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Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

Melhor confundir do que esclarecer

O termo "conservador" empregado por tais lideranças políticas costuma ser um eufemismo para um reacionarismo que retrocede ao Velho Testamento

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A depender da unidade da federação por onde se passeia, haverá vozes do Novo tão ou mais radicais do que um extremista do PL de raiz bolsonarista. Não apenas no combate à dita “esquerda” – já que no extremo à direita do espectro ideológico todas as legendas são classificadas como “esquerda”.

 

Assim como bolsonaristas, com alguma frequência integrantes do Novo se definem como “liberais” e “conservadores”. É uma combinação de certa forma esdrúxula: querem o Estado mínimo para programas sociais e máximo para benefícios fiscais ao empresariado; ao mesmo tempo em que alardeiam a liberdade irrestrita de expressão - e usam-na inclusive para negar a ciência e disseminar a desinformação – não hesitam em censurar manifestações culturais e artísticas sempre que estas entram em choque com as suas concepções de mundo.

 

O termo “conservador” empregado por tais lideranças políticas costuma ser um eufemismo para um reacionarismo que, no campo dos valores, retrocede ao Velho Testamento.

 


Ainda que se possa argumentar que no Novo, em Minas, sejam exceções extremistas de índole bolsonarista – a autodefinição de “centro direita” que mais recentemente, em uníssono, vem sendo adotada pelo governador Romeu Zema (Novo) e pelo vice-governador Mateus Simões (Novo) põe pressão demais sobre os conceitos. Compreende-se que estrategicamente orientados para as eleições de 2026, queiram se distanciar da extrema direita. Com maior amplitude para transitar no espectro ideológico, o centro tem facilidade para atrair coligações.

 


Enquanto Zema e Simões forçam os conceitos para anunciar que querem caminhar para o centro, o senador Cleitinho (Republicanos) e o seu irmão, deputado estadual Eduardo Azevedo (PL), agarram a narrativa da extrema direita.

 

Cleitinho é pré-candidato ao governo de Minas e terá o apoio do PL e de Jair Bolsonaro. Em vídeo publicado neste domingo, os dois irmãos fizeram coro com o deputado estadual Bruno Engler (PL), que atacara na semana passada os livros didáticos da rede de ensino de estado, alegando “doutrinação ideológica”.

 

Engler criticou material produzido pela Editora FTD, que atua há 120 anos nesse segmento, por não concordar, por exemplo, com a informação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro defendera, durante a pandemia, o uso de medicamentos sem eficácia comprovada. Agora ele nega o negacionismo.


Em outra frente, neste domingo, Cleitinho e Azevedo atacaram a mesma editora, entre outras, porque ela teria associado o nazista Adolf Hitler à extrema direita. Segundo ambos registraram em vídeo, o nazista seria “de esquerda”. Alegaram: “quando se fala de ditadura, isso é de governo de esquerda, comunista”.

 

A desinformação disseminada pela extrema direita mundo afora escalou em janeiro na Alemanha: Alice Weidel, a candidata a chanceler federal pela legenda AfD (Alternativa para a Alemanha), classificada de extrema direita pelas autoridades de segurança do país, em conversa com Elon Musk, em 9 janeiro, segue trabalhando para naturalizar a presença, no berço do nazismo, de sua legenda na disputa neste fevereiro para o governo alemão: segundo ela, Hitler seria comunista, de esquerda.


Com o apoio dos algoritmos, a história vai sendo reescrita. O fato histórico: tanto o nazismo alemão quanto o fascismo italiano emergiram após a Primeira Guerra Mundial contra o socialismo marxista, após a Revolução de Outubro de 1917.

 

O Ocidente temia a escalada do comunismo na Europa. Hitler usou “socialismo” no nome de seu partido nazista para atrair as massas trabalhadoras alemãs: chamou-o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, NSDAP).

 

O nacionalismo, ou seja a revolução em defesa daquilo que é nacional e próprio dos alemães – e aí se desenvolveu a teoria do arianismo – foi a força fundamental do nazismo. Talvez Cleitinho e seu irmão desconfiem disso. Mas em tempo pré-eleitoral...



Ação contra o estado


Em decorrência da resistência da Polícia Militar em implementar câmeras corporais e dada a recusa em informar os dados de projeto-piloto que avaliou o impacto dos equipamentos sobre a letalidade policial, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) propôs ação civil pública contra o estado de Minas Gerais. A informação foi antecipada por esta coluna em dezembro de 2024.

 

Na ação, o MPMG requer a implementação e a utilização, num prazo de até dois anos, de câmeras operacionais portáteis por todos os policiais militares com atuação no policiamento ostensivo no estado. O processo também requer que as 1.642 câmeras corporais já adquiridas sejam utilizadas em atividades de policiamento ostensivo, especialmente em unidades com maiores registros de interações com uso da força. A ação indica multa diária de R$ 50 mil ao comandante-geral da PM pelo descumprimento da medida.


Recusa


Com a perspectiva de aprimorar o controle externo da atividade policial, o Ministério Público desenvolveu um projeto-piloto, implementado entre 2022 e 2023, com aquisição de 1.642 câmeras operacionais portáteis, para avaliar o impacto do uso dos equipamentos sobre o emprego da força policial, em particular, de mortes em confronto policial. Foram dispendidos R$ 10 milhões nesse projeto-piloto, R$ 4 milhões oriundos do Fundo Especial do Ministério Público (Funemp) e R$ 6 milhões do Tesouro Estadual.

 

Em agosto de 2024, o Ministério Público notificou a Polícia Militar para que repassasse os dados coletados num prazo de 15 dias. Sem receber resposta, e dada a resistência da Polícia Militar, foi proposta a ação.


Aumento da letalidade


Minas Gerais, estado com o segundo menor índice de letalidade policial, registra perigoso aumento de mortes decorrentes de intervenções policiais: entre 2018 e 2024, cresceram de 104 para 156, uma variação de 59,1%, segundo levantamento realizado em 9 de dezembro de 2024 pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos e Apoio Comunitário (CAO-DH).

 

Na Bahia, estado com maior número absoluto de letalidade policial, a implantação de câmeras em 2024 reverteu a curva ascendente de mortes por intervenção policial, registrando uma queda de 8,5% em relação a 2023.


Na contramão


Enquanto o PSB nacional se prepara para ratificar o apoio ao governo federal e à reeleição de Lula com a posse do prefeito do Recife João Campos na presidência da legenda; em Minas, o partido anda de lado. O presidente estadual do PSB, deputado estadual Noraldino, é o novo líder do Bloco Avança Minas, de sustentação ao governo Zema. Com 22 parlamentares, integram o bloco, além do PSB, PSDB, Cidadania, MDB, PRD, PDT, Avante, Republicanos e Solidariedade.

 

 

Apostas


O senador Romário (PL-RJ), relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação das Apostas Esportivas, apresenta o seu parecer nesta terça-feira. Instalada em abril de 2024, a CPI presidida pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO) investiga as denúncias de manipulação em jogos de futebol em decorrência das apostas esportivas.

 

As manipulações envolviam jogadores, dirigentes e empresas de apostas. De abril a dezembro de 2024 foram realizadas 31 reuniões com jogadores, dirigentes e árbitros. Ainda nesta terça, também será apresentado requerimento de informações à Polícia Federal sobre a transferência internacional do empresário William Pereira Rogatto.

 

Conhecido como “rei do rebaixamento”, Rogatto foi ouvido pela CPI em outubro e está preso desde novembro, pela Interpol, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

 

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Prefeitos


Tem início nesta terça-feira e se estende até quinta-feira, em Brasília, o Encontro Nacional de Prefeitos e Prefeitas. Promovido pelo governo federal, o evento, que pretende aproximar ministérios e órgãos governamentais dos municípios, terá a participação do presidente Lula e ministros.


Vetos do Propag

Governadores do Sul e Sudeste vão se reunir nesta quinta-feira com os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) para discutir vetos do presidente Lula ao Propag.

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