Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
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Quem visita a guerra...

Por que o governo de Israel convidou autoridades estrangeiras se pretendia bombardear uma potência regional como o Irã?

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Para aqueles que não acompanhavam de perto os movimentos políticos religiosos, talvez tenham se surpreendido quando, a partir da campanha presidencial de 2018, descobriram um sem número de bandeiras de Israel em eventos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), então em campanha. Empunhadas por brasileiros, bandeiras que nos anos seguintes também frequentariam mobilizações anti-Supremo Tribunal Federal (STF) e anti-Congresso Nacional. Preocupadas com a associação daquele país com tais manifestações políticas, num contexto de polarização intensa, houve racha entre entidades nacionais de representação do povo judeu em relação à pertinência do uso de tais bandeiras.


Já não estão no poder Bolsonaro e as suas polêmicas declarações – entre as quais a de que “podemos perdoar o holocausto, não esquecer”. Entretanto, diante da notícia dos bombardeios de Israel a Teerã – e o contra-ataque que se seguiu –, muitos também se espantaram com o destaque da notícia de que 40 autoridades brasileiras, entre elas o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União), estão em visita àquele país.


A primeira pergunta foi inevitável: Por que o governo de Israel convidou autoridades estrangeiras se pretendia bombardear uma potência regional como o Irã, ataque esse que tem potencial para a expansão do conflito em proporções inimagináveis, em ameaça à paz global? Com o espaço aéreo fechado, agora o problema se tornou da diplomacia brasileira, que precisa socorrer governador, prefeitos, vice-prefeitos, secretários que, da clausura dos bunkers, acionam o Itamaraty e o Senado Federal, desesperados para retornar.


Também a caminho de Tel Aviv, parte de uma outra comitiva retardatária de São Paulo, em meio à qual o vice-governador Felicio Ramuth (PSD), viu-se em Paris para a conexão, foi surpreendida com a notícia que o voo fora cancelado e precisaria fazer o caminho de volta ao Brasil. Integrante da mesma comitiva e notificado sobre o fechamento do aeroporto israelense em Barcelona, na Espanha, por poucas horas, Kayo Amado (Podemos), prefeito de São Vicente (SP), escapou do bombardeio: “Livramento de Deus”, desabafou pelas redes sociais. E acrescentou: “O que eu mais quero é voltar pra minha casa”. Informou, então, que havia comprado a passagem de retorno.


Mais instigante do que prospectar o intenso investimento de Israel em convites a autoridades brasileiras e de outros países – por meio dos quais vende serviços de segurança e também as suas razões de estado – é tentar compreender por que, em meio a uma massacrante guerra de Israel contra Gaza – que se desdobra a partir do ataque de outubro de 2023 do Hamas a Israel com desproporcional força, políticos brasileiros aceitam neste momento viagem do gênero. Os mais ácidos chamam-na de “turismo” da segurança. Os custos são bancados pelo governo de Israel. Mas, obviamente, o Estado brasileiro também paga o preço de diárias e da ausência de tais autoridades em seus respectivos estados e municípios, onde deveriam estar cuidando dos verdadeiros problemas que afligem as cidades e estados aos quais servem.


Com o espaço aéreo israelense fechado, não há decolagens nem aterrissagens. Serão estes políticos tão desinformados sobre a realidade do Oriente Médio para visitar um país em meio a uma “guerra” contra a Faixa de Gaza, em relação à qual, há poucos dias a Organização das Nações Unidas (ONU), ao pedir o fim do bloqueio humanitário contra Gaza, aprovou resolução que exige o cessar-fogo e condenou veementemente “o uso da fome” como arma?

 

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É de Ali ibn Abi Talib (600-661), o último califa de Rashidun, o estado sucessor dos domínios políticos do profeta islâmico Muhammad, os ensinamentos contidos no Islã que enfatizam a importância da justiça, o perigo da opressão e a responsabilidade de governantes em proteger oprimidos: “Quem semeia injustiça acolherá arrependimento”.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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