Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

Quem paga a conta para livrar Bolsonaro?

Por descumprir decisão judicial, Bolsonaro teve a prisão domiciliar decretada nesta segunda-feira. Alexandre de Moraes dobra a aposta

Publicidade

Mais lidas

Num primeiro momento, o tarifaço anunciado por Donald Trump sobre produtos brasileiros, que estará em vigor a partir desta quarta-feira, deixa dividendos políticos ao presidente Lula (PT), que já se fazem sentir na sucessão presidencial, com a momentânea desarticulação da pré-candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Por desdobramento, na sucessão mineira, sem Tarcísio, é menor a chance de que o PSD se desloque em Minas para o campo bolsonarista, em apoio ao vice-governador Mateus Simões (Novo). O senador Rodrigo Pacheco (PSD) – que tem convite para se filiar ao União, neste momento não cogita deixar a legenda. Aliados do senador também registram a organização da pré-candidatura dele ao governo de Minas. Ainda sem uma posição pública, interlocutores de Rodrigo Pacheco dão conta de que em setembro haverá um posicionamento.

Lula, que antes do tarifaço seguia nas cordas com dificuldades para a recuperação de indicadores de desempenho de seu governo, ganha tempo e nova chance para a governabilidade: a ameaça externa tende a promover a unidade dos segmentos moderados ao governo em defesa dos interesses nacionais. Com as digitais do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) publicizadas por ele mesmo, a imposição das sobretaxas ao agronegócio e à indústria armamentista – financiadores das maiores bancadas no Congresso Nacional – deu ao Centrão motivos para retardar o desembarque da base do governo e assumir uma postura cautelosa em relação a Jair Bolsonaro.


Apoiar uma ação desse naipe contra o país seria imaginável apenas em três situações: 1ª) interesses pessoais acima dos interesses nacionais; 2ª) desinformação e ignorância obliterando a decisão. As ruas neste domingo demonstraram que a 3ª opção pode ser a combinação das duas primeiras. Também nesta terceira categoria, o governador Romeu Zema (Novo), que oportunamente não participou dos atos que ostentavam faixas em apoio ao tarifaço, voltou a exibir nas redes sociais, com orgulho, a sua biruta de aeroporto: pela segunda vez em uma semana defendeu o Brasil fora do Brics.

Em números: dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços registram que dos US$ 42 bilhões exportados por Minas em 2024, US$ 17,6 bilhões foram para países que fazem parte do bloco, dos quais a China responde por US$ 15,4 bilhões. Segundo maior comprador do estado, os Estados Unidos importaram de Minas US$ 4,64 bilhões em 2024. Antes de ideologias, ampliar o comércio com todos os países deve ser objetivo de todo governo.

A contragosto da família Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, que é a aposta das elites financeiras e produtivas do país para concorrer à Presidência da República, teve o seu desgaste nesse episódio. Foi criticado pelo establishment por ter almoçado com Jair Bolsonaro no dia seguinte ao tarifaço de Trump, o que foi considerado excessivo alinhamento com o ex-presidente, réu em processo por golpe de estado. O governador de São Paulo já havia sido atacado por Eduardo Bolsonaro, quando tentou articular junto à Embaixada Americana negociação para rever as tarifas.

Livrar o ex-presidente da República da cadeia é o foco da família Bolsonaro, que agora atua para dar liga ao campo bolsonarista. Até aqui, reivindica do Supremo Tribunal Federal (STF) o envio à primeira instância da ação da trama golpista, relatada pelo ministro Alexandre de Moraes. A negociação não começou bem; e terminou pior. Por descumprir decisão judicial, Bolsonaro teve a prisão domiciliar decretada nesta segunda-feira. Alexandre de Moraes dobra a aposta. Do Congresso, a família exige a votação de uma anistia ampla, geral e irrestrita aos acusados de envolvimento na tentativa de golpe de estado. Se uma das duas hipóteses não se materializar, Eduardo Bolsonaro não descarta queimar o país. Quem perde: a soberania nacional, os setores produtivos, a balança comercial e a população. Mais por força da rima do que por sugestão bíblica, segue a máxima da família, que não deixa dúvidas em relação a quem ganha com o conflito: “Mateus, primeiro os teus!”.


Discrição

A discrição e a elegância no trato foram as marcas de Corrêa Junior, presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, durante a sua interinamente à frente do governo de Minas, entre 26 e 29 de julho. Com o governador Romeu Zema em férias, o vice-governador Mateus Simões fora do país e o presidente da Assembleia, Tadeu Leite (MDB), em período de recesso parlamentar, Corrêa Junior cumpriu o mandato constitucional, dividindo-se entre as funções no Tribunal de Justiça e do Palácio Tiradentes.

Sem beija-mão

Interlocutores de Corrêa Junior relatam que ele despachou do próprio Tribunal de Justiça, sempre que possível, evitando o “beija-mão” de praxe em interinidades de cargos executivos, em que autoridades e amigos fazem visitas de cortesia sem um claro objetivo. Na Cidade Administrativa, Corrêa Junior presidiu solenidades que guardam relação com o Poder Judiciário, entre elas, o termo de cooperação técnica com o município de Contagem para a atribuição de competência exclusiva de violência doméstica e familiar contra a mulher a uma das varas criminais da cidade.

De saída

O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha está de saída do Republicanos. No meio político, circula que o provável destino seria o PP. Eduardo Cunha não confirma. “Já decidi o partido que vou migrar, apenas não vou anunciar pelo momento”, diz. Cunha, que antes se elegeu pelo Rio de Janeiro, pretende concorrer a deputado federal por Minas Gerais. E justifica, considerando que amadurece a ideia: “Estou com vários empreendimentos comerciais e a minha vida se transferindo para Minas”.

Chumbo trocado

Atacado pelo senador Cleitinho (Republicanos) durante atos neste domingo, em Belo Horizonte, Eduardo Cunha disse: “Com relação a esse cidadão só falo através de ação penal no STF que meus advogados vão propor”. Aliados de Cleitinho estão preparando o “portfólio Cunha” e revelam que o senador não está preocupado com eventual ação penal. Do palanque, ao criticar a decisão de Cunha de concorrer por Minas Gerais, Cleitinho declarou: “Aqui em Minas Gerais, um canalha, um vagabundo que chama Eduardo Cunha que está vindo pra cá, querendo fazer campanha pra deputado federal”.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

Tópicos relacionados:

bolsonaro brasil eua moraes prisao stf tarifaco trump

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay