como alcançar a meta fiscal para 2026 e sobre o funcionamento das emendas parlamentares, a Comissão Mista do Orçamento pautou para esta terça-feira o relatório da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026. O texto tramita com mais de quatro meses de atraso. A aprovação da LDO é pré-requisito para a votação do orçamento de 2026. O atraso nos debates sobre a LDO poderá retardar a aprovação da lei orçamentária. Quando o orçamento anual não é aprovado antes do início do ano vigente, o funcionamento da máquina pública entra em ritmo limitado.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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