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Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

A nova hospitalidade mineira e os palanques de 2026

Talvez o governador Romeu Zema (Novo), que só confirmou presença poucas horas antes da cerimônia, ainda esteja aprendendo as sutilezas de ser anfitrião de um ad

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O evento foi de boas notícias. John Elkann, chairman da Stellantis, anunciou o mais importante ciclo de investimentos na história da multinacional do setor automotivo no Brasil – R$ 30 bilhões até 2030 – para impulsionar a inovação tecnológica, a transição energética dos veículos Fiat e Citroen nesta nova era de mobilidade. Contratações de 400 engenheiros, além de outros 1.500 funcionários, para atender a demanda do novo Centro de Desenvolvimento de Produto e Mobilidade Híbrida-Flex da América Latina, em Betim. Lula surfou.

 

 

Ao chegar à fábrica, teve calorosa recepção dos funcionários. No auditório da solenidade, idem. O presidente elogiou os compromissos da Stellantis para o desenvolvimento do país e reiterou que o governo federal é parceiro do desenvolvimento das indústrias que investem no Brasil: anunciou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou um financiamento de R$ 274 milhões para a Stellantis.

 


Talvez o governador Romeu Zema (Novo), que só confirmou presença poucas horas antes da cerimônia, ainda esteja aprendendo as sutilezas de ser anfitrião de um adversário político. É uma arte que o povo beduíno tem maestria. Zema começou bem o seu discurso, considerando que Minas Gerais, dentro da perspectiva da energia renovável, construiu nos últimos seis anos “mais do que uma Itaipu” em energia fotovoltaica. Em vez de seguir nesta linha, contudo, foi picado pelo escorpião durante a travessia.


Quase sete anos depois, voltou a comparar o seu governo com o de seu antecessor Fernando Pimentel (PT), o seu refrão predileto. Disse que o estado não cumpria compromissos com prefeitos nem pagava a folha de servidores públicos. Também lançando indiretas ao governo federal, sem a ele referir-se diretamente, Zema afirmou que o seu secretariado é o menor do país, com 12 pastas. O governador disse que embora Minas tenha contribuído com mais de um terço do saldo da balança comercial do país, de US$ 74,5 bilhões em 2024, tem dificuldades em manter “estradas boas” e “ensino adequado”, devido aos juros de uma “dívida bilionária de 30 anos com o governo federal”.

 


O governador voltou a negar reconhecimento ao papel de Lula na sanção do Programa de Pleno Pagamento das Dívidas dos Estados (Propag) – que permitirá zerar os juros da dívida histórica do estado com a União. E como se Minas estivesse suspensa em um vácuo, e não inserida no contexto macroeconômico de uma nação, o governador destacou que ao final deste ano de 2025, ou início de 2026, com a ajuda da Stellantis, o seu governo terá gerado 1 milhão de empregos formais no estado.


Intuindo que o discurso de Zema repetiria o estilo “passivo-agressivo”, Lula escalou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, para falar logo em seguida ao governador. Na Stellantis, o ministro devolveu a provocação: “Quero relatar um fato: a dívida de Minas cresceu nos últimos cinco anos mais de 50%, passando de R$ 110 bilhões em 2019 para R$ 165 bilhões”. Silveira quis dizer que, se Zema pagou prefeitos, pagou o funcionalismo, foi às custas da União: sem pagar as parcelas da dívida ao governo federal por quase seis anos. O governador jogou o “ônus” do problema para Brasília; e, ainda que não reconheça, agora colhe pela mão do governo federal o “bônus” do Propag. Já em Ouro Branco, ao rebater os mesmos argumentos do governador, Silveira partiu para o confronto aberto.


Ao discursar em Betim, Lula deixou implícitas comparações com o governo anterior. E desafiou os presentes a apresentar investimentos em Minas por seu antecessor. Dirigindo-se casualmente ao governador Romeu Zema, o presidente lembrou-lhe que só economia que cresce gera empregos: “Porque tenho muita sorte e graças à minha equipe, precisou eu voltar à presidência para que a economia voltasse a crescer acima de 3%. Zema não lembra há quanto tempo a economia não crescia a 3% (...) Precisou entrar um cara de sorte, com uma equipe de sorte, para que a economia voltasse a crescer dois anos seguidos”. Toda hora é hora. 2026 é agora. Aos mineiros, a sutileza do poeta: “Quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora?”

 

 

Confiança

 

De olho na conjuntura global, John Elkann, chairman da Stellantis, renovou a confiança no Brasil: “Vemos os movimentos que podem alterar a correlação de forças entre nações e blocos. Nesse cenário, a gente vê o Brasil como referência estável, em cenário internacional de disputas e incertezas. O país tem posição sólida no agronegócio internacional e é destacado produtor e exportador de matérias-primas estratégicas. Tenho certeza de que o país utilizará essa estabilidade para fortalecer a economia e avançar no desenvolvimento humano. O Brasil continuará a ser um dos pilares importantes para a Stellantis no mundo e estamos comprometidos com o futuro do país”.

 

 


Esqueceram de mim

 

Ao saudar a direção da Stellantis e as autoridades presentes na solenidade de inauguração do Centro da Stellantis de Desenvolvimento de Produto e Mobilidade Híbrida-Flex da América Latina, o prefeito de Betim, Heron Domingues Guimarães (União), esqueceu-se de mencionar o governador Romeu Zema. Citou Lula, a primeira-dama Janja, o vice-presidente Geraldo Alckmin, ministros, a prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), o prefeito em exercício de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União) e o presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB).

 

 


Bem mais leve

 

Para quebrar o climão entre Romeu Zema e Alexandre Silveira, que chamou para si o confronto político, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) tratou de fazer um discurso descontraído em Betim. Depois de mencionar medidas do governo federal voltadas para a geração de empregos, pediu licença para fazer um trocadilho. E saiu-se com esta: “Esse é um dia iluminado, essa é uma cerimônia iluminada. Stellantis, no termo latino, vem de estelo, que é iluminar com as estrelas. Vamos descontrair: como estamos falando de astros e de estrela, faço essa pergunta a vocês. Por que a estrela não mia? Porque astronomia.” Arrancou risos da plateia. Logo depois, Alckmin cumprimentou Romeu Zema.

 

 

Emendas

 

A Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) aprovou em segundo turno, ontem, o projeto de lei, de autoria do Executivo, que autoriza o retorno de mais de R$ 40 milhões do Executivo ao Legislativo. Desse valor, R$ 38,8 milhões correspondem à anulação de emendas individuais impositivas apresentadas durante a tramitação do projeto de lei que fixou o orçamento municipal para 2025. Outro R$ 1,8 milhão será destinado ao restabelecimento de emendas impositivas vetadas por erro de alocação. “Ano passado, os vereadores aprovaram um número muito grande de emendas, e várias dotações foram anuladas. A PBH, então, corrigiu, através do veto parcial do prefeito, que foi mantido essa semana. Esse projeto termina de corrigir o orçamento da cidade e também recompor o orçamento da Câmara”, explica o líder do prefeito na Câmara, Bruno Miranda (PDT).

 

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Municipalização

 

O prefeito em exercício de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União), afirmou que, para evitar pedágios, já oficializou ao governo de Minas o pedido de municipalização do trecho da MG-010 que passa por Belo Horizonte em direção ao Vetor Norte. A cobrança de pedágio no trecho está prevista no edital de concessão do Vetor Norte da Grande BH. “Já foi enviado (o pedido) na semana passada. Se o governo do estado quiser aceitar nossa proposta, que é municipalizar a MG-10 no trecho que está dentro de Belo Horizonte, nós vamos aceitar com muito bom grado. E, neste caso, não terá nenhum tipo de tarifa sendo cobrada dentro da cidade de Belo Horizonte”, afirmou.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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