Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

Quem da família será o herdeiro político de Jair?

Os quatro governadores que brigam entre si pelo espólio eleitoral do ex-presidente sabem que precisam equilibrar-se entre dois senhores irreconciliáveis

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Os governadores presidenciáveis que orbitam o campo bolsonarista estão entre a cruz e a espada, numa delicada travessia. Ao mesmo tempo em que são pressionados a dar declarações em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), estão confrontados por uma realidade fática repudiada pelo establishment financeiro que financiará as suas futuras campanhas eleitorais. A família Bolsonaro, em particular o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), autoexilado nos Estados Unidos, tem a digital cravada nos dispositivos “políticos” usados pela Casa Branca para justificar o tarifaço sobre os produtos nacionais.


Pode-se argumentar que, na prática, não teria sido o elemento decisivo do tarifaço. Mas considerando que a balança comercial do Brasil com os Estados Unidos é superavitária para o segundo, considerando a menção explícita pela Casa Branca do processo contra a trama golpista, além da própria postura de Eduardo Bolsonaro que chama para si toda a articulação em favor das medidas “punitivas” ao país, o tóxico elemento “político” se imiscuiu na pauta comercial.


Seria preciso muita narrativa para convencer empresários que vale a pena perder negócios em nome da defesa do ex-presidente da República. É corrente a versão nas hostes bolsonaristas de que Bolsonaro estaria sendo injustiçado porque não teria participação na tentativa de golpe de Estado, que nem sequer teria existido. Mas contra tal versão pesam as investigações conduzidas pela Polícia Federal e uma robusta peça probatória que embasa a ação em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF).


E se fatos políticos, na era da tecnopolítica, costumam ser “contornados” junto às bolhas, o mesmo não se pode dizer de fatos econômicos que atingem os negócios – o bolso, popularmente conhecido como o órgão mais sensível do corpo humano. Por menos que goste do presidente Lula (PT) e de seu governo, e por mais que abomine o PT, a elite empresarial brasileira não compra a narrativa bolsonarista em defesa do tarifaço de Donald Trump. Seria pedir demais. Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ronaldo Caiado (União) e Ratinho Junior (PSD) em nenhum momento deram declarações apoiando o tarifaço.


Já Romeu Zema (Novo) – que lança a sua candidatura à Presidência no próximo 16 de agosto, em São Paulo – recuou logo após o primeiro posicionamento mais afoito, trocando a narrativa em apoio a Trump por outra pior: a defesa da retirada do Brasil do Brics, que importa três vezes mais do país do que os Estados Unidos. Com diferentes justificativas, nenhum dos quatro governadores participou dos atos de domingo, que culminaram, nesta segunda-feira, com a decretação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro por descumprimento de medidas cautelares.


A direita mais próxima ao bolsonarismo no Congresso adota a cautela e projeta certo afastamento de tais episódios, deixando a bancada do bolsonarismo raiz isolada na grita e ameaça de obstrução da pauta. A anistia aos envolvidos na trama golpista, que já não andava bem, entra em modo náufrago. As reuniões de emergência convocadas nesta terça-feira pela bancada bolsonarista para dar “resposta” ao ministro Alexandre de Moraes fizeram barulho dirigido às redes, mas tendem, na prática, a não alavancar o apoio de Hugo Motta e David Alcolumbre para que seja pautado, além da anistia, o impeachment de Alexandre de Moraes.


Os quatro governadores que brigam entre si pelo espólio eleitoral do ex-presidente sabem que precisam equilibrar-se entre dois senhores irreconciliáveis: o radicalismo bolsonarista e a normalidade institucional. Ao mesmo tempo em que sonham arrancar de Bolsonaro a indicação para concorrer à Presidência em 2026, esses governadores sabem que precisam anunciar compromissos políticos que não deixem dúvidas de que não respaldam tentativas de golpe de Estado. São essas ideias que cabem no mesmo palanque? Governadores que lutam pelo espólio eleitoral bolsonarista queimam tutano político para se equilibrar nessa espiral do conflito. Mas será que realmente acreditam que um deles será ungido por Bolsonaro?

 

 

Popcorn

Autor da célebre tradução “popcorn and icecream sellers sentenced for coup d’État in Brazil” – que foi lida por Jair Bolsonaro em ato de abril na Paulista como “popcorn and icecream sinners” –, o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL) subiu à tribuna da Assembleia para ler em português e em inglês manifesto de repúdio à prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. “Vou enviar à comunidade internacional de movimentos conservadores”, avisa ele, que convocou “a classe política conservadora” do país para fazer vigília no Congresso Nacional até a aprovação da anistia aos envolvidos na tentativa de golpe e o impeachment de Alexandre de Moraes. O terrível inglês de Bolsonaro virou meme nas redes e viralizou, tornando recorde a busca pelas imagens daquela manifestação.

 

 


“Não foi o vídeo”

Ao subir à tribuna para defender a prisão de Jair Bolsonaro, a deputada Bella Gonçalves (Psol) assinalou: não foi só “uma chamada de vídeo”. A parlamentar declarou: “Foi preso porque não respeita a democracia e as instituições brasileiras. Ele atenta contra essas instituições o tempo inteiro, crime pelo qual está sendo julgado e muito em breve será condenado de forma definitiva”. Na mesma linha, o deputado Cristiano Silveira (PT) criticou parlamentares que defendem aqueles que atacaram a sede dos Três Poderes e tinham planos para matar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o presidente reeleito Lula e o vice Geraldo Alckmin.

 


Lesa-pátria

Em crítica aos parlamentares bolsonaristas que “ocuparam” as Mesas Diretoras da Câmara dos Deputados e Senado, o deputado federal Mário Heringer (PDT) disparou: “A oposição mostra com o trabalho de Eduardo Bolsonaro fora do Brasil que trabalha contra o povo brasileiro. E isso se repete dentro do Parlamento agora com a base bolsonarista. Essas pessoas estão expondo o Brasil internacionalmente, colocando o país sob risco por interesses pessoais. Esse é o papel que vamos exercer. Vamos lutar pela soberania e justiça social no Brasil”.

 


Despedida

Braço direito do falecido prefeito Fuad Noman (PSD), Hercules Guerra deixou o cargo de procurador-geral do município. Depois de ser informado pelo prefeito Álvaro Damião (União) que trocaria o comando do órgão. Guerra postou em suas redes sociais uma mensagem de despedida, em que assinala ter sido servidor de carreira na Prefeitura de Belo Horizonte por 37 anos, 30 dos quais na Procuradoria-Geral do Município.

 

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