
O preço da democracia brasileira é a sua eterna vigilância
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Estabilidade política e previsibilidade é bom para os negócios. Na contramão das principais moedas globais, um dia após a condenação do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL), o dólar fechou em queda frente ao real, consagrando o menor patamar para o câmbio ao longo do último ano. Em que pese a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos tenha contribuído, o resultado do julgamento apontou ao mercado financeiro para um cenário eleitoral menos instável em 2026: a consolidação da candidatura ao Planalto do governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos), que precisará recuar em recentes arroubos antissistêmicos.
Ao mesmo tempo, o Ibovespa encerrou em baixa, pressionado pelos papéis de bancos e o fantasma de novas rodadas de aplicação da Lei Magnitsky ao setor, risco agravado pela ação política de Eduardo Bolsonaro (PL) contra os interesses nacionais.
Vida que segue na economia, na política, Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, deu o tom: a condenação é assunto “liquidado” no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF). Com cuidado para afastar a “galinha de ouro” do PL, Valdemar diz que a prioridade é passar a anistia no Congresso e que “Bolsonaro ainda pode ser candidato”.
A declaração é uma espécie de introito – parte de uma cartilha – antes de chegar ao ponto que importa ao meio político: o campo bolsonarista poderá lançar chapa ao Palácio do Planalto sem o sobrenome Bolsonaro. Esse é o projeto da federação União Progressista. “Encampou”, ao lado do PL, a tese da anistia aos condenados por tentativa de golpe de Estado para negociar a indicação da candidatura a vice na chapa “alternativa”: Valdemar trabalha para atrair Tarcísio de Freitas ao PL, abrindo espaço ao PP ou ao União, que indicariam a posição de vice.
Além do governador de São Paulo, estão na mira da composição os nomes de Ratinho Junior (PSD) e Ciro Gomes – este de saída do PDT e em flerte aberto com o PP e o União. A direita conservadora e pragmática que orbita o bolsonarismo sabe que pode se beneficiar do potencial de transferência de votos do ex-presidente, sem carregar o ônus da instabilidade que a candidatura dele – e de resto o bolsonarismo raiz – acarreta ao sistema político.
O Centrão está bem acomodado ao atual sistema. Mas brinca com o fogo buscando se beneficiar do engajamento eleitoral que emerge de segmentos seduzidos pelo populismo da extrema direita: enquanto negocia em seu benefício com o bode na sala, confia que as instituições ou alguma liderança como a presidência do Senado Federal, vá assumir o desgaste para retirá-lo.
O bolsonarismo raiz perdeu Jair Bolsonaro para as eleições de 2026, mas continua no jogo. Adepto da cartilha global da extrema direita, está empenhado em conquistar, nas urnas, a maioria do Senado Federal, da Câmara dos Deputados para acossar o Poder Executivo e o Poder Judiciário. Para isso, tem potencial: um eleitorado orgânico – preso em armadilhas de enquadramento (framing traps) –, dissociado de fatos do cotidiano, mas convicto nas narrativas que recebe de uma bem montada estrutura de comunicação, forjada na reinterpretação, distorção dos fatos para fins de desinformação.
É segmento não majoritário, mas consistente o suficiente para se fazer super-representar no Congresso Nacional, dada as características do sistema proporcional brasileiro e da eleição ao Senado. Se um autogolpe como tentou Jair Bolsonaro não deu certo, o bolsonarismo segue agora, planejando o ataque ao sistema pela eleição de parlamentares determinados a fragilizar o sistema de pesos e contrapesos da democracia brasileira.
Nas palavras de Steven Levitsky, professor de ciência política da Universidade de Harvard, autor de “Como as democracias morrem”: as democracias morrem pelas mãos de líderes eleitos que usam as ferramentas da democracia para subvertê-las. É fenômeno global, associado à centralidade dos fluxos de informações sob o comando das big techs. Como sairá o Brasil das urnas em 2026 será parte do futuro de seu jovem sistema político.
Documentário
Produção original da TV “TJ Minas”, do Tribunal de Justiça, o documentário “Chica da Silva – a Descoberta do Testamento”, foi exibido em Diamantina, na praça do Bonfim, nesta sexta-feira, dentro das celebrações do aniversário do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek. A produção recupera a trajetória de uma das figuras mais icônicas do período colonial brasileiro: Francisca da Silva Oliveira, que entrou para a história como Chica da Silva. Nascida escrava no distrito de Milho Verde, pertencente ao Serro; viveu em Diamantina; e morreu como alguém integrante da elite local. O presidente do TJMG, desembargador Luiz Carlos Corrêa Junior participou do lançamento do documentário, que voltará a ser exibido, no Serro, no próximo 19 de Setembro. Também presentes, entre outras autoridades do Judiciário, o 1º vice-presidente do TJMG, desembargador Marcos Lincoln dos Santos; o 3º vice-presidente do TJMG, desembargador Rogério Medeiros; e o corregedor-geral de Justiça de Minas Gerais, desembargador Estevão Lucchesi de Carvalho. O presidente da Assembleia Legislativa, Tadeu Leite (MDB), e o prefeito de Diamantina, Geferson Burgarelli (MDB) acompanharam a exibição.
O testamento
O testamento de Chica da Silva foi localizado pelo tabelião João Bosco de Moura e Silva, no Fórum da Comarca de Serro, em meados dos anos 1980. Durante anos, o testamento permaneceu à disposição das pessoas que iam até lá para consultar os papéis. Receoso de que pudesse ser extraviado, o tabelião decidiu guardá-lo em sua casa, até repassá-lo por volta de 2009, à juíza Lívia Borba, que, na ocasião, era titular na Comarca do Serro. Ela o remeteu à Memória do Judiciário Mineiro do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (Mejud/TJMG), para que pudesse ser preservado, restaurado e disponibilizado.
A personagem
Chica da Silva faleceu em 15 de fevereiro de 1796, quando tinha cerca de 60 anos, no antigo Arraial do Tejuco – hoje, a cidade de Diamantina, terra natal de JK, que guarda conjunto arquitetônico do período colonial nas Minas Gerais. No dia de sua morte, o testamento, que havia sido registrado quase três décadas antes, foi aberto e tornado público. Após a sua morte, Chica da Silva mergulhou por décadas no esquecimento. Até que por circunstâncias diversas, teve sua trajetória pinçada entre as inúmeras vidas anônimas setecentistas, tornando-se a icônica personagem Chica da Silva – uma criação que se ancora na figura real, mas que é muito diversa da mulher de carne, osso e alma que existiu.
Engarrafamento
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL) estuda a possibilidade de se candidatar ao governo de Minas. No campo bolsonarista, estão postas as candidaturas do senador Cleitinho (Republicanos) e do vice-governador Mateus Simões (Novo), que planeja se filiar ao PSD.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.